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Crise pesa e dor de empresas aéreas beneficia passageiros

Com a economia no pior ano desde 1992, as três maiores empresas aéreas do país estão oferecendo descontos para encherem os seus aviões


	Passagens aéreas: a dor das empresas aéreas até aqui está representando um ganho para os consumidores
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Passagens aéreas: a dor das empresas aéreas até aqui está representando um ganho para os consumidores (conejota/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2015 às 21h11.

Viajar de avião entre São Paulo e Rio já envolveu tarifas mais altas. Agora, com a economia no pior ano desde 1992, os passageiros estão descobrindo algo novo nessa rota: as pechinchas.

“Eu tenho encontrado bilhetes muito baratos”, disse Brooke Swartz, consultora de comunicação de 34 anos que recentemente achou uma passagem de ida de US$ 20 para o trecho Rio para São Paulo.

No ano passado, a mesma viagem de 352 quilômetros entre as duas maiores cidades do Brasil pela GOL Linhas Aéreas Inteligentes SA chegou a custar US$ 480.

A dor das empresas aéreas até aqui está representando um ganho para os consumidores na maior economia da América Latina. Em vez de reduzir os assentos disponíveis diante de uma desaceleração das viagens, as três maiores empresas aéreas do país -- Azul SA, GOL e TAM -- estão mantendo suas frotas e oferecendo descontos nas viagens para terem seus aviões o mais cheios que puderem.

“Preços mais baixos fazem parte do jogo”, disse Gianfranco Beting, diretor de marca, produto e comunicação na Azul, a empresa aérea criada pelo fundador da JetBlue Airways Corp., David Neeleman.

“Temos que trabalhar no curto prazo com uma receita menos robusta em função de um mercado que se tornou mais favorável para os compradores. Existe uma erosão da qualidade da receita”.

Essa abordagem ameaça estender os prejuízos nas empresas aéreas cujas estratégias de resposta não conseguiram acabar com os déficits anuais, segundo Savanthi Syth, um analista da Raymond James Financial Inc. em St. Petersburg, Flórida.

A Latam Airlines Group SA, com sede em Santiago, dona da TAM, não registra lucro anual desde 2012, e a GOL reportou um lucro líquido de ano-cheio pela última vez em 2010. A Avianca Brasil e a Azul são empresas de capital fechado.

Jogada estratégica

“A GOL e a TAM têm alguma capacidade de suportar as coisas por um pouco mais de tempo e de colocarem pressão sobre as outras empresas”, disse Syth.

“A curto prazo, sob uma perspectiva de lucros, será pior, mas talvez a longo prazo este seja o movimento estratégico correto”.

A GOL caiu 48 por cento neste ano enquanto a Latam teve um declínio de 16 por cento.

Os executivos dizem que estão dispostos a tolerar os prejuízos, por enquanto, em vez de desistirem dos voos e arriscarem ver os viajantes optarem por outra empresa aérea ou perderem os direitos de voos em aeroportos com acesso controlado pelo governo.

A GOL reduziu os preços em até 50 por cento em algumas rotas, disse o CEO Paulo Sérgio Kakinoff.

“A lógica é simples: entre decolar com um assento vazio e decolar com um assento menos rentável, obviamente escolhe-se a última opção”, disse Kakinoff, em um evento do setor de viagens no dia 24 de março em São Paulo. “Mas os preços de hoje não são altos o suficiente para cobrir os custos”.

Extremos da criatividade

O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ponto de partida para voos ao Rio, está entre aqueles com controles do governo sobre os slots. As empresas aéreas que operam em Congonhas e no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, precisam cumprir metas relacionadas ao tempo e aos cancelamentos ou são forçadas a devolver a rota às autoridades -- uma exigência que se torna mais pesada com a ameaça de perda de tráfego.

“Ninguém quer perder slots”, disse o CEO da Avianca Brasil, José Efromovich, em uma conferência brasileira de turismo no dia 24 de março. “Iremos aos extremos da criatividade para encontrar saídas”.

A Avianca Brasil está oferecendo descontos apenas ocasionalmente e em rotas selecionadas, disse ele em entrevista no dia 12 de abril.

A TAM não respondeu a um pedido de comentário sobre as tarifas.

A demanda por viagens no pico do verão, em janeiro e fevereiro, cresceu 4,1 por cento, segundo a associação brasileira das empresas aéreas, conhecida como Abear. As viagens executivas caíram no período, disse o presidente da Abear, Eduardo Sanovicz, em um comunicado no dia 26 de março.

“Nós temos que ver os resultados de março”, disse ele. “Isso nos dará um indicativo para o restante do ano”.

A demanda da Latam teve uma contração de 0,5 por cento no total em março e manteve-se estável no Brasil. A demanda internacional caiu 2,2 por cento, segundo um comunicado ao mercado.

A GOL ainda não informou os números de tráfego de março.

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