Negócios

Do balcão de uma mercearia a um negócio de R$ 1 bilhão

Jordana Souza é cofundadora da Voll, agência digital de viagens corporativas que conta com 750 mil usuários e projeta faturar R$ 1,7 bilhão em 2025

Jordana Souza, cofundadora da Voll: “A história fica bonita quando deu certo, mas não podemos esquecer dos aprendizados e erros que nos trouxeram até aqui"

Jordana Souza, cofundadora da Voll: “A história fica bonita quando deu certo, mas não podemos esquecer dos aprendizados e erros que nos trouxeram até aqui"

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 16 de setembro de 2025 às 15h30.

Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 15h31.

A catarinense Jordana Souza nunca deixou as circunstâncias definirem seus caminhos. Do balcão da mercearia dos pais em Criciúma (SC) à maternidade aos 19 anos, durante a faculdade no Rio de Janeiro, transformou cada experiência em impulso para crescer. Anos depois, recusou um cargo internacional na Cabify para empreender em tecnologia, um setor ainda predominantemente masculino.

Hoje, é cofundadora e diretora de novos negócios da Voll, agência digital de viagens corporativas que atende 750 mil usuários e tem clientes como Itaú, Nubank e Localiza. Em 2024, a empresa faturou R$ 1 bilhão e projeta alcançar R$ 1,7 bilhão em 2025. Nesse percurso, também ajudou a consolidar um espaço de protagonismo feminino: dos mais de 400 funcionários, cerca de 66% são mulheres – muitas em posições de liderança. “Costumo dizer que eu era uma ‘improvável’. Tinha tudo para passar a vida em uma cidade menor, ainda mais por ter sido mãe tão jovem. Agora quero ajudar outras mulheres a conquistar espaços”, afirma.

Bases sólidas para estruturar a carreira

A trajetória de Jordana foi construída com estudo, determinação e os aprendizados do ambiente em que cresceu. Filha de comerciantes, herdou o talento para as vendas. Na mercearia, aprendeu o valor do atendimento e da honestidade nos negócios. Com a mãe, que já vendeu cosméticos de porta em porta e comandou pequenos empreendimentos, absorveu a habilidade de se comunicar com diferentes perfis e tratar todos com o mesmo respeito.

Aos 16 anos, fez intercâmbio nos EUA – custeado pela venda do carro do pai –, onde concluiu o ensino médio. Mais tarde, tornou-se a primeira da família a se graduar, mesmo diante de desafios inesperados. “Engravidei aos 18 e só consegui conciliar a maternidade com o estudo e o trabalho porque tive uma rede de apoio. Contei, por exemplo, com a ajuda da avó paterna da minha filha”, lembra. Nesse período, fez um curso de corretagem para trabalhar com vendas e, posteriormente, formou-se em Marketing.

De funcionária a sócia

No campo profissional, acumulou experiências de destaque, como a participação no lançamento do módulo corporativo global da Cabify no Brasil. Foi nesse período que conheceu os futuros sócios, Luciano Brandão, Eduardo Vasconcelos e Luiz Moura. “Meus planos eram continuar na empresa e tive boas oportunidades de carreira, mas a veia empreendedora falou mais alto. Quando eles me convidaram para estruturar um novo negócio, mesmo com duas crianças pequenas, aceitei o desafio porque sabia que era a chance de construir algo grande.”

Assim, em 2017, nasceu a Voll. A proposta inicial era simples, mas ousada: criar um comparativo entre aplicativos de mobilidade para que o usuário, funcionário de uma organização, escolhesse a opção mais econômica a cada corrida. Já havia também a ideia de expandir a plataforma, mas faltavam recursos. “Só tínhamos um PPT e um sonho”, costuma dizer Jordana sobre a apresentação usada para captar investimento. E funcionou.

Estratégia em tempos de crise

A primeira guinada aconteceu em fevereiro de 2020, pouco antes do isolamento da pandemia. Na época, a Voll recebeu um aporte da Wayra, fundo de Corporate Venture Capital (CVC) da Vivo, para desenvolver o sistema de gestão para viagens corporativas. “Os deslocamentos estavam praticamente paralisados e só foi possível superar essa etapa com resiliência e criatividade.”

O período, no entanto, trouxe a oportunidade de estruturar processos e lançar soluções que se tornariam diferenciais na retomada das atividades. A visão da executiva foi determinante. “Conhecia as necessidades do mercado a partir da experiência em uma companhia que crescia globalmente. Isso ampliou minha percepção sobre o escalonamento de produtos e o crescimento da startup.”

Outro impulso veio em 2023, com o investimento da Localiza, que possibilitou o lançamento do módulo de pagamentos, centralizando toda a jornada.

De lá para cá, a plataforma se consolidou como referência no setor. Atualmente, reúne toda a jornada do viajante corporativo – da compra de passagens aéreas à prestação de contas em tempo real – e segue inovando.

Este ano, a empresa lançou o Smart Hub, marketplace de agentes de inteligência artificial. Já estão disponíveis três: o AirSave, que troca tarifas dos voos escolhidos por funcionários por opções mais baratas em tempo real; o RatesAudit, para garantir a aplicação de tarifas corporativas negociadas de hospedagem; e o ExpenseAudit, para controle e auditoria de despesa. “Sempre acreditamos que a tecnologia deveria ir além do atendimento e ser protagonista em gerar economia e eficiência para os clientes.”

Lições de liderança

Na visão de Jordana, empreender não depende apenas de visão de mercado e estratégias bem definidas, mas também de competências comportamentais. A primeira é a capacidade de criar relações de confiança com clientes, parceiros e equipe. Em seguida, disciplina e determinação, já que só com execução as ideias se transformam em resultados. Destaca também a paciência e a colaboração. “A história fica bonita quando deu certo, mas não podemos esquecer dos aprendizados e erros que nos trouxeram até aqui, tampouco que o retorno demanda tempo e que nada se constrói sozinho. Ressalta, ainda, a autoconfiança. “Muitas vezes duvidei da minha capacidade. Tinha medo de não ser a pessoa que meus sócios esperavam e precisavam, apesar deles nunca terem tido essa dúvida.”

Consciente de que sua trajetória pode inspirar outras mulheres, deixa um recado: “Não se limitem pelas circunstâncias ou inseguranças. Valorizem suas habilidades, procurem apoio e enfrentem preconceitos com firmeza. E lembrem-se: ao abrir caminhos para si mesmas, vocês também abrem para outras mulheres”, finaliza

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