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De rede social a destino de compras: Pinterest quer brigar pelo e-commerce e conquistar o Brasil

Em entrevista exclusiva à EXAME, diretora de produto do Pinterest diz que o uso de dados e IA são as principais apostas para aprimorar experiência de compra e conquistar novos vendedores no mercado brasileiro

Pinterest: plataforma de ideias e inspirações (Spencer Platt / Equipe)

Pinterest: plataforma de ideias e inspirações (Spencer Platt / Equipe)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 30 de julho de 2025 às 15h30.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 17h07.

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O mercado de e-ecommerce está cada vez mais aquecido, com empresas como Mercado Livre, Magazine Luiza e Shopee liderando um setor que parece ganhar novos concorrentes a cada semana.

Em maio de 2025, o TikTok Shop desembarcou no Brasil e, agora, é a vez do Pinterest — que, além de ser há 15 anos uma rede social de pesquisas de referências para moda e estilo de vida, quer conquistar o Brasil em uma área já consolidada: o varejo.

Para isso, a plataforma tem apostado na indicação de itens para a compra em meio às postagens de roupas, animais de estimação e design. Na rede social, agora basta um clique para conseguir comprar um produto.

"Nossos usuários chegam à plataforma querendo realizar algo, buscar referências e tirar projetos do papel, mesmo quando ainda não sabem exatamente o que procuram. A força da inspiração visual cria um ecossistema orgânico de descobertas, onde a compra não planejada é incentivada de forma natural", afirma Susan Spark Park, diretora de produto internacional do Pinterest, em entrevista exclusiva à EXAME.

Para ela, a movimentação faz parte de um novo posicionamento da companhia no mercado: tornar-se um novo "destino de compras", onde a busca por soluções pode impactar a decisão dos consumidores.

Susan Spark Park, diretora de Produto do Pinterest (Divulgação)

O aquecimento da rede social deu um grande empurrão nessa iniciativa. No primeiro trimestre de 2025, o Pinterest atingiu um recorde de 570 milhões de usuários ativos mensais (MAUs), apresentando um crescimento de 10%. No Brasil e em toda a América Latina, a alta foi de 15%, sendo a região do mundo onde essa evolução foi mais acelerada.

Em território nacional, mais de 40 milhões de pessoas acessam o Pinterest todo mês no Brasil. Isso representa mais de 30% da população com acesso à internet no país.

Mais de 50% dos usuários do Pinterest acessam a plataforma para fazer compras e salvam 1,5 bilhão de Pins semanalmente. Embora a rede social tenha ganhado popularidade nos últimos anos entre as mulheres, os homens são um dos públicos que mais crescem — representando mais de um terço da audiência global.

A missão de consolidar o Pinterest como uma das plataformas mais inovadoras do comércio digital acontece também em um cenário de recuperação financeira. No primeiro trimestre de 2025, a companhia registrou lucro líquido de US$ 8,9 milhões, após o prejuízo de US$ 24,8 milhões no mesmo período do ano anterior.

A receita cresceu 16% em relação ao ano anterior, atingindo US$ 855 milhões no trimestre, impulsionada pelo aumento no número de usuários ativos mensais para 570 milhões, um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. No mundo inteiro, a receita média por usuário subiu para US$ 1,52, refletindo maior engajamento e monetização, com forte contribuição dos avanços em inteligência artificial (IA) para recomendações e anúncios mais eficazes.

O poder da imagem

Ao contrário do Instagram ou Facebook, onde o conteúdo pode ser mais passivo, imediato e baseado nas conexões sociais, no Pinterest os usuários chegam com a intenção de encontrar soluções e produtos, o que gera maior taxa de conversão para e-commerces e marcas afiliadas, segundo a empresa.

Para obter vantagem competitiva diante da concorrência, Susan Spark ressalta que a tecnologia tem sido a maior aposta para ampliar a jornada de compras, com recursos como os Pins Compráveis e a busca visual (Tecnologia que permite aos usuários pesquisar conteúdos relacionados a partir de uma imagem, em vez de texto).

Embora a curadoria personalizada seja um atributo comum no ambiente digital, a diretora de produto do Pinterest reforça que sua força também está na capacidade de antecipar tendências e desejos de usuários.

Para tomar a dianteira nessa disputa, a plataforma também conta com ferramentas avançadas, como catálogos e integrações via API, que ajudam as marcas a não apenas aumentar a presença digital, mas também a melhorar a conversão direta.

"Essa abordagem ajuda marcas a superar desafios comuns do comércio digital, como a atenção fragmentada do consumidor e a forte disputa por performance em marketplaces. Os parceiros que utilizam nossas soluções estão registrando maior engajamento e eficiência nas campanhas", diz Spark.

A carta na manga

A maior aposta do Pinterest para fidelizar vendedores e grandes empresas é o Pinterest Performance+, um pacote de ferramentas avançadas que combina inteligência artificial e automação para otimizar campanhas das empresas na plataforma, reduzindo até 50% o tempo e o esforço necessários para a criação de anúncios, segundo a companhia.

