Joaquim Leite, na COP26, fala com exclusividade à EXAME (picture alliance / Colaborador/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 12 de novembro de 2021 às 15h46.
Última atualização em 12 de novembro de 2021 às 16h35.
O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, prefere não se animar. “Não posso ser otimista”, disse ele à EXAME, momentos antes do início da última plenária da COP26, em Glasgow. Mas, o que se fala nos corredores do evento, é que nunca o Brasil e o resto do mundo estiveram tão perto de um acordo histórico para regular o mercado de carbono.
Horas antes da plenária, Leite se reuniu com Xie Zhenhua, negociador-chefe da delegação chinesa. Questionado se a conversa havia evoluído para algum tipo de acordo bilateral, o ministro sorriu e disse: “Detalhes. Falamos com a China e com a Índia, e estamos muito perto de um acordo.”
Leite também cobrou os países ricos a disponibilizarem mais dinheiro para os países pobres fazerem a transição econômica. Disse que o G7 não se preparou como deveria para a COP. E deu a definição do governo para o termo justiça climática, a principal pauta da sociedade civil na conferência. “Justiça climática é gerar emprego verde”, definiu. O desmatamento crescente no Brasil também foi comentado. Confira a entrevista:
O Brasil está em acordo com a China?
Estamos na reta final, a China passou no nosso espaço e estamos em posição construtiva -- também com a India. Espero que tenhamos um acordo.
O Ministério do Meio Ambiente assumiu essa nova posição na negociação. Mudamos um posicionamento histórico, conseguimos mexer nas peças do jogo e temos boas chances de que o mercado [de carbono] aconteça.
O desafio do finaciamento será resolvido?
As nações ricas -- o G7 -- não se prepararam para a COP como deveriam, uma vez que seriam pressionadas por mais financiamentos, e chegaram aqui falando o que vão fazer em 2023, 2024.
Deveriam assumir um desafio que não foi executado e não tem perspectiva para esse ou o próximo ano.
Temos que pressionar os países para que os recursos cheguem de forma fácil e ágil. O Brasil está cobrando para que isto aconteça.
Como o Brasil trabalhará a justiça climática?
O governo federal entende que justiça climática é uma transição da economia para o emprego verde, quando vamos tirar o emprego baseado em combustível fóssil e gerar emprego na economia verde, que não somente é da energia, e pode ser ecoturismo, reciclagem, e mais.
Isto seria um crescimento justo a todos, pois o risco que você tem quando limita quem está numa atividade poluidora é não dar alternativa, pensando como Conferência das Partes.
O desmatamento continua crescendo, como o Brasil irá superá-lo?
O plano está em pratica, é um desafio que o Brasil tem que superar. O ministério da Justiça e do Meio Ambiente estão atuando de forma integrada.
Assim que eu voltar ao Brasil vou marcar uma reunião para acompanharmos mais de perto o tema. Há quatro meses estamos em uma ação de integração do Ibama, ICMBio, Força Nacional e Polícia Federal. É um desafio a ser superado pelo Brasil.
Como foi construída a mudança de posicionamento do Brasil nesta COP?
Antes da COP fizemos várias reuniões para entender, com os países e sociedade civil, o que seria benéfico para o país. Conseguimos destravar o posicionamento para ser um país construtivo e alterar posicionamento históricos.
Acho que conseguimos fazer isto junto com o Itamaraty, diplomaticamente, e mexer as peças do jogo. Conseguimos fazer um bom trabalho e atingir um resultado fantástico, que é criar um mercado global de carbono, que não depende só de nós, mas esperamos uma boa resposta para trazer mais uma oportunidade para mostrar ao mundo que o Brasil consegue produzir, reduzir emissões e vender créditos para quem poluir.
Exame na COP26
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional com o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
Uma das principais tarefas da COP é revisar as comunicações nacionais e os inventários de emissões apresentados por todos os países membros e, com base nessas informações, avaliar os progressos feitos e as medidas a serem tomadas.
Para além disto, líderes empresariais, sociedade civil e mais, se unem para discutir suas participações no tema. Neste cenário, a EXAME atua como parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas.