"Quem se cuida na academia, também quer cuidar da aparência", diz o fundador Nelson Lins (Face Doctor/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de agosto de 2025 às 06h06.
Em 2020, em meio à pandemia e a um cenário incerto para o varejo físico, o empreendedor pernambucano Nelson Lins enxergou uma nova brecha no mercado de saúde e bem-estar.
Com experiência de mais de uma década à frente da Selfit, uma das maiores redes de academias do Brasil, decidiu aplicar sua experiência de expansão e gestão para abrir uma rede de clínicas estéticas.
Nascia ali a Face Doctor, com foco em procedimentos como botox, preenchedores e tratamentos corporais.
"O público é o mesmo. Quem se cuida na academia, também quer cuidar da aparência", diz o fundador Nelson Lins.
Deu certo. Em apenas quatro anos, a Face Doctor já soma150 unidades em operação e prepara sua entrada no mercado internacional, com clínicas em fase final de implantação em Portugal e no Equador.
Em 2024, a empresa faturou 170 milhões de reais. A meta para 2025 é ambiciosa: chegar a até 300 milhões de reais. No primeiro semestre, o faturamento chegou a R$ 110 milhões.
A estratégia é agressiva. A rede quer encerrar 2025 com 200 unidades, abrindo em média uma nova franquia a cada 72 horas. Para isso, conta com um modelo de expansão baseado em dados — o mesmo que ajudou a escalar a Selfit.
Um software proprietário analisa dezenas de variáveis para escolher pontos comerciais, cruzando indicadores demográficos, concorrência e perfil de consumo.
Além disso, a Face Doctor aposta em profissionais da saúde como franqueados — em especial dentistas, autorizados a realizar procedimentos estéticos desde 2020.
A franquia entra com o suporte completo: treinamento, gestão, marketing, contabilidade e acesso às principais indústrias do setor, como Galderma e Allergan.
“Esses profissionais têm a técnica, mas falta conhecimento em gestão e vendas. É aí que entramos”, diz Lins.
A Face Doctor tem como carro-chefe a aplicação de toxina botulínica, o famoso botox, que representa cerca de 60% da entrada de novos clientes. Outro destaque é o procedimento "full face", que envolve múltiplas aplicações e tem um ticket médio de 1.100 reais.
Mais de 20% das unidades da rede estão em cidades do interior, com população a partir de 50 mil habitantes. Segundo Lins, essas regiões têm alta demanda reprimida e menos concorrência.
Os formatos de franquia variam de acordo com o ponto:
A veia empreendedora de Nelson Lins surgiu ainda nos tempos de estagiário num banco em Recife. Ali cresceu dentro da instituição até virar gerente. Em 2009, decidiu trocar a carreira bancária por uma aposta pessoal: tomou um empréstimo de 200 mil reais e montou sua primeira academia.
O projeto evoluiu para a Selfit, que ganhou tração com o modelo low cost a partir de 2012.
Até 2015, já havia cinco unidades quando o fundo de private equity HIG Capital entrou na operação com um aporte de 500 milhões de reais.
Hoje, a Selfit tem mais de 100 unidades e um valuation superior a 2 bilhões de reais.
“Com a Selfit aprendi tudo sobre escalar um negócio. Agora uso essa base para crescer ainda mais rápido na estética”, diz o empresário.
A Face Doctor, por sua vez, já alcançou um valuation estimado em 250 milhões de reais, e começa a atrair o interesse de investidores para uma nova rodada de capitalização.
Apesar do foco na abertura de novas unidades, a empresa também quer aumentar o ticket médio das clínicas atuais.
Segundo Lins, unidades que antes faturavam 100 mil reais por mês hoje já chegam a 500 mil. Esse salto vem do fortalecimento da marca e da oferta de procedimentos de maior valor agregado.
A longo prazo, o plano é chegar a 1.000 unidades da Face Doctor no Brasil e no exterior, consolidando a empresa como referência no setor de estética, assim como fez com academias.
“Crescer rápido é um desafio, mas a demanda está aí. Vendemos de 10 a 20 franquias por mês, e ainda tem muito mercado para conquistar.”