Uma das fábricas da Nestlé: com a platafirma D Gusta, marca passou a vender cápsulas diretamente para o consumidor, um golaço em tempos de isolamento social e fechamento de cafés (Bloomberg/Getty Images)
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Publicado em 22 de setembro de 2021 às 09h00.
Em 51º lugar no ranking global de competitividade digital, que considera 63 países, o Brasil precisa, urgentemente, dar um salto na implementação da chamada Indústria 4.0.
Essa é a bandeira do executivo José Rizzo Hahn Filho, CEO e fundador da Pollux, empresa catarinense especializada no fornecimento de soluções para otimizar processos de fabricação e logística, incluindo robôs, máquinas conectadas pela internet das coisas, softwares de automação e inteligência artificial.
Desde abril, a Pollux passou a fazer parte da divisão Industry X da Accenture, uma aquisição que ajudou a constituir um ecossistema end to end – do sensor da máquina à análise de dados pela nuvem. “Só a Accenture oferece essa solução completa de integração”, diz Rizzo.
As indústrias que passam por este processo percebem uma mudança que atinge até mesmo sua relação com o consumidor. “Não se trata de investir para obter um ganho pontual de eficiência”, afirma Rizzo. “É uma mudança de modelo de negócios e as empresas que se modernizaram estão abrindo uma margem importante, que pode garantir sua sobrevivência”.
A marca de cafés Dolce Gusto, da Nestlé, passou por uma revisão geral de processos com a ajuda da Accenture/Pollux. Seu desafio inicial era oferecer ao consumidor uma experiência mais personalizada, com maior poder de escolha.
“Geralmente quando o marketing fala em personalização os engenheiros tremem, porque em uma fábrica tradicional é difícil flexibilizar a manufatura. Cada escolha implica uma mudança na linha de produção”, explica o fundador da Pollux. “A Indústria 4.0 está aí para mudar esta realidade, aplicando robótica e diversas outras tecnologias para que a customização em massa seja uma realidade, sem afetar a produtividade”.
Donir Ribeiro da Costa, diretor de engenharia da Nestlé, explica que o que motivou o desenvolvimento com a Pollux/Accenture foi a busca de uma alternativa para aumentar a produtividade com a automação das linhas. “Nessa jornada de transformação digital, nossa empresa vem buscando parceiros estratégicos para desenvolver soluções customizadas para atender nossas linhas de produção, suportando melhoria de qualidade, eficiência e segurança.”
Para alcançar o objetivo, a Nestlé investiu na robotização das máquinas e na comunicação entre elas, a fim de diminuir custos de manutenção. Mas o que fez mais diferença neste caso foi o redesenho do contato com o consumidor, que passou a poder comprar direto pelo site D Gusta. “Um golaço em tempos de isolamento social e cafés fechados", comenta Rizzo. Uma alternativa para a compra das cápsulas nos supermercados, que continuou acontecendo.
“A chave do sucesso foi desenvolver uma solução customizada com especialistas para atender à demanda do negócio. É um projeto original do Brasil”, destaca Donir.
A compra direta pelo site da Dolce Gusto faz com que o clique no carrinho virtual acione o robô na operação do parceiro logístico da Nestlé, localizado próximo a Barueri, em São Paulo. Com isso, o processo reduz a necessidade de uma série de intermediários no caminho. E o risco financeiro também diminui; afinal, só é o produzido o que já está vendido.
A Nestlé é mais um exemplo de que, seja em momentos difíceis como o da pandemia, seja para estar preparado para competir com startups que entram transformando o jeito de se relacionar com o cliente, pensar na transformação da fábrica é, antes de tudo, um imperativo para a sobrevivência dos negócios.