Castanho, da Ânima Educação: "Se a aula é presencial ou não, isso não importa mais. O que importa na didática é se o ensino vai ser síncrono ou assíncrono" (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 18 de maio de 2021 às 07h20.
Última atualização em 18 de maio de 2021 às 08h15.
Presidente do conselho da Ânima Educação, quarta maior rede de ensino do país em número de alunos, o administrador Daniel Castanho é do time dos incomodados com as coisas do jeito que elas sempre foram. Em particular na educação, um setor que para ele está passando por uma mudança tremenda. A pandemia jogou por terra a separação entre o ensino presencial e online. As disciplinas tampouco fazem muito sentido.
Daqui para frente, Castanho terá um campo aberto para testar a sua visão do ensino. Na semana passada, o Cade autorizou a Ânima a adquirir os negócios da americana Laureate no Brasil, anunciada em novembro do ano passado no valor de 4,6 bilhões de reais.
Com a integração, será formada uma comunidade de aprendizado de mais de 350.000 pessoas — 330.000 estudantes e 18.000 educadores, distribuídos em 16 instituições de ensino superior e oito marcas.
Às redes da Ânima, como Universidade São Judas, faculdade tradicional em São Paulo, Ebradi, de ensino de ciências jurídicas, a HSM University, de ensino de competências para o desenvolvimento profissional, a SingularityU Brazil, braço no país da prestigiada escola de inovação disruptiva do Vale do Silício e a Cordon Bleu, a escola internacional de gastronomia, a compra da Laureate vai agregar marcas como a Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo e UniRitter no Rio Grande do Sul.
Na entrevista a seguir, Castanho explica os potenciais de sinergia com a Laureate e por que acredita que o ensino será cada vez mais pautado pelo desejo e a curiosidade do próprio aluno.
"A união das duas vai formar uma rede que equivale a todas as PUCs do país em tamanho. Inicialmente estávamos prevendo 230 milhões de reais em sinergias. Agora, estamos prevendo 350 milhões de reais em overlap de pessoas. É a primeira aquisição que fazemos em que não precisamos fazer um turnaround completo na companhia. A Laureate está bem estruturada. Além disso, temos pontos fortes em coisas distintas. A Ânima tem um tíquete médio que a Laureate não tem (os cursos da Ânima, em geral, estão numa faixa de preços acima do padrão das grandes redes). Já a Laureate tem uma estrutura de ensino 100% à distância que a Ânima não tem."
"O ensino do futuro tem o conceito de uma biblioteca. É o local que despertará a curiosidade do aluno, o desejo dele de aprender de maneira ativa. Muito se fala hoje de curadoria de ensino. Entendo que o ensino vai ter o papel de mentoria do aluno, dando escolhas para ele de acordo com os percursos formativos. O aluno não quer mais ficar em sala de aula lendo apresentações em PowerPoint. Esse tipo de conteúdo hoje está de graça na internet. O aluno precisa de um projeto. A pandemia escancarou os defeitos do modelo tradicional de ensino, que para mim é um modelo "Telecurso 2000" (referência ao programa de televisão para alfabetização de jovens e adultos popular nos anos 80 e 90) focado em disciplinas fechadas em si. Agora, a educação tem tudo para ajudar a sociedade brasileira a se reinventar depois da pandemia e ser a protagonista da transformação do país. Nesse processo, muitas escolas vão fechar, vão morrer e ficar para trás se não mudarem o jeito de ensinar. A Ânima quer se consolidar como uma protagonista da educação no país."
"Muitos negócios cresceram roteirizando experiências dos clientes. A agência de viagens CVC é exemplo disso. No ensino, todo mundo quer um roteiro desse tipo. Na educação, há quem venda a ideia de oferecer a mesma aula para estudantes de Rio Branco, no Acre, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Isso é ilusório. A didática que realmente funciona é a construída junto com o aluno e não para o aluno. Por isso, estudantes em realidades diferentes terão experiências de ensino diferentes. E tudo bem. O importante é ensinar o aluno a capacidade de fazer perguntas e ampliar seus conhecimentos. Uma rede de ensino nada mais é do que um ecossistema de aprendizagem, compartilhando cultura e saberes."
"Se a aula é presencial ou não, isso não importa mais. O que importa na didática é se o ensino vai ser síncrono ou assíncrono. Por isso, acabamos com as disciplinas na Ânima. Agora temos unidades curriculares. Em vez de aprender matemática, ou física, ensinamos tudo isso dentro de uma análise de um business plan (plano de negócios). O importante é gerar momentos de debate intenso entre os estudantes e os professores. Além disso, o Zoom hoje substitui qualquer apresentação em PowerPoint. Em vez de ler uma citação de uma referência no assunto, por que não convidar a pessoa para dar uma aula e explicar diretamente aos alunos?"
"A Ânima deu um salto na pandemia. Conseguimos separar o joio do trigo e ganhar agilidade em processos. Acabamos com a área de TI. A empresa inteira hoje é responsável pelo tema em 19 squads dedicados aos problemas de TI. Reduzimos hierarquias internas. O conselho de administração, da qual faço parte, não é mais fiscalizador, mas sim um antecipador de tendências."
"O movimento foi fundamental num momento da pandemia em que todo mundo estava assustado, no ano passado. A estimativa é de que 8 milhões de pessoas deixaram de ser demitidas nos dois meses da campanha. Muitas empresas mudaram a relação com os funcionários. O comprometimento delas com as pessoas aumentou. O que eu queria agora é criar um movimento "admita" para incentivar a contratação de mão de obra, mas a gestão incompetente do país, no entanto, está colocando incertezas por todos os lados."
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