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De leite a rum: os produtos mais procurados no supermercado

Dificuldades estão ligadas à alta do dólar, inflação e falta de insumos, aponta empresa

Ausência de produtos no supermercado: leite e ovos estão entre os que mais faltaram no último mês (Lawrence Bryant/Reuters)

Ausência de produtos no supermercado: leite e ovos estão entre os que mais faltaram no último mês (Lawrence Bryant/Reuters)

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Karina Souza

Publicado em 30 de julho de 2021 às 16h44.

Última atualização em 30 de julho de 2021 às 17h55.

Certamente, você teve de comprar pelo menos um item no mercado durante o ano. Do pequeno da esquina às super-redes, também é muito provável que você tenha sentido falta de algum item — ou não tenha encontrado determinada marca. E não, você não foi “azarado”: realmente o índice de ausência de produtos no supermercado aumentou em 2021. A conclusão é da Neogrid, empresa de tecnologia especializada em logística. 

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Com base na coleta de informações de venda e estoque dos produtos em mais de 20.000 varejistas no Brasil de diversos segmentos, a companhia traça periodicamente o índice de rupturaNo primeiro semestre do ano, os produtos que atingiram as maiores marcas dentro do índice foram: bebidas à base de soja (28,29%), leite longa vida (21,53%), ovo (21,51%), rum (20,35%) e cerveja (19,93%). 

Para efeito de comparação, o índice de ruptura geral atingiu 11,11% em junho, patamar similar ao de março de 2020, início da pandemia no país. O período mais crítico ainda permanece no ano passado, quando o índice chegou à marca de 12,57% em maio. 

Apesar de os percentuais parecem irrisórios (pouco acima dos 10%), Robson Munhoz, CCSO (Chief Customer Success Officer) da Neogrid explica que o Brasil tem um índice médio de 8% de ruptura, e que cresceu consideravelmente durante a pandemia. “A cada 1 ponto percentual que cresce, é 1 ponto a menos de margem líquida para os varejistas e 2 pontos a menos para a indústria”, afirma.  

O pico da ausência — e suas consequências até hoje — pode ser relacionado a fatores como a alta do dólar e a falta de matéria-prima na cadeia de produção, segundo a Neogrid. 

Para ter uma ideia, a indústria de embalagens sofreu significativamente com a ausência de vidro e alumínio. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que, em outubro do ano passado, 68% das empresas tinham dificuldades de comprar insumos como esses no país — percentual que foi a 70% há dois meses. Como resultado, 44% estavam com dificuldades de cumprir prazos com clientes, sendo a principal razão para isso a falta de estoque (47%).

O papelão também ficou mais difícil de encontrar. Com a mudança de hábitos gerada pela pandemia, somada à paralisação de fábricas em todo o mundo por causa da covid-19, há um descasamento entre oferta e demanda.

Soma-se a esse fator a alta do dólar, que influencia as commodities — e, novamente, parte desses custos recai sobre a indústria. No caso do aço, por exemplo, a alta do minério de ferro atingiu 80% em 12 meses.

Para a soja, também houve aumento expressivo durante a pandemia: segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento, divulgados em abril, o preço da saca estava em 157,39 reais, alta de 92,36% em relação ao mesmo mês no ano anterior.

“O aumento de preços é repassado, em maior ou menor grau, para o varejo, que passa a procurar uma gama maior de fornecedores para aumentar margens. Com todos esses fatores, a entrega passa a demorar mais e consumidores podem não encontrar produtos que estão acostumados a consumir”, diz Robson.

Para chegar a esses percentuais, são cruzadas informações nas duas pontas: estoque dos mercados com as compras junto à indústria, e vendas ao consumidor. Hoje, grandes redes como Carrefour, Big, Pão de Açúcar, além de redes regionais fazem parte da base da Neogrid. São mais de 40.000 lojas, que representam 80% do que é vendido nos supermercados nacionalmente, segundo a empresa. 

Inflação

Com o IPCA dos últimos 12 meses em 8,35%, uma das marcas mais altas desde 2016, consumidores também passaram a trocar alimentos que consumiam por outros mais baratos — e, novamente, isso impacta a ruptura de certas categorias.

Essa é uma justificativa para o ovo figurar no ranking elaborado pela Neogrid. Com o aumento de 38% do preço da carne nos últimos 12 meses, consumidores de baixa renda podem ter comprado mais ovos como fonte de proteína e, com isso, o estoque ficou prejudicado.

“Não é como se fôssemos atingir um estado de crise, em que tudo falta. Não é isso, é muito mais um movimento de acompanhar para entender até onde vai e observar que, por enquanto, é uma consequência mais de marcas faltando do que de crise geral de abastecimento”, diz Robson.

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