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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h25.
Quatro dólares. É quase isso o que uma empresa consegue economizar para cada dólar que investe na saúde de seus funcionários. Esse é um dos argumentos que o consultor americano Michael O'Donnell usa para convencer os presidentes das companhias por onde passa a investir no bem-estar de seus empregados. A idéia de promover a saúde no ambiente de trabalho surgiu há mais de 15 anos, época em que O'Donnell administrava hospitais. Quando descobriu que estava mais interessado em prevenção do que em tratamento, deixou o emprego e fundou, em 1986, o American Journal of Health Promotion (www.healthpromotionjournal.com). Logo depois criou a fundação de pesquisa que leva o mesmo nome. Além da graduação em psicobiologia e do mestrado em administração hospitalar, O'Donnell é Ph.D. em saúde comportamental e educacional, tem MBA em Berkeley, Califórnia, e é professor adjunto na Universidade de Michigan. O'Donnell, que é vegetariano e nada 12 quilômetros por semana, ainda encontra tempo para rodar o país a fim de colocar a saúde na pauta de prioridades do Senado americano. Recentemente, ele veio ao Brasil para falar dos resultados de seus estudos e concedeu esta entrevista exclusiva a VOCE s.a.
Em seus estudos, você usa os conceitos de saúde espiritual e social. O que é isso?
Eu uso o termo saúde integral (optimal health), que engloba saúde física, mental, social e espiritual. Para ser saudável é necessário ter uma missão na vida, sentir-se amado, em paz. Muitas empresas não englobam essas áreas porque acham que vão acabar falando de religião ou se intrometendo na vida pessoal de seus funcionários. O fato é que a mudança é mais eficiente quando há valores envolvidos no processo. Os resultados também são melhores quando conseguimos o apoio da família do funcionário e da comunidade em que ele vive. Homens que se sentem amados por suas mulheres têm menos problemas de saúde. De acordo com uma de nossas pesquisas, quanto mais ativos uma pessoa tem -- no caso, estamos nos referindo a família, amigos, estudo e trabalho --, mais propensa ela estará a adotar um estilo de vida saudável.
Onde é que as empresas gastam mais com a saúde de seus funcionários?
De todos os gastos, 25% estão ligados aos riscos causados pelo estilo de vida: problemas cardíacos, pressão alta e obesidade. Outros 8% estão ligados ao estresse, que aparece como nervosismo, ansiedade, mal-estar e preocupação com a performance profissional. Os gastos com um funcionário que está exposto a fatores estressantes são 46% maiores em relação ao que a empresa gasta com os outros. Mas tudo isso pode ser melhorado com um bom programa de saúde corporativa.
Implantar um programa para melhorar a saúde dos funcionários ajuda as empresas a economizar dinheiro?
Claro. Durante os últimos dois anos nos preocupamos em provar isso, estabelecendo relações entre o resultado financeiro das companhias e o estilo de vida de seus funcionários. E o fato é que 88% dessas empresas conseguiram economizar com gastos médicos depois da implantação de programas de saúde corporativa. Esses estudos, especificamente, apontaram para uma economia de 3,93 dólares para cada dólar investido.
Por onde deve começar um programa eficaz de saúde corporativa?
Primeiro, é preciso fazer uma análise. Se a maioria dos funcionários falta ao trabalho porque sente dor nas costas, é exatamente esse problema que se deve começar a atacar. O que sabemos de mais importante, porém, é que informação apenas não basta. Todo mundo sabe que fumar faz mal, mas não deixa o cigarro por causa disso. Para ter resultados é essencial habilitar as pessoas. Se o problema está na alimentação, ensine-as a preparar pratos nutritivos. Se for o tabagismo, coloque-as em um programa específico para combater o vício. Monte uma sala de ginástica, sirva alimentos saudáveis no café da manhã -- enfim, crie um ambiente que encoraje os funcionários a manter bons hábitos. Isso é o que chamamos de envolver as pessoas, comprometê-las, torná-las parte do processo. É necessário ainda fazer avaliações constantes para saber em que estágio de mudança elas se encontram. Não adianta montar uma academia se os funcionários não têm intenção de se exercitar.
Fazer essas melhorias custa muito?
Infelizmente, não custa pouco -- mas posso garantir que não fazer custa mais ainda. Eu costumava dizer: "Faça qualquer coisa que já está bom". Hoje digo: "Faça a coisa certa". Se você quer ter resultados, tem de fazer bem-feito, o que significa investir também em uma equipe expert no assunto. Nos Estados Unidos, a Chrysler é um exemplo de quem faz bem-feito. Ela tem 55 pessoas trabalhando exclusivamente com promoção de saúde, especialistas com mestrado e tudo. Não é um processo simples, mas tem retorno -- ou já teria sido deixado de lado. A Johnson & Johnson mantém seu programa de saúde há 15 anos. Mesmo quando passou por dificuldades financeiras, não abandonou o projeto. Essa é a prova de que o investimento vale a pena.
Que lições uma empresa bem-sucedida nessa área tem a ensinar?
É fundamental amarrar os objetivos do programa aos objetivos financeiros da empresa. Se você é da área de RH e diz a seu presidente que quer diminuir os riscos de doenças coronarianas entre os funcionários, é provável que não consiga apoio nenhum. Mas, se mostrar que, com isso, vai economizar no plano de saúde, por exemplo, fica muito mais fácil convencê-lo. Outro ponto é criar uma cultura empresarial que encoraje um estilo de vida saudável e envolva uma política de incentivos. O terceiro é medir os resultados e divulgá-los. Além disso, a empresa tem de saber que esse programa não pode parar nunca -- ou as pessoas simplesmente voltam ao estágio anterior.
E onde está o maior ganho que se consegue com esse investimento?
Sem dúvida, no aumento da produtividade. Eu sempre pergunto às pessoas quanto elas acham que conseguem aumentar sua produtividade quando estão bem, emocionalmente e fisicamente. Técnicos ou cientistas acham que podem produzir 1% mais; gerentes, 20% mais, e os executivos dizem que podem aumentar sua produção em 100%. O que isso quer dizer? Se estiverem equilibrados, esses CEOs têm condições de tomar decisões mais acertadas, negociar melhor e motivar as pessoas que estão abaixo deles. Um estudo feito entre funcionários do serviço de call center do banco First Chicago levou em conta as horas perdidas com faltas, estilo de vida e os riscos de saúde a que os funcionários estavam submetidos. Perguntou-se quem era fumante, sedentário, portador de diabete ou de pressão alta, por exemplo. O índice de produtividade de quem só tinha um desses fatores de risco ou nenhum era de 90%. O de quem possuía três ou mais fatores era de 86%.
As pessoas não passam o dia inteiro dentro da empresa. É preciso cuidar também de sua saúde fora do ambiente de trabalho?
Essa é a parte mais importante. É necessário envolver a família, a comunidade. Se você tem um funcionário que precisa alimentar-se melhor e é a esposa quem cozinha em casa, tem de convencê-la também. Quando as mudanças são feitas em grupo, duram mais porque em grupo as pessoas têm o apoio de que precisam. Quando se fala em parar de fumar, por exemplo, apenas 25% dos que tentam largar o cigarro conseguem. Em relação à perda de peso, só 2% ou 3% têm sucesso no longo prazo. Para manter as mudanças, precisamos de envolvimento em vários níveis. Nos Estados Unidos, o tabagismo caiu de 50% para 25% da população. Para isso, foram necessários 35 anos de campanha intensiva e só deu certo porque o trabalho envolveu toda a nação. É fácil mudar, mas não é fácil manter o que foi conseguido.
Basta adotar um programa de saúde para que uma empresa tenha funcionários mais saudáveis?
Existem outros fatores envolvidos. Algumas companhias têm bons programas de saúde e, mesmo assim, as pessoas continuam estressadas. O ambiente de trabalho é muito importante. Por exemplo, um chefe que cobra demais, grita e maltrata seus subalternos pode ser a fonte de estresse.
Além de fazer exercícios e de ter vida saudável, existe uma maneira realmente eficiente de gerenciar o estresse no trabalho?
Não existe uma única resposta a essa pergunta -- apenas conselhos gerais. Fazer exercícios e não fumar ajuda muito. O cigarro muda a fisiologia do cérebro, faz baixar a taxa de oxigênio, o que deixa as pessoas menos atentas, menos preparadas para tomar decisões. Para gerenciar o estresse, é necessário levar em conta quais são as causas e até que ponto você pode mudá-las. É possível trocar de emprego, mas não é possível esquecer que sua mãe está doente e precisa de seus cuidados. Nesse caso, você precisar aprender como lidar com o fato e fazer algo para amenizar seu efeito. Aceite o que não pode ser mudado e não desperdice sua energia com esses problemas.