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Do bullying pelo cabelo crespo a uma empresa de cosméticos que deve faturar R$ 400 mil em 2025

Depois de ter depressão e quase ficar careca, Brenda Mota criou a marca Filhas de Maria com apenas R$ 70 – a aposta é unir ancestralidade, ciência e tecnologia para valorizar fios crespos, cacheados, ondulados e em transição

Brenda Mota, fundadora da Filhas de Maria: “Precisamos ser protagonistas da nossa história, nos mantendo firmes em nosso propósito”

Brenda Mota, fundadora da Filhas de Maria: “Precisamos ser protagonistas da nossa história, nos mantendo firmes em nosso propósito”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 23 de julho de 2025 às 10h00.

Durante muitos anos, a piauiense Brenda Mikaelly Mendes Ferreira Mota enxergou seus cabelos cacheados como um problema. O bullying sofrido no ensino médio afetou sua autoestima, desencadeou um quadro de depressão e resultou em uma queda capilar severa que quase a deixou careca. A virada veio aos 23 anos, em 2017, quando transformou a dor em propósito e criou a Filhas de Maria, marca de cosméticos voltada para fios crespos, cacheados, ondulados e em transição, que projeta faturar R$ 400 mil em 2025 – crescimento ancorado na ampliação estratégica do modelo de negócios para o B2B2C.

Sem encontrar produtos eficazes para seu tipo de cabelo e ouvindo as mesmas queixas de outras mulheres, decidiu se especializar no assunto. Na época, conciliava a universidade com aulas de reforço para estudantes – de química, física e matemática – para custear transporte e alimentação. “De forma autodidata, busquei alternativas científicas para reverter a queda. Conheci a medicina ayurvédica, mergulhei em artigos científicos internacionais e participei de fóruns sobre calvície”, afirma. Com o tempo, se especializou em Cosmetologia e Terapia Capilar e, atualmente, está cursando Ciência de Dados e Inteligência Artificial.

Como reflexo do trabalho, vem acumulando conquistas e premiações: em 2022, participou do Young Leaders of the Americas Initiative, em Washington (EUA) e venceu o Academy for Women Entrepreneurs (AWE); e em 2024 foi a primeira colocada na batalha de startups da Campus Party Piauí. Além disso, foi a única brasileira convidada para participar do 19º Summit Mundial dos Laureados do Prêmio Nobel da Paz, que ocorreu em setembro do ano passado, no México.

O resgate da identidade e o início no empreendedorismo

O produto fez sucesso entre a família, mas Brenda demorou um pouco para perceber que tinha em mãos um negócio com potencial. “Sentia vergonha de dizer que havia criado o óleo porque o mercado não oferecia soluções específicas para a minha tipologia capilar”, conta.

Ao participar de movimentos de militância entendeu a importância de assumir os fios naturais. “Resgatei minha força interna, a mesma da jovem que havia superado tantos limites para sobreviver. Passei a usar meu cabelo com mais volume e a vocalizar pautas sobre autoestima, amor-próprio e consumo consciente”.

Assim nasceu o Óleo Filha da Maria, que hoje é o carro-chefe da marca. O nome da empresa homenageia a mãe e a avó, ambas Maria, e de certa forma toda a sua ancestralidade. “Iniciei com apenas R$ 70, mas muita coragem e o intuito de me conectar com mulheres que, assim como eu, se sentiam invisibilizadas pelo mercado. Sabia que não venderia apenas um cosmético, mas a chance de alguém se sentir representada, cuidada e valorizada”, afirma.

Pesquisa e treinamentos para avançar

Para estruturar a marca, Brenda buscou capacitações – tanto sobre aspectos de gestão e finanças, quanto sobre as regulamentações e exigências do setor de cosméticos. “Comecei como MEI e com as orientações do Sebrae e do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, consegui realizar o depósito de patentes, garantindo a proteção jurídica desde cedo”, exemplifica.

Outro passo foi definir os princípios das fórmulas capilares com base na valorização da mulher e da biodiversidade local. A partir disso, adotou quatro referências: a flora amazônica, a flora nordestina, a medicina ayurvédica e a farmacopeia africana.

Os produtos são vendidos em todo o país e a meta é ampliar a atuação em São Paulo, impulsionada por desafios e oportunidades relacionados à produção, logística e escalabilidade. Até agora já foram desenvolvidas mais de 40 formulações divididas em duas linhas: uma de autocuidado (consumidor final) e outra profissional (para salões de beleza). Em 2024, foram mil unidades produzidas, e a meta para este ano é triplicar esse volume.

Planos de expansão: tecnologia e mais capacitação

O movimento de crescimento vem acompanhado de um rebranding em parceria com Made in Piauí e Polvo Lab, instituições de apoio ao empreendedorismo. Há planos também de fechar alianças com centros de pesquisa e buscar investimentos. “Estamos nos preparando para uma rodada de captação com o intuito de aumentar a produção, expandir a distribuição, investir em marketing e tecnologia, e montar uma equipe enxuta, eficiente e alinhada aos nossos valores”, adianta Brenda.

Além disso, o negócio foi aprovado no Inova Cerrado, programa de aceleração do Sebrae, que iniciou este mês. “Esse apoio tem sido fundamental para fortalecer a Filha da Maria como uma empresa de biotecnologia com alto potencial de impacto e crescimento”.

Outro projeto em andamento é a estruturação de uma hairtech, frente tecnológica da marca voltada para inovação e performance. A ideia é gerar insights sobre sinergias entre ingredientes, predição de performance cosmética e otimização de fórmulas. “Tudo isso em uma base escalável para licenciamento de tecnologia, personalização de produtos e soluções SaaS para a indústria”, diz.

A empreendedora ressalta que seu maior sonho é internacionalização, deixando um impacto positivo na sociedade.

A coragem de seguir

Ao longo da trajetória, Brenda ressalta que teve medo de o negócio não dar certo, mas garante que é possível transformar esse sentimento em movimento, e um sonho ou até uma indignação em ação. “Muitas vezes, a sociedade impõe rótulos relacionados à nossa idade, raça ou origem. Mas se olharmos para grandes mulheres da história como Madam C.J. Walker e Catarina de Médici percebemos que elas têm em comum a coragem de romper padrões e liderar. “Precisamos ser protagonistas da nossa história, nos mantendo firmes em nosso propósito”, finaliza.

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