Tony Cozendey, do Instituto Visão Solidária: “O avanço foi surpreendente. Fechamos 2024 com 50 milhões de reais de faturamento e vamos dobrar esse número neste ano” (Instituto Visão Solidária/Divulgação)
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Publicado em 8 de novembro de 2025 às 08h20.
Aos 15 anos, Tony Cozendey saiu da zona rural de Rondônia com uma mochila e um pedido ao pai: “me deixa tentar a vida na cidade”.
Duas décadas depois, o mesmo garoto que fazia bicos em uma fábrica de lajotas lidera o Instituto Visão Solidária (IVS), rede de franquias de óticas que combina lucro com impacto social — e que projeta faturar 230 milhões de reais em 2026.
O negócio nasceu da tentativa de resolver dois problemas de uma vez: o alto preço dos óculos no varejo e a dificuldade de acesso à saúde visual nas periferias.
Hoje, o IVS tem 214 lojas em 25 estados, fatura 100 milhões de reais por ano e já doou mais de mil óculos a crianças em vulnerabilidade. Nas vendas, tem óculos a partir de 49,90 reais.
“Em novembro completamos três anos no franchising e já estamos em 214 operações, sendo 22 lojas próprias. A meta é chegar a 250 unidades até o fim do ano”, diz Cozendey.
Tony nasceu em Alta Floresta D’Oeste, interior de Rondônia. O pai tinha uma loja de roupas, mas o negócio quebrou. A família se mudou para a zona rural, sem energia elétrica.
Sem escola próxima com ensino médio, Tony perdeu um ano letivo. Aos 15 anos, decidiu tentar a sorte em Buritis, cidade vizinha. Ali, estudava de manhã e trabalhava à tarde em uma fábrica de lajotas de cimento. Quatro meses depois, surgiu uma vaga de office-boy em uma ótica.
“Foi meu primeiro contato com esse mundo — e eu nem imaginava que isso definiria meu futuro”, conta.
Nas horas vagas, ele aprendia a montar e consertar armações. Em poucos meses, virou vendedor. Aos 17, foi convidado para gerenciar uma nova loja no Acre.
Aos 19, Tony decidiu dar um salto maior. O dono de uma ótica local lhe ofereceu a compra do ponto. Sem dinheiro, ele arrendou o negócio e pagava o antigo dono com comissões.
“Assumi o risco e, seis meses depois, o ponto era meu”, diz.
Nascia a Óticas Mais, sua primeira empresa.
O negócio cresceu, mas o lucro não vinha. “Eu não sabia gerir”, diz. Foi então que conheceu uma indústria de lentes no Rio de Janeiro, a Clear Optical, e viu a chance de melhorar a margem.
Passou a distribuir lentes para laboratórios e óticas de Rondônia, Acre e Mato Grosso.
Mas a logística pesava. Em 2015, ele se mudou de vez para o Rio. E foi ali que nasceu a ideia do Instituto Visão Solidária.
“Eu pensava que, se conseguisse oferecer óculos de qualidade a preços acessíveis, teria uma grande oportunidade de prosperar e gerar impacto”, afirma.
O primeiro teste veio com um projeto itinerante: a Semana da Saúde Visual. Resultado: 400 óculos vendidos em poucos dias. A ação virou rotina.
Em 2016, o negócio já operava em três estados — Rondônia, Maranhão e Mato Grosso — com 2.000 óculos vendidos por mês, metade do preço praticado pelo mercado local.
“Uma funcionária sugeriu incluir ‘Instituto’ no nome. Depois, chegamos juntos ao ‘Visão Solidária’. Era exatamente o que o projeto representava”, diz o empresário.
A primeira loja física veio em 2018, no Mato Grosso, com um formato simples: sem balcão e com o cliente livre para experimentar. “Democratizar também é isso — deixar o cliente escolher”, afirma.
O modelo de negócio chamou atenção. Em 2022, Tony lançou o sistema de franquias. Em um ano, vendeu 44 unidades. No ano seguinte, eram 120. Agora, em 2025, o IVS soma 214 lojas, com previsão de chegar a 250 até novembro.
“O avanço foi surpreendente. Fechamos 2024 com 50 milhões de reais de faturamento e vamos dobrar esse número neste ano”, afirma o fundador.
O IVS ocupa hoje a quinta posição entre as maiores redes ópticas do Brasil, com 35.000 óculos vendidos por mês.
Mas o crescimento rápido trouxe novos desafios: padronizar processos, garantir rentabilidade e fidelizar franqueados.
“Estamos investindo pesado em tecnologia e gestão para sustentar o ritmo”, diz Tony.
Além das vendas, o IVS carrega um projeto social que virou parte central da estratégia: o Criança de Visão.
Lançado em 2023, o programa oferece consultas oftalmológicas e doa óculos a crianças em vulnerabilidade.
“Uma em cada três crianças que abandonam a escola tem dificuldade de aprendizado por causa da visão. Queremos mudar isso”, afirma Cozendey.
Desde o início, o projeto já impactou mais de 6 mil crianças. Para os próximos anos, a meta é atingir 100 mil e doar 20 mil óculos.
“Incentivamos cada franqueado a doar ao menos quatro óculos por mês. É assim que multiplicamos o impacto”, diz o CEO.
Com o mercado óptico em expansão — que movimentou 16,4 bilhões de reais entre janeiro e julho de 2025, segundo a Abióptica —, Tony vê espaço para seguir crescendo.
“O consumidor quer preço justo, mas também propósito. Essa combinação é o que vai definir o futuro das marcas”, afirma.
O plano é abrir 400 unidades até 2026, reforçar a presença em cidades médias e pequenas e investir em personalização do atendimento.
“Meu objetivo é simples: vender óculos, mas entregar visão, autoestima e oportunidade para quem mais precisa”, conclui.