Bruna Visconi, fundadora da Peça Rara, e seus filhos: empreendedoras dão dicas para conciliar maternidade e gestão (Bruna Visconi/Reprodução)
Repórter de Negócios e PME
Publicado em 14 de maio de 2023 às 08h00.
Empreender nunca é um caminho fácil e simples. A iniciativa de tornar-se dono do próprio negócio requer coragem. No caso das mulheres, que naturalmente enfrentam mais dificuldade para se destacar no mercado de trabalho, o desafio é ainda maior quando elas também desempenham o papel de mães, enfrentando duplas jornadas na missão de cuidar dos filhos e de suas empresas.
A maior adversidade, no entanto, não desanima. Segundo uma pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, sete em cada 10 empreendedoras brasileiras decidem abrir um negócio depois da maternidade.
Para as mães empresárias, conciliar a maternidade com os negócios é um desafio adicional. Para inspirar empreendedoras na busca pelo equilíbrio na condução da maternidade, vida pessoal e um negócio próprio neste Dia das Mães, listamos dicas de quatro empreendedoras e suas histórias de gestão de sucesso.
A médica e empresária Flávia Costa é mãe de Manuela Lourençato, 4 anos, e Otto Lourençato, 2 anos. Junto a isso, também mantém a corrida rotina dos plantões da UTI e enfermaria, além de gerenciar uma franquia da novofio, rede especializada em tratamento e transplante capilar.
A empresária sempre foi movida aos desafios e a cada conquista se sente mais forte e confiante para o próximo nível. Seu filho caçula, Otto, nasceu no meio da pandemia. Com apenas um mês de licença-maternidade, Flávia voltou aos plantões, mas foi com o apoio da mãe que conseguiu manter todos bem e com saúde.
“A minha mãe é minha inspiração, e posso contar com ela em todos os momentos”, comenta Flávia. “Quero também que meus filhos sintam orgulho de mim, assim como sinto orgulho de minha mãe.”
Atualmente, a médica divide seu tempo entre a clínica de tratamento capilar, os plantões médicos e os filhos, mas garante que não pretende abrir mão de nenhuma das funções. A tripla jornada, ela destaca, não é fácil, mas é o que a mantém confiante e viva.
A empresária afirma que o tempo com os filhos é importante para gerar conexão. Por isso, ela estabeleceu metas para a insana rotina. “A partir das 19h, sou deles. Jantamos, conversamos, brincamos e os coloco para dormir. Não pego plantão noturno e nem aos domingos, justamente para termos esses momentos”, diz Flávia. “Mães felizes educam e formam filhos felizes”.
Fundadora da Terça da Serra, rede de instituições de longa permanência para idosos, Joyce Duarte Caseiro está à frente de um negócio de impacto social que em 2022 faturou R$ 80 milhões.
A ideia para a criação do empreendimento veio de uma experiência pessoal. Sua mãe era responsável pelos cuidados com seu avô, diagnosticado com Alzheimer, o que levou Joyce a notar um grande vazio no mercado, causado pela ausência de instituições que prestassem serviços de qualidade a idosos.
Ela se formou como médica em 2010 e, em 2012, engravidou durante a residência médica. Depois que o filho, Rafael nasceu, a médica decidiu criar sua própria casa de repousos, ainda durante a licença maternidade. “Carreguei ele comigo pra cima e para baixo e nunca foi um problema. Na verdade, virou a minha principal motivação. Os idosos adoravam a presença de um bebê e, para o Rafa, foi ótimo ter essa convivência com eles desde o começo”, conta a empresária.
Quando o filho já tinha três anos, Joyce optou por matriculá-lo em uma escola perto do escritório, para estar mais próxima e ter a possibilidade de almoçar junto, além de levá-lo e buscá-lo no colégio.
Hoje, com o filho com 10 anos de idade, a empresária entende que é possível conciliar o seu crescimento com a gestão da empresa. Entre suas predileções estão cozinhar em família, viajar e assistir séries ao lado do filho. “Eu me esforcei muito, mas também tive apoio de pessoas próximas que nunca mediram esforços para nos ajudar, como meu marido e minha equipe”, finaliza.
Bruna Vasconi é CEO do Peça Rara, rede de brechós sofisticados com investimento da SMZTO, private equity especializado em franquias. A rede, que tem 76 unidades, alcançou faturamento de R$ 86 milhões em 2022.
Com quatro filhos e uma carreira de sucesso, a empresária ressalta que a transparência com os filhos é essencial para ter bons resultados na vida profissional e pessoal. “Eles sabem o quanto meu trabalho é importante não só pra saúde financeira da família, mas, principalmente ,para minha realização e por isso compreendem a mãe que trabalha muito, viaja bastante e participa de muitas reuniões”, afirma.
Bruna se tornou mãe muito jovem, o que fez com que ela amadurecesse muito rápido. “Quando fiquei grávida, estava na faculdade de psicologia e fazendo estágio. Devido à correria das tarefas, minha mãe sugeriu que eu desistisse da carreira, pelo menos naquele momento, para cuidar dos meus filhos", lembra Bruna. “Não aceitei e pedi a sua ajuda para que fosse a minha rede de apoio. Graças a esse suporte, consegui. E sempre digo que mulheres fortes levantam outras mulheres fortes. Sou grata por tudo.”
Para conciliar os ofícios de mãe e empresária, Bruna divide os horários entre os filhos e a empresa. “Quando estou com eles, me esforço para ter um tempo de qualidade com atividades que satisfaçam todos, mas também sei da particularidade de cada um, esse é o maior desafio, porque são quatro, imagine! Também amo o meu trabalho e vibro por cada conquista ao longo dessa trajetória. Ser mãe de quatro crianças me ensinou a ser multitarefas, me sinto uma mulher realizada.”
Claudia Consalter é mãe de gêmeos e sua sócia, Ana Lúcia Massi, também tem dois filhos. Além da maternidade, as duas compartilham estão à frente da Orthodontic, rede de clínicas de ortodontia.
As sócias são amigas de infância e decidiram empreender após o curso de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Segundo as sócias, contar com um suporte é o ideal para mães que desejam empreender. Afinal, um dos principais desafios das empreendedoras é decidir com quem deixar seus filhos quando saem para trabalhar.
Neste contexto, as alternativas podem variar de acordo com a realidade de cada mulher. Algumas podem contar com o apoio da família e, em outros casos, as escolas e babás são as opções mais viáveis. “Como empreendedora, tive que voltar a trabalhar em poucos meses", conta Ana Lúcia. “Felizmente, eu tinha uma rede de apoio formada pelos meus familiares que me ajudavam a cuidar das crianças.”
Para as empreendedoras, a maternidade não precisa ser sinônimo de renúncia da carreira. “Em alguns casos, as mulheres param de trabalhar após ficarem grávidas. Mas, se com tempo sentirem falta da rotina de trabalho e quiserem voltar, podem encontrar certa dificuldade, por terem se afastado do mercado por um tempo”, diz Claudia.
Para as amigas, o equilíbrio entre empreendedorismo e maternidade é possível. “Uma profissional e mãe feliz se torna uma mulher feliz”, afirma Cláudia.