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E-commerce de móveis do interior de SC mira os R$ 250 milhões sem ter produtos no estoque

Mensalmente, equipe lida com 35.000 pedidos, feitos diretamente pelos fornecedores e entregues na casa dos clientes

Equipe da Panorama Móveis: cerca de 45 funcionários cuidam da operação com 35.000 pedidos por mês (Panorama Móveis/Divulgação)

Equipe da Panorama Móveis: cerca de 45 funcionários cuidam da operação com 35.000 pedidos por mês (Panorama Móveis/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 09h35.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2024 às 15h01.

O cliente entra no site da empresa, compra uma mesa com cadeiras e dali duas semanas, as recebe em casa. A nota fiscal é da vendedora, a entrega é feita customizada com as marcas da varejista, tudo na maior tranquilidade. Mas esse produto, na verdade, nunca passou pela loja -- nem pelo seu depósito. Ela foi entregue diretamente da indústria fornecedora, num modelo de negócio conhecido como dropshipping. 

No dropshipping, quando um cliente faz um pedido, o comerciante compra o item de um terceiro, geralmente um atacadista ou fabricante, que o envia diretamente ao consumidor final. Isso elimina a necessidade de gerenciar estoque ou lidar com remessas.

É assim que trabalha a Panorama Móveis, e-commerce de Ibirama, no interior de Santa Catarina. Criada em 1991 como uma loja de eletrônicos, ela migrou para o mundo moveleiro no final dos anos 2000. Em 2015, depois de uma mudança de posicionamento, passaram a operar pelo modelo de dropshipping. 

Agora, se prepara para atingir os 250 milhões de reais em faturamento. Se a meta se concretizar, será um crescimento próximo a 50% em relação a 2023, quando a receita foi de 170 milhões de reais. Um crescimento auspicioso para um setor abalado após o boom da pandemia. 

“Estamos inseridos num mercado constantemente impactado pela economia e também pelas decisões voláteis do consumidor, o que, naturalmente, faz  com que as empresas do setor busquem cada vez mais eficiência”, diz o CEO da Panorama Móveis, Alisson Flores. “Somos hoje um dos 10 e-commerces do setor mais visitados do Brasil, temos conquistado um market share relevante frente à concorrência e somos um dos times mais enxutos do mercado”. 

Qual a história da Panorama Móveis

A loja de móveis começou, na verdade, vendendo eletrônicos. O pai de Alisson, Adilson Flores, foi gerente do banco Bamerindus por 16 anos em Blumenau, no Vale do Itajaí, ao norte de Florianópolis. Quando “cansou da vida de banco”, adquiriu um negócio.

O negócio foi a Eletrônica Panorama, uma empresa de consertos e instalações de antenas parabólicas e TVs por assinatura. No início dos anos 2000, passaram também a desenvolver softwares de gestão interna para indústrias e varejos. 

Os móveis entraram na vida da Panorama por volta de 2009. Na época, se mudaram para um sala maior, com mais espaços para vender coisas, e optaram por vender itens para casa, como algo paralelo. Foi assim por cerca de três anos. Em 2012, foram para uma área ainda maior e focaram no setor.

Pouco depois, passaram a pesquisar possibilidades de atuar na internet. Na época, pegaram o e-commerce de uma concorrente e perceberam que poderiam vender mais barato. Foi o gatilho para migrarem para o mundo digital. Foi ali também que houve o pulo do gato.

No lugar de um grande estoque, resolveram investir no braço de desenvolvimento de software e gerar uma ferramenta de gestão que permitisse desenvolver o dropshipping. 

“Pegamos um depósito e o usamos para montar uma equipe que pudesse desenvolver a parte de atração de clientes, relacionamento, marketplace”, diz.

O braço de tecnologia da Panorama, então, começou a conectar esses sistemas de vendas do e-commerce direto no sistema de pedidos dos seus fornecedores, todos nacionais. E a entrega passou a ser feita por terceirizadas também. 

“Se não tivéssemos feito algo diferente, estaríamos limitados à região de Ibirama”, diz Flores. “Chegamos a ter mais de 100 fornecedores. Depois, quando aprimoramos o sistema de gerenciamento, reduzimos esse número, mas focamos naquelas fornecedores com mais pedidos”. 

Como foi o crescimento da Panorama Móveis

Hoje, são cerca de 35.000 pedidos por mês, geridos por cerca de 45 funcionários.

Além do Panorama Móveis, a empresa, por meio da Panorama Sistemas, vende para outras indústrias e varejos a sua plataforma de e-commerce.

“É preciso ter muita atenção com a parte fiscal”, diz o empresário. “A indústria precisa ter uma nota para mim, eu preciso ter uma nota para o cliente, e ainda é preciso ter outra nota da indústria para o transporte. Tudo isso é muito complicado quando ganha escala. Manualmente, fica impossível”. 

Durante a pandemia, com o boom no setor moveleiro, a empresa viu o faturamento saltar de 30 milhões de reais para 100 milhões de reais. 

“Como éramos um dropshipping, como éramos muito automatizados, se eu vendesse 1 milhão ou 100 milhões, não precisava de muito mais pessoas”, afirma. “O que precisávamos mesmo era de pessoas no atendimento ao cliente”.

Mas, claro, houve dificuldades no caminho. Uma delas foi não ter fornecedor suficiente para atender toda a demanda. E algumas questões de logística, que também ficaram sobrecarregadas. Sobre o primeiro tópico, atualizações no sistema permitiram mais integrações. Sobre o segundo, fundaram uma transportadora própria, que busca o móvel no fornecedor e o deixa num depósito para o “last-mile”. Também abriram um depósito em São Paulo, área de quente demanda no setor. 

Qual o plano de expansão da Panorama Móveis

Para crescer 50% neste ano e bater os 250 milhões de reais em faturamento, a Panorama vai apostar mais em sua marca própria. Produzida por uma indústria terceirizada, a ideia é usar dessa ferramenta para conseguir lidar melhor com as margens -- um desafio para quem trabalha com dropshipping. 

Também vão focar ainda em certa expansão dos fornecedores, ainda dentro do setor moveleiro. No futuro, porém, não descartam a possibilidade de entrar em outros setores, como o eletrônico, que foi onde começaram. 

“Ainda estamos longe do nosso teto”, diz. “Se quiséssemos crescer mais, poderíamos. Estamos longe de concorrentes nossos. Mas não queremos alavancar as dívidas e nem captar dinheiro. Por isso, vamos crescendo ao nosso próprio passo”. 

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