Gustavo Gracitelli, da Bynd, e Mário Verdi, da Deskbee: empresas vão se juntar para entregar mais serviços aos clientes (Deskbee/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 10h57.
Quem faz trabalho híbrido sabe o desafio que é ir ao escritório. Tem o trânsito, a vaga de estacionamento, a reserva de mesa que às vezes falha, o café que acabou cedo.
O retorno ao presencial exige organização — e muitas empresas ainda estão tentando entender como fazer isso funcionar.
Na tentativa de organizar esse novo ambiente de trabalho, a Deskbee surgiu como uma plataforma para gerenciar tudo o que acontece dentro (e ao redor) do escritório: da reserva de mesas ao controle de acessos, passando por fretados, estacionamento e até catering.
A empresa, criada em 2019, atende mais de 400 corporações em 30 países, incluindo gigantes como Volkswagen, BTG (do mesmo grupo de controle da EXAME), Coca-Cola, Raízen e John Deere.
Agora, a Deskbee dá um passo estratégico ao anunciar a aquisição da Bynd, startup especializada em caronas corporativas.
A plataforma passa a ser integrada à plataforma principal como um novo módulo — o BeeBynd — ampliando a proposta da Deskbee para além do espaço físico e incluindo também a jornada de mobilidade dos funcionários.
Por trás do negócio estão dois empreendedores com trajetórias tão inusitadas quanto complementares.
Mário Verdi, fundador da Deskbee, criou sua primeira empresa aos 15, vendendo roupas de surf. Gustavo Gracitelli, da Bynd, decidiu fundar uma startup de mobilidade após cruzar as Américas de carro — do Alasca até Ushuaia — em uma viagem sabática com quatro amigos.
“Foi ali, vivendo três meses dentro de um carro, que ficou claro para mim o impacto que o compartilhamento pode ter na mobilidade urbana”, afirma Gracitelli, que agora assume o cargo de CXO (Chief Experience Officer) na Deskbee. “A fusão permite escalar essa ideia para milhares de empresas.”
O plano é transformar a Deskbee em uma plataforma ainda mais completa — uma espécie de "controle remoto do escritório", nas palavras dos próprios clientes.
A empresa estima faturar entre 10 e 12 milhões de reais em 2025, e quer que o novo módulo represente 20% da receita já no ano que vem.
A trajetória da Deskbee começa com Mário Verdi, designer de formação e empreendedor desde a adolescência.
“Eu tive minha primeira empresa aos 15 anos, uma marca de roupas de surf. Eu fazia tudo: comprava o tecido, mandava costurar, estampava as camisetas”, afirma.
Depois disso, passou por publicidade, abriu um estúdio de design e morou cinco anos no Vale do Silício antes de voltar ao Brasil e entrar no mundo do software.
Foi só em 2012 que fundou a Invents, embrião da Deskbee, que passou por várias transformações até encontrar tração.
“A gente tinha uma solução genérica, e startups não sobrevivem com produto em busca de problema. Precisávamos partir da dor do cliente”, diz.
A dor, no caso, era a gestão dos espaços corporativos — que ficou ainda mais evidente com a chegada da pandemia. Na prática, a empresa ajuda a reservar agendas de salas, mesas e espaços do escritório.
A empresa saltou de 20 clientes para 150 em 2020, no auge da crise sanitária.
“Foi uma explosão. Em uma hora, vendi três contratos diferentes: um pelo telefone fixo, outro por WhatsApp e um por e-mail”, diz Verdi. “As empresas precisavam de soluções para distanciamento, reservas de mesas, controle de acesso. A gente estava no lugar certo, com o produto certo.”
Gustavo Gracitelli, por outro lado, vinha do mercado financeiro.
Formado em economia, decidiu mudar de vida após uma viagem de carro pelas Américas.
“Foram 72.000 km, cinco pessoas, 19 países. Compartilhar espaço e trajetos virou parte da rotina”, afirma.
A experiência o levou a fundar a Bynd, uma startup voltada para caronas corporativas, com clientes como Bradesco, Sanofi e Sicredi.
A empresa é uma plataforma que permite que funcionários de uma determinada empresa ofereçam carona para seus colegas de trabalho.
A pandemia, no entanto, quase derrubou a operação.
“A gente fazia 25.000 caronas por semana. De repente, virou 100. Perdi praticamente todos os contratos. Tive que mandar o time embora e segurar o que dava. Só em 2024 a demanda começou a voltar”, diz.
A aproximação com a Deskbee veio nesse contexto — e o negócio amadureceu ao longo de um ano de conversas.
A Deskbee funciona como uma plataforma white label, termo em inglês para produtos personalizáveis com a identidade do cliente.
Isso permite que o funcionário interaja com o sistema como se fosse da própria empresa — algo que reforça o engajamento com a ferramenta.
A cobrança é feita com base no número de posições de trabalho, e os módulos adicionais — como estacionamento, catering ou agora o BeeBynd — são vendidos separadamente.
“A gente percebeu que precisava expandir o portfólio para amarrar o cliente. O modelo híbrido é instável, e o cliente cancela e volta o tempo todo”, afirma Verdi.
Do lado da Bynd, o modelo sempre foi B2B, focado em empresas com grande volume de funcionários.
“A mobilidade virou responsabilidade das empresas. É custo, é impacto ambiental, é bem-estar. E quando elas aumentam a exigência de ida ao escritório, muitas vezes a adesão é baixa justamente por conta do deslocamento”, diz Gracitelli. “A nossa solução entra aí.”
Segundo os fundadores, a fusão cria oportunidades comerciais cruzadas. “Já temos clientes da Deskbee comprando o módulo de caronas. E também empresas que não tinham interesse em reserva de mesas, mas querem falar sobre mobilidade”, afirma Verdi.
A expectativa é que a receita da Bynd, hoje ainda pequena, quintuplica até a metade de 2026, puxada pela base da Deskbee. “A gente acredita que mobilidade vai representar 20% da receita total até o final do ano que vem”, diz.
A incorporação está sendo feita por etapas.
A marca da Bynd continua ativa por enquanto, mas deve ser absorvida à medida que o produto for integrado tecnicamente à plataforma principal. “O time já está todo junto. Comercialmente, já atuamos como um só. O produto ainda vai passar por ajustes, mas temos um cronograma para isso”, diz Verdi.
Para Gracitelli, o impacto vai além da operação. “Agora conseguimos conversar com áreas que antes não estavam no nosso radar, como sustentabilidade e inovação. Isso amplia o alcance do produto dentro das empresas”, afirma.
A fusão também posiciona a Deskbee para disputar novos mercados.
Hoje, a empresa tem clientes em 30 países, mas ainda atua de forma concentrada no Brasil. A ideia é usar a base atual para escalar novas soluções — e atrair ainda mais empresas com dores reais, como o deslocamento.
A empresa projeta faturar entre 10 e 12 milhões de reais em 2025, um salto de cerca de 40% sobre o ano anterior. E espera dobrar esse valor até o fim de 2026. “Nosso foco é ser a solução definitiva para gestão de espaços corporativos. E mobilidade era o próximo passo lógico”, afirma Verdi.
Para reforçar essa visão, a Deskbee quer também ampliar sua presença em rankings de inovação. “Já estamos entre os três primeiros no ranking do RH Summit. Agora, com a Bynd, vamos brigar também nos rankings de sustentabilidade”, diz o fundador.