Negócios

Crise da Petrobras atinge Europa e prejudica parceiros

Parceiros europeus da Petrobras estão enfrentando problemas com pagamentos e adiamentos de entregas, uma dura inversão em relação a cinco anos atrás


	Petrobras: a estatal está cortando investimentos em meio à queda dos preços do petróleo e está praticamente sem acesso aos mercados de crédito
 (Paulo Whitaker/Reuters)

Petrobras: a estatal está cortando investimentos em meio à queda dos preços do petróleo e está praticamente sem acesso aos mercados de crédito (Paulo Whitaker/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2015 às 17h30.

Quando investiu US$ 300 milhões no Brasil, no começo da década, a empresa italiana de serviços petrolíferos Saipem SpA se uniu a uma longa lista de empresas estrangeiras que disputavam negócios com a Petrobras.

Agora, ela está tendo dificuldades para ser paga.

A Saipem é uma das pelo menos cinco empresas europeias que falaram a respeito de atrasos em pagamentos, adiamentos de entregas ou outras dificuldades no Brasil durante as teleconferências de lucro do quarto trimestre.

Embora as operações do dia a dia estejam funcionando, os parceiros da Petrobras também estão enfrentando obstáculos na tomada de decisões que estão inibindo o planejamento, disseram funcionários das parceiras Galp Energia SGPS SA, BG Group Plc e Repsol SA, que pediram anonimato.

Trata-se de uma dura inversão em relação a cinco anos atrás, quando uma leva de empresas de serviços petrolíferos europeias e americanas migraram avidamente para o Brasil para construir fábricas e estabelecer escritórios.

Na época, a Petrobras estava ampliando os investimentos para mais de US$ 100 milhões por dia depois de realizar a maior descoberta de petróleo do Hemisfério Ocidental