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Crise leva cliente da Vivara a trocar ouro por prata na pandemia

Durante o isolamento social, a fatia de venda de ouro na rede, que tradicionalmente é de 50%, caiu para 44%

Vivara: fundador, Nelson Kaufman, não estava mais à frente da gestão executiva há mais de 10 anos (Vivara/Facebook/Reprodução)

Vivara: fundador, Nelson Kaufman, não estava mais à frente da gestão executiva há mais de 10 anos (Vivara/Facebook/Reprodução)

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Clara Cerioni

Publicado em 13 de junho de 2020 às 15h35.

Última atualização em 13 de junho de 2020 às 16h29.

Uma das queridinhas do varejo no mercado financeiro, especialmente após a abertura de capital na qual levantou mais de R$ 2 bilhões, a joalheria Vivara já percebeu que os efeitos da crise gerada pela pandemia de coronavírus — forte retração na economia, com reflexos no emprego e na renda — deverá influenciar na disposição do consumidor em gastar.

Nos últimos três meses, em meio ao isolamento social, a companhia viu a venda de prata crescer em seu portfólio, uma tendência que deve se consolidar.

De acordo com Marcio Kaufman, presidente da Vivara e responsável pela aceleração da expansão do negócio fundado por seu avô há quase 60 anos, a fatia do ouro na rede, que tradicionalmente é de 50%, caiu para 44%, enquanto a participação dos acessórios ficou estável em 17%.

A diferença foi coberta pela prata, cuja relevância para a rede ficou mais próxima à do ouro. "Na média, o tíquete de compra ficou mais em conta, e percebemos o crescimento da prata", explica Kaufman.

Para Thiago Macruz, analista do Itaú BBA, essa migração não é, necessariamente, uma notícia ruim. Segundo ele, apesar de o valor dos produtos ser mais baixo do que o do ouro — o que obriga a venda de mais unidades para garantir o mesmo faturamento —, a prata tem mais margem de lucro, especialmente quando se considera a recente alta do ouro.

Para o presidente da Vivara, o cenário do varejo continua turvo e difícil de prever. A empresa está reabrindo aos poucos as lojas - atualmente 122 de um total de 259 estão em funcionamento.

A exemplo do que fizeram Magazine Luiza e Pernambucanas, a Vivara decidiu manter as portas fechadas mesmo em cidades onde o comércio estava autorizado pela prefeitura a funcionar. Essa prática foi adotada em municípios de Estados como Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina.

Capitalizada com os recursos de seu disputado IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) no ano passado, a Vivara pretendia colocar o pé no acelerador e abrir 50 novas lojas neste ano. Agora, o plano foi drasticamente revisto - a rede só vai inaugurar as 21 unidades que já estavam em obras ou prontas. As lojas da capital paulista abriram na última quinta-feira, junto com o decreto que autorizou o funcionamento parcial dos shopping centers.

Mesmo com uma expansão mais discreta este ano, o mercado vê a Vivara como uma companhia com vantagens competitivas. Macruz ressalta que não há nenhuma rede de joalheiras que sequer se aproxime da empresa em total de lojas.

Além disso, a maioria da concorrência atua no setor premium — caso da H. Stern — ou em produtos de baixo custo, feitos somente em prata. Já a Vivara veio ampliando o portfólio e atua com uma gama variada de preços mesmo quando se consideram apenas os produtos em ouro.

O executivo do Itaú BBA diz que o cenário positivo para a Vivara se refere menos à sua recuperação imediatamente após a pandemia - que vai depender muito da disposição do consumidor em comprar produtos supérfluos -, mas a fatores de longo prazo.

Um deles é o poder de negociação na hora de abrir novas lojas: "A Vivara é vista como uma âncora, embora suas lojas não sejam tão grandes", diz. "E isso pode dar à empresa, no pós-crise, acesso a pontos melhores." Kaufman diz que o plano de expansão da Vivara, embora tenha sofrido um revés temporário, segue em pé - e vai focar nos shopping centers.

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