Esse recurso também oferece personalização em escala dos criativos por meio de IA generativa, que transforma imagens simples de produtos em anúncios mais atraentes com fundos personalizados.

Os recursos do Pinterest Performance+ também incluem otimização inteligente de orçamentos, com foco em maximizar o Retorno sobre Investimento em Publicidade (ROAS), além de ferramentas para promoções sazonais com maior visibilidade.

Grandes marcas como Prada e Walgreens (uma das farmácias mais famosas nos EUA) elevaram o desempenho de suas campanhas, melhorando taxas de conversão em até 30% e reduzindo custos por ação em até 64%, de acordo com o Pinterest

De acordo com Susan, no mercado brasileiro, o sucesso dessa abordagem é ilustrado pela Natura, uma das principais marcas parceiras do Pinterest que, ao adotar estratégias visuais no Pinterest Performance+, registrou um crescimento significativo no ROAS durante períodos sazonais, além de uma redução de 65% no Custo por Clique (CPC).

"Iniciativas como o lançamento da linha 'Cerejamania' da Natura no Pinterest, inspirada em tendências do Pinterest Predicts, ilustram o potencial encontrado pelas marcas quando aprofundam o diálogo com os consumidores por meio de insights e tendências próprias", explica Susan. "Dessa maneira, estamos ajudando marcas a explorar todo o potencial do Pinterest, promovendo experiências criativas e resultados de alto impacto em seus negócios."

Para além do Performance+, a inteligência artificial ganhou um papel relevante no modelo de negócios do Pinterest, especialmente por maximizar o uso de dados para antecipar o comportamento de usuários e aprimorar sua experiência de navegação. E, recentemente, contribuir para a dinamização da presença de vendedores e grandes marcas na plataforma. Para Susan Spark, os investimentos em IA representam um caminho sem volta.

"Com IA e machine learning, conseguimos entender as nuances do comportamento, interesses e aspirações dos usuários, ajustando dinamicamente títulos, recomendações e feeds para refletir o momento único de cada pessoa. Basta uma foto para encontrar ideias, referências ou produtos similares, ampliando a descoberta de novas possibilidades, inclusive do mundo físico", explica. "Isso consolida nossa posição como referência em inovação e experiências digitais de compra positivas."

Crescimento sem limites

Um levantamento da plataforma Oberlo aponta que o e-commerce representou 20,1% de todas as vendas globais de varejo em 2024. No último ano, o faturamento do setor chegou a US$6,4 trilhões em 2024 e deve ultrapassar US$6,86 trilhões em 2025 e US$7,9 trilhões em 2027.

O período também foi positivo para o mercado brasileiro: por aqui, o e-commerce cresceu 10,5% em relação ao ano anterior, com R$ 204,3 bilhões arrecadados. Além desse desempenho financeiro, foram 414,9 milhões de pedidos contabilizados, representando ticket médio de R$ 492,40. No total, o número de compradores online chegou a 91,3 milhões, segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Agora, esse setor mira em plataformas como o Pinterest como novas "vitrines virtuais" que unem a dinâmica das redes sociais e do comércio online de forma interativa.

O TikTok Shop mostrou ser seu maior concorrente. Em 2024, o aplicativo conquistou mais de 11,9 milhões de compradores apenas nos EUA, superando a Meta e o Pinterest em escalabilidade.

A expectativa é que o TikTok Shop movimente US$ 20 bilhões globalmente, incluindo forte potencial de crescimento no Brasil após seu lançamento oficial em maio de 2025, informou a Bloomberg.

Ciente dos desafios que tem pela frente, o Pinterest se mantém fiel à sua estratégia. E o Brasil, para Susan Spark, é um dos mercados com maior potencial de crescimento para o segmento de vendas, já que, segundo ela, empresas de vários tamanhos passaram a reconhecer o Pinterest como um canal estratégico.

“Oferecemos uma oportunidade única para negócios de todos os tamanhos ganharem visibilidade e transformarem seu conteúdo visual em um canal de vendas direto. Sempre ouvimos nossos usuários e, para eles, comprar pelo Pinterest se tornou uma escolha natural e desejada”, diz. "Globalmente, o Pinterest apresentou resultados recordes, com 80% de nossos usuários atualmente vindos de mercados internacionais. O Brasil é parte fundamental desse momento".

De acordo com a executiva, a matriz da companhia, em São Francisco, está de olho nos consumidores brasileiros há bastante tempo por considerá-los engajados no ambiente digital. O que torna o Pinterest uma escolha natural para esse mercado.

"À medida que continuamos investindo em personalização, IA, recursos de compra e experiências adaptadas às necessidades locais, acreditamos que o Pinterest está especialmente bem-posicionado para empoderar usuários e marcas brasileiras, promovendo conexões significativas e impulsionando a próxima onda de crescimento do comércio digital no país e no cenário internacional." 

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