Magali Sanches, diretora comercial do Grupo AD: “Não tenho nenhum problema em perguntar como fazer algo. É assim que aprendemos e avançamos”.
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Publicado em 23 de abril de 2025 às 10h56.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 13h14.
Durante 15 anos, a paranaense Magali Sanches viveu intensamente os corredores dos centros de compras – mas do lado de dentro das lojas. Teve negócios próprios, operou franquias e enfrentou, no dia a dia, os desafios de atrair clientes, fechar contas e manter a operação de pé. Essa vivência prática, somada a uma inquietude constante, foi determinante para sua entrada como sócia e diretora comercial do Grupo AD, que reúne a administradora AD Shopping, a empresa de comercialização física ADMall e a plataforma digital AlugueON.
Presente nas cinco regiões do país, o grupo é responsável por 43 shoppings, com participação societária em 16 deles, seis mil estabelecimentos que atraem aproximadamente 225 milhões de consumidores anualmente, e um patrimônio administrado de R$ 5,8 bilhões. Somente em 2024, foram 1.450 novos contratos fechados.
A executiva é uma das principais vozes por trás da expansão do conglomerado. Foi dela a ideia de criar a AlugueON, ferramenta que permite ao lojista realizar todo o processo de locação pela internet – da escolha do ponto à assinatura do contrato –, durante a pandemia de covid-19. Com o isolamento social, o negócio viu a operação estagnar e parecia não haver saída.
“Estava na sacada de casa, de pijama, preocupada porque os custos continuavam, mas não havia nenhuma receita entrando, e com toda a equipe parada”, lembra.
Depois de algumas reflexões, começou a estruturar o projeto, no qual os interessados poderiam “navegar” por lojas, quiosques e espaços de mídia de qualquer lugar do Brasil, e selecioná-los para quando a atividade econômica voltasse ao normal. Lançada em janeiro de 2021, apenas 45 dias depois da idealização, a plataforma obteve resultados rapidamente. Em cerca de seis meses já se pagava e no primeiro ano começou a dar lucro.
Atualmente, a conversão de leads chega a 40%, uma taxa elevada para uma operação digital tão específica.
A entrada de Magali na sociedade, assim como sua visão estratégica sobre gestão e novos projetos na área, é reflexo de anos de experiência à frente de lojas e em contato direto com clientes, fornecedores e outros lojistas. “Conheço muito bem como o lojista vive, suas dificuldades e necessidades, e sempre fiz questão de ouvir as pessoas”, afirma. A escuta ativa e a busca constante por soluções tornaram-se marcas de sua atuação. “Quero distância da zona de conforto. Sempre há espaço para melhorar e inovar”.
Graduada em Direito, mas sem formação específica de gestão e negócios, ela destaca que aprendeu tudo trabalhando, com os desafios do cotidiano e a atenção às oportunidades e demandas tanto das empresas quanto dos clientes.
Um marco importante aconteceu em 2003, quando mantinha um parque de diversões dentro de um shopping em Campinas. “Era um lugar bem simples que vendia até galinha caipira, mas tinha como meta melhorar o mix de serviços”, conta. De maneira informal, passou a auxiliar na parte comercial. Em parceria com o time, conseguiu inserir boliche, academia, centro médico e grandes redes na grade de serviços.
Dois anos depois, iniciou um trabalho de comercialização de empreendimentos em Limeira, Rio Claro e Sorocaba, em parceria com a AD Shopping – mas ainda como prestadora de serviços. O vínculo societário veio em 2012, com a fundação da ADMall, desenvolvida para atender à demanda por uma estrutura específica voltada à venda dos espaços nos centros comerciais sob gestão do grupo.
“Fui convidada para a sociedade por mérito, pelos resultados entregues na liderança do meu time”, conta.
Aos 57 anos, mãe de uma jovem de 23, Magali ressalta que o caminho foi cheio de obstáculos e exigiu muita determinação e coragem. “Nada veio fácil. Cada conquista foi suada”, diz. Segundo ela, as questões de gênero fazem parte de sua jornada até hoje. “A direção das áreas comerciais ainda é ocupada por homens. Negociamos valores muito altos e, às vezes, ainda há preconceito”.
Mas nem de longe isso a faz recuar. Ela desenvolveu segurança para liderar uma mesa de negociação e sempre pauta as reuniões por argumentos e números sólidos.
Outro ponto fundamental foi construir um estilo de liderança que combina inovação com valores firmes, incluindo confiança, transparência, colaboração e protagonismo. “Gosto de jogar limpo, de dizer até onde é possível ir, o que nem sempre acontece nesse mercado”, afirma. Também faz questão de aceitar a vulnerabilidade, pois acredita que o papel do líder não é saber tudo, mas se cercar de pessoas capacitadas, estando disposto a aprender com elas.
“Não tenho nenhum problema em perguntar como fazer algo. É assim que aprendemos e avançamos”.
A executiva também aposta na agenda ESG. Uma das diretrizes da organização é olhar com atenção causas que promovam a inclusão – um exemplo são as ações voltadas a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que contam com filas, mesas preferenciais e vagas exclusivas nos shoppings, abafadores de ruído, sessões de cinema especiais e até uma “Sala do Afeto” em uma unidade, com ambiente aconchegante e de relaxamento para momentos de agitação ou ansiedade. “Além dos resultados, os negócios também precisam gerar impacto”.
Para ela, a resiliência é o que separa quem realiza de quem apenas sonha. “Todos erram, mas só acerta quem persiste, tenta outra vez”, finaliza.