Negócios

Principal marca de açúcar dos EUA diversifica usando estévia

Domino Sugar está lançando seu primeiro produto natural, sem calorias, extraído da planta estévia no Paraguai


	Muda de estévia em Assunção: planta é uma alternativa para adoçar bebidas e alimentos
 (Jorge Adorno/Reuters)

Muda de estévia em Assunção: planta é uma alternativa para adoçar bebidas e alimentos (Jorge Adorno/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de outubro de 2014 às 16h36.

Nova York - A companhia dona da principal marca de açúcar nos Estados Unidos, a Domino Sugar, está lançando seu primeiro produto natural, sem calorias, extraído da planta estévia no Paraguai, um sinal de que o produto alternativo para adoçar bebidas e alimentos pode ameaçar a demanda por açúcar bruto.

Em menos de uma década, o pó de estévia com sabor doce abocanhou um grande pedaço do mercado global de 1,3 bilhão de dólares para adoçantes artificiais, com os consumidores mais preocupados em adotar hábitos saudáveis.

O apetite dos consumidores por adoçantes artificiais e pelo xarope de milho nos EUA diminuiu em meio ao crescente interesse em alimentos percebidos como naturais.

As poderosas corporações que dominam o mercado mundial de açúcar também estão enfrentando desaceleração da demanda, especialmente nos Estados Unidos, por açúcar refinado, que é usado em tudo, desde o café até bolos.

A desaceleração dos EUA se deve em parte a preocupações sobre altas taxas de obesidade e diabetes. A resposta dos grandes do açúcar? 

Oferecer novos produtos não açucareiros que não são calóricos, que são adequados para quem sofre de diabetes e, mais importante, são vistos como uma alternativa aos adoçantes artificiais mais atraente para consumidores preocupados com a saúde.

"Se você olhar para o corredor dos adoçantes em qualquer supermercado, existem produtos de estévia lá. O que quer que os consumidores estejam procurando, nós queremos proporcionar", disse o presidente e CEO da Domino, Brian O'Malley, à Reuters.

O ASR Group, que vende a Domino Sugar e é a maior refinaria do mundo de açúcar de cana, vai lançar o seu novo produto no final do ano - será a primeira a fazer unicamente a partir da planta, em vez de uma mistura de açúcar e estévia.     

Para o ASR Group, que também detém a marca Tate & Lyle, essa é um ousada jogada: o açúcar representa 98 por cento do seu negócio.

Mas o baixo custo de produção da estévia e relativamente altas vendas de varejo são um ponto importante para empresas de alimentos.

Depois de observar interesse crescente há quatro anos, a Imperial Sugar da Louis Dreyfus tem suas próprias misturas de açúcar e estévia, e a Truvia, da Cargill, é líder no mercado dos EUA depois de entrar na briga em 2008.

A Archer Daniels Midland Co, um jogador importante no mercado de xarope de milho nos EUA e player global de commodities, completou este mês uma aquisição da Wild Flavors de 3 bilhões de dólares, olhando para mercados de rápido crescimento de produtos "naturais".

Em verdade, a demanda ainda é pequena em comparação com o mercado mundial de açúcar, com consumo de mais de 170 milhões de toneladas.

Também é ainda um ingrediente raro em alimentos nos EUA - apenas 1,5 por cento de novos alimentos lançados nos primeiros nove meses de 2014 continham estévia, segundo o Datamonitor Consumer.

Alguns especialistas em saúde alertam que o adoçante contém aditivos, bem como o extrato da planta. Perguntas também permanecem se o seu sabor pode corresponder realmente ao sabor de açúcar.

Ainda assim, os consumidores americanos vão comer e beber cerca de 597 toneladas de estévia nos alimentos processados ​​e bebidas em 2018, com a demanda subindo de míseros 14,5 toneladas em 2008, de acordo com estimativas do grupo de pesquisa de mercado Euromonitor International.

No mesmo período, a demanda do país para o adoçante artificial aspartame deve cair em um terço para 3.243 toneladas, segundo as projeções do Euromonitor.

O consumo de açúcar dos EUA tem ficado estagnado - o americano médio consumiu cerca de 68 libras-peso de açúcar refinado no ano passado, ante um pico de mais de 102 libras em 1972, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Os adoçantes naturais sem calorias "definitivamente conquistaram espaço de fontes de açúcar tradicionais", disse Steve French, sócio da firma de pesquisa de mercado Natural Marketing Institute, em Harleysville, Pennsylvania.

"Não é que nós estamos usando mais adoçantes como população, estamos apenas mudando o uso para diferentes tipos de adoçantes."

Raízes no Paraguai

As raízes da estévia estão no Paraguai e Brasil, onde as pessoas usaram folhas da planta para adoçar alimentos durante séculos.

Tornou-se um grande negócio nos Estados Unidos por meio do vendedor de produtos médicos chamado James May, que provou o estévia em 1982, quando um voluntário do Peace Corps lhe ofereceu algumas folhas do Paraguai.

"Depois de prová-los, dei a ele as minhas economias para voltar para o Paraguai e enviar-me algumas folhas de estévia ", disse ele à Reuters.

Ele agora dirige a Wisdom Brands Natural, em Gilbert, Arizona, cujo adoçante é usado em molhos para saladas e sorvetes.

Seu grande avanço veio em 2008, quando os reguladores dos EUA aprovaram a estévia como adoçante depois de mais de duas décadas de lobby. Até então, ele havia sido usado em alimentos, mas não como um adoçante.

Cerca de 17 por cento dos consumidores norte-americanos entrevistados em 2013 pelo Natural Marketing Institute disseram que usam estévia, contra apenas 4 por cento em 2008.

Pouco menos de metade dos consumidores usam açúcar, abaixo de 57 por cento da pesquisa de 2008.

Quão Natural é "Natural"?

Embora grande parte do apelo de estévia é de que ela é natural, alguns críticos apontam que a maioria dos produtos comercializados incluem mais de açúcar de milho e outros ingredientes do que a própria planta estévia, e que o termo "natural" é um território complicado para as empresas de alimentos.

Em 2013, a Cargill concordou em pagar 5 milhões de dólares para resolver uma ação coletiva em um tribunal do Estado de Minnesota, em processo que alegou que sua marca Truvia não deveria ser comercializada como "natural", porque é altamente processada ​​e utiliza ingredientes geneticamente modificados.

A porta-voz da Truvia, Katie Woolery, disse que o produto é feito a partir de ingredientes naturais e atende a todas as diretrizes legais.

Mesmo assim, outros estão apostando na estévia como sendo mais do que apenas uma moda passageira nos EUA. No Japão, onde o produto tem sido usado desde a 1970, estabeleceu-se em um mercado em bebidas de esportes.

"O açúcar pode estar em perigo. Se há um produto que pode ter o sabor parecido com o do açúcar, há potencial para que esse produto tomar mercado", disse Jeff Stafford, analista da Morningstar, em Chicago.

Alguns fabricantes de alimentos e bebidas consumidas em casa já têm adotado o adoçante sem calorias: a produtora de iogurte Chobani colocou estévia em sua primeira marca "light" de iogurte, Simply 100, e a PepsiCo está lançando um novo refrigerante neste mês que usa o produto.

Acompanhe tudo sobre:acucarAgriculturaAgronegócioCommoditiesEstratégiagestao-de-negociosInvestimentos de empresasTrigo

Mais de Negócios

Superlógica Next 2024: parceria com OpenAI traça o futuro do mercado condominial e imobiliário

A Black Friday 2024 vai bombar? E-commerce fatura R$ 1,3 bilhão em quarta-feira recorde

Com novas soluções para maior produtividade de hortaliças e frutas, BASF comemora resultados de 2024

Café de açaí? Essa empreendedora criou uma marca da bebida e hoje exporta para EUA e Alemanha