Gilberto Manteiga, fundador da MGA Moveleira e da Prohouse: “De início, teve uma certa relutância de fazer cama-baú, mas quando pegou, a coisa andou rápido, foi uma explosão” (MGA Moveleira/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 27 de fevereiro de 2024 às 09h49.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2024 às 15h16.
Quando era criança no interior do Paraná, há 60 anos, o empresário Gilberto Manteiga dificilmente conseguiria pensar que trabalharia e faria dinheiro com algo em que deitava diariamente: sua cama.
A verdade é que deitava tão cansado nela, que talvez nem conseguisse pensar muito em nada. Trabalhando no campo, pedalava sempre seis quilômetros de bicicleta para ir à escola -- e outros seis para voltar. Chegava em casa, naturalmente, exausto.
“Vivi 14 anos sem energia elétrica, sem botina, de pé descalço, trabalhei bastante no campo”, diz Manteiga.
A energia veio com a mudança da família para São Paulo. Com 14 anos, o menino chegou à capital paulista para trabalhar durante o dia numa marcenaria, e estudar à noite.
Da marcenaria, nunca mais saiu. Foi com ela que abriu uma empresa de móveis planejados e que, nos anos 1990, ajudou a fazer as bases das primeiras camas box para hotéis no Brasil. Aos poucos, o produto foi se popularizando -- e Manteiga seguiu olhando para as camas. Em 2010, abriu a Prohouse, rede de franquias de colchões e complementos para o quarto, que deve faturar 100 milhões de reais em 2024, um crescimento de 42% em relação a 2023.
Com 14 anos, Manteiga começou a trabalhar com marcenaria, na área comercial. Ali, foi aprendendo um pouco da arte e do ofício do setor. Na sequência, entrou numa empresa com 700 funcionários, já como assistente do diretor administrativo e financeiro. Era novo, tinha cerca de 20 anos, mas já cuidava de toda parte fiscal e de custos da empresa.
Aos 22, se juntou ao irmão e ao cunhado e montou a sua própria marcenaria, a MGA Moveleira. O ano era 1979. Por mais de uma década, a empresa se especializou em móveis sob medida -- modelo de negócio que Manteiga manteve até a saída do irmão e a aposentadoria do cunhado, em 1993.
Foi nesse ano que o empresário começou a fornecer estruturas de madeiras para outros empresas dos segmentos de colchão e hospitalidade. Com os retalhos de madeira que restavam da produção, viu mais uma frente de negócio: a fabricação de móveis em série para grandes redes de mobiliário e acessórios, bem como para redes de casa e construção.
O negócio escalou e, em 1997, o empresário abriu mão dos móveis planejados e passou a concentrar-se exclusivamente na produção de móveis seriados. Precisando de mais espaço, deixou a capital paulista e mudou para Itapetininga, 170 quilômetros da cidade onde tinha dado os primeiros passos como empreendedor.
Como já estava trabalhando com o setor de camas, porque fornecia para as empresas, Manteiga percebeu uma tendência que ganhava força fora do Brasil, onde as casas e os espaços já estavam ficando menores: o de cama box, com gaveta, baú e bicama. E trouxe essa tendência para cá.
“De início, teve uma certa relutância de fazer cama-baú, mas quando pegou, a coisa andou rápido, foi uma explosão”, diz.
“Fabricávamos as camas nuas, só as estruturas. Não tinha nem o colchão nem a base estofada. Como nossa base ficou bastante famosa, porque vendíamos para todas as marcas que você possa imaginar, ganhamos mercado”.
Com as camas box se popularizando, Manteiga percebeu que, se fizesse também os colchões, poderia vender tudo diretamente para os lojistas. Foi quando entraram, também, neste setor. Mas a receptividade ficou aquém do esperado. Foi então que, em 2010, decidiu abrir uma própria marca de venda de colchões, a Prohouse.
“Já é uma tendência, há 10 anos, das fábricas virem para o varejo”, diz. “Já imaginávamos que isso ia acontecer no médio e longo prazo, e aconteceu”.
No ano seguinte, começou a licenciar a marca e, em quatro anos, já tinha 15 unidades em operação no estado de São Paulo. Depois, foi também para outras regiões, principalmente próximas às fábricas, para não ter tantos custos logísticos, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
Atualmente, a Prohouse tem 63 lojas e encerrou 2023 faturando 70 milhões de reais. A meta para 2024 é atingir os primeiros 100 milhões de reais em receita com a rede de colchões. Para isso, querem abrir cerca de 40 novas lojas.
“Não é uma tarefa muito fácil, mas estamos com nosso projeto pronto, já andando”, diz. “Com investimentos na área de marketing, de expansão, divulgando a marca e procurando novos franqueados”.
Uma das dificuldades no caminho é disputar o franqueado no meio de várias marcas de franquias de colchões, que vão de conhecidas como Ortobom e Castor, até locais. Além disso, também há a briga com a venda pelo mercado eletrônico. “Está todo mundo querendo pessoas novas para expandir a sua rede, é um setor disputado”. Há também os custos logísticos. Como as camas são itens volumosos, custam bastante na logística.
Na indústria moveleira, o mercado de colchões representa em torno de 8% das vendas anuais. Em 2019, faturou 251 milhões de dólares no Brasil.
Mesmo assim, há estratégias que garantem competitividade. Um deles é que a empresa tem suas próprias florestas para garantir matéria-prima própria. Isso garante material e evita atrasos de entregas. “A gente serra, a gente planta, corta, e fazemos nossas camas”. Tal como o menino do interior de Paraná sem energia trabalhando na roça, a fazenda, de certa forma, não saiu da vida de Manteiga.