Lopetegui: Sua demissão foi feita com coerência,, afirma especialista em RH (Stringer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2018 às 13h42.
Última atualização em 13 de junho de 2018 às 14h16.
A Copa do Mundo, que começa nesta quinta-feira na Rússia, costuma trazer lições para além das quatro linhas em marketing, em estratégia, em organização. E, desta vez, também em gestão de pessoas.
Nesta quarta-feira a seleção espanhola, uma das favoritas ao título, demitiu o técnico Julen Lopetegui após ele ter sido anunciado como futuro treinador do Real Madrid, num episódio que a Federação Espanhola de Futebol considerou uma quebra de confiança. Ele substituirá o francês Zinedine Zidane que, em três anos no clube, conquistou três vezes a Liga dos Campeões da Europa.
Segundo Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola de Futebol, Lopetegui avisou sobre a negociação apenas cinco minutos antes de o clube anunciá-la oficialmente.
Rubiales explicou que, para a Federação e todos os espanhóis, qualquer negociação fora da seleção deveria ter sido previamente anunciada. “É básico, porque é a equipe de todos os espanhóis, uma Copa do Mundo é a data máxima. Não podemos ficar de fora de uma negociação de um de seus trabalhadores e descobrir cinco minutos antes de um anúncio público”, afirmou.
“Agradecemos ao Julen por tudo o que ele fez porque ele é um dos grandes responsáveis por estarmos na Rússia, mas somos forçados a dispensá-lo. Tem de haver uma mensagem clara para todos os trabalhadores da Federação Espanhola de que existem algumas formas de agir que devem ser cumpridas”, afirmou, em coletiva de imprensa.
A questão que fica é: em que situações é imprescindível demitir um profissional importante num momento crucial para a organização? Lopetegui estava invicto em 20 jogos à frente da seleção e contava com resultados expressivos como uma goleada de 6 a 1 sobre a Argentina.
Embora uma decisão como essa, em tal momento, seja polêmica, do ponto de vista de gestão, ela pode ser considerada correta segundo Sofia Esteves, fundadora de uma das maiores consultorias de RH do Brasil, a DMRH. “Sua demissão foi feita com coerência, e para evitar que se abra precedentes para outros casos”, explica.
Para Sofia, a seleção espanhola é diferente da brasileira justamente porque prioriza o conjunto, e não uma figura individual como elemento chave. “A credibilidade da seleção brasileira está muito focada no Tite, e por isso sua demissão seria muito pior para o Brasil do que a demissão de Lopetegui para a Espanha”, complementa.
Se cada caso é um caso, o contexto em que a seleção ou uma empresa está inserido deve ser analisado antes de se tomar uma decisão. Vale lembrar do caso da companhia desenvolvedora de software, SalesForce, que demitiu seu presidente após um funcionário utilizar uma fantasia desrespeitosa, em uma festa de fim de ano.
Mesmo batendo metas e conquistando elogios da matriz, nos Estados Unidos, o mais alto executivo da filial brasileira foi afastado do cargo porque, na visão da companhia, sua atitude não era condizente com as práticas e valores da empresa. Embora o exemplo possa ser visto como radical, para Sofia, ele mostra a coerência da empresa. “Mesmo sendo uma decisão difícil de ser tomada, os valores da companhia, ou da federação, devem estar acima de tudo”, diz.
“A ação de um funcionário, mesmo que seja experiente ou competente, deve ser analisado a partir do impacto negativo que sua falta pode causar. Se sua atitude for de baixo impacto, ele pode ser perdoado e reorientado. Mas se a atitude causou um alto impacto para a empresa, ele deve ser punido”, afirma.
Na hora de avaliar o impacto, devem ser levados em conta os diversos públicos afetados. Numa empresa, estão clientes, investidores e funcionários. Numa seleção, principalmente, jogadores e torcedores. Para evitar maiores atritos, a federação levou, para reunião que definiu a saída de Lopetegui, os jogadores mais importantes do time: Sergio Ramos, Andrés Iniesta e Gerard Piqué.
Para aplacar as desconfianças da torcida, a federação foi rápida em anunciar um substituto com alta credibilidade. O ex-jogador Fernando Hierro, ex-capitão da seleção como jogador e que já estava na Rússia, como dirigente. "Não podia dizer que não; não me perdoaria nunca", afirmou Hierro em entrevista nesta quarta-feira.
Mais lições implícitas. Tenha sempre um plano B para atitudes extremas. E apele às emoções. Cercada de desconfiança, mas com uma nova injeção de ânimo, a Espanha entra em campo às 15h de sexta-feira, para enfrentar Portugal.