Negócios

Doukeris sucede Brito na AB InBev e encerra ciclo de 15 anos

Mudança foi anunciada após empresa apresentar forte recuperação em balanço do 1º trimestre

Carlos Brito (Francois Lenoir/Reuters)

Carlos Brito (Francois Lenoir/Reuters)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 6 de maio de 2021 às 07h38.

Última atualização em 6 de maio de 2021 às 08h14.

Carlos Brito, que transformou a Anheuser-Busch InBev na maior cervejaria do mundo durante 15 anos no comando, deixará o cargo de CEO em julho para ser substituído pelo chefe do grupo na América do Norte, conforme muda o foco das aquisições para o aumento das vendas.

A cervejaria das cervejas Budweiser, Corona e Stella Artois disse na quinta-feira que seu conselho elegeu por unanimidade o também brasileiro e ex-chefe de vendas Michel Doukeris para suceder Brito, a partir de 1º de julho.

O presidente do conselho de administração Martin Barrington disse que a experiência de Doukeris em marcas, consumidores e inovação torna o empresário de 48 anos a escolha ideal para a próxima fase da empresa.

Essa fase deve ser mais focada em impulsionar as vendas de mais de 500 marcas do que em aquisições em um mercado cervejeiro já concentrado.

"Isso não deve ser um choque para os investidores. Michel foi o principal candidato interno", disse Trevor Stirling, analista de bebidas da Bernstein Securities, acrescentando que Doukeris tem um histórico impressionante, principalmente na Ásia.

As ações da AB InBev subiram cerca de 4% no início do pregão na bolsa de Bruxelas.

Brito, hoje com 61 anos, foi uma peça fundamental no projeto do empresário Jorge Paulo Lemann de montar a maior companhia cervejeira mundo. O executivo liderou todas as fusões e aquisições que levaram a AB InBev, controlada por Lemann, à dominação do mercado global. O executivo começou sua trajetória na companhia na antiga Brahma, no fim dos anos 1980, que passou pela criação da AmBev, na década seguinte.

Durante sua gestão, a empresa adquiriu a Anheuser-Busch em 2008, acrescentou o Grupo Modelo do México e em 2016 gastou mais de 100 bilhões de dólares na SABMiller, então a segunda maior cervejaria do mundo.

A aquisição trouxe mais mercados latino-americanos e a viu entrar na África pela primeira vez. "Juntos, construímos a cervejaria líder e mais lucrativa do mundo, com as melhores marcas e, o mais importante, as melhores pessoas”, disse Brito no comunicado sobre seu desligamento.

No entanto, as compras também elevaram a dívida líquida da AB InBev para  82,7 bilhões de dólares no final de 2020, cerca de 4,8 vezes o lucro principal (EBITDA).

Sua participação é agora menos da metade do pico do final de 2015, com a cerveja artesanal afetando suas vendas nos EUA e as dificuldades no Brasil e na África do Sul.

"Brito foi o arquiteto que liderou e transformou a AB InBev na empresa líder mundial de cerveja e uma empresa líder global de bens de consumo embalados, integrando com maestria os muitos negócios que compõem a AB InBev hoje", disse Barrington.

Quem é Michel Doukeris?

Natural de Lages, Doukeris estudou engenharia química na Universidade Federal de Santa Catarina e fez MBA na Fundação Getúlio Vargas. Começou começou sua carreira na AB InBev em 1996 e foi sendo promovido até liderar a unidade da empresa na China, um motor de crescimento importante, para depois comandar os negócios na Ásia-Pacífico e, em seguida, se tornar diretor de vendas.

Em cada uma de suas funções, o executivo defendeu a inovação de produtos - como a Bud Light Seltzer, colocada à venda no ano passado - e o investimento em marketing por trás de marcas básicas como a Budweiser. Sob sua liderança, as vendas na divisão da América do Norte aumentaram pela primeira vez em seis anos.

Forte recuperação no 1º trimestre

A empresa reportou nesta quinta-feira, 6, os lucros do primeiro trimestre acima das expectativas, mesmo com medidas de restrição fechando o setor de hospitalidade em grande parte da Europa e uma proibição de vendas de álcool por um mês na África do Sul.

As vendas de cerveja aumentaram 64% na Ásia-Pacífico, um ano depois do bloqueio inicial do coronavírus na China, um importante mercado da AB InBev.

Eles aumentaram em mais de 10% na América Latina, superando o crescimento da indústria em dois de seus principais mercados, Brasil e México. Na Europa, as vendas de suas próprias cervejas ficaram estáveis.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) aumentou 14,2% em uma base comparável e removendo o impacto da conversão de moeda para 4,27 bilhões de dólares, superando a previsão média de 6,6% em uma pesquisa compilada pela empresa.

Este número deve aumentar entre 8% e 12% em 2021, com crescimento de receita maior do que isso, com base em vendas mais altas de cerveja, aumento de preços e uma mudança no gosto do consumidor para marcas premium, disse a AB InBev.

Acompanhe tudo sobre:ab-inbevAmbevCervejas

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades