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Crises e escândalos levaram Deutsche Bank a reestruturação global

A empresa acaba de anunciar uma reestruturação global para encolher seu tamanho e os riscos envolvidos na operação

Sede do Deutsche Bank em Frankfurt, Alemanha (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Sede do Deutsche Bank em Frankfurt, Alemanha (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 8 de julho de 2019 às 17h56.

Há três décadas, o banco alemão Deutsche Bank fez uma das apostas mais arriscadas de sua história: começou uma expansão agressiva para se tornar um dos grandes bancos globais de investimentos. Depois de crises, escândalos e prejuízos, o plano do banco de quase 150 anos azedou. A empresa acaba de anunciar uma reestruturação global para encolher o seu tamanho - e diminuir os riscos envolvidos na operação. 

Os cortes de 18 mil funcionários pelo mundo irão custar 7,4 bilhões de euros até 2022. A empresa não informou quais países deverão ser afetados. No Brasil, a empresa chegou em 1911 e atua com carteira comercial e de investimento.

A aposta global começou em 1989, quando o Deutsche Bank comprou o banco Morgan Grenfell no Reino Unido. Nos anos seguintes, fez aquisições na Europa e nos Estados Unidos, até chegar à Bolsa de Nova York em 2001. A expansão agressiva, no entanto, teve seu preço.

Crises financeiras e de imagem

Nos Estados Unidos, o banco era um dos líderes em empréstimos com hipotecas como garantias - serviços que foram um dos motivos para a crise global de 2008. Mesmo depois que concorrentes abandonaram a estratégia, o banco continuou a vender esses serviços. Naquele ano, reportou seu primeiro prejuízo depois de cinco décadas, com perdas de 3,9 bilhões de euros.

Em 2012, o banco se envolveu no escândalo Libor, em que investigações descobriram que bancos manipulavam a taxa de juros média, a Libor, para interesse próprio. Alguns dos principais executivos do Deutsche Bank renunciaram em meio à crise e o banco precisou pagar uma multa recorde de mais de 2,5 bilhões de dólares.

O banco também pagou multas por violar sanções dos Estados Unidos contra países como o Irã. Os escândalos e apostas arriscadas de investimentos mancharam a imagem e os resultados do banco. 

A derrocada final, no entanto, aconteceu em abril deste ano, quando as negociações de fusão com o alemão Commerzbank foram interrompidas. A operação transformaria o Deutsche Bank na segunda maior instituição financeira da zona do euro, mas os riscos e custos da operação eram muito altos, segundo o New York Times. 

Transformação radical

A reestruturação anunciada ontem deverá levar o banco para negócios menos deslumbrantes e arriscados. O banco abandonará seu negócio global de ações e reduzirá seu banco de investimentos. 

Além dos cortes esperados no negócio de ações, o Deutsche disse que também cortará algumas operações de renda fixa, área tradicionalmente considerada um dos pontos fortes do banco. Além disso, irá separar mais de 300 bilhões de dólares em ativos de risco em uma unidade distinta, que será vendida ou desativada. As transformações incluem ainda investimentos de 13 bilhões de euros em tecnologia e mudanças na diretoria do banco. 

O banco espera prejuízo líquido de 2,8 bilhões de euros no segundo trimestre, resultado dos custos de reestruturação. 

Volta às origens

As mudanças visam trazer o banco para mais perto de sua origem, financiar a expansão de empresas alemãs e europeias pelo mundo. O plano levou seis meses para ser desenhado, diz o presidente Christian Sewing. "O mundo mudou nos últimos dez anos. Vamos continuar globais, mas vamos competir onde podemos ganhar", afirmou ele em vídeo.

Sobre os cortes no número de funcionários, Sewig diz que são duros, mas indispensáveis. "No interesse de longo prazo de nosso banco, no entanto, não temos outra escolha senão abordar essa transformação de forma decisiva", afirma.

A dúvida é se a reestruturação não veio tarde demais. Em um mundo com grandes bancos de investimentos, como JP Morgan ou Goldman Sachs, corretoras independentes e milhares de fintechs, reconquistar o espaço e a reputação pode ser o maior desafio da história de 149 anos do banco. 

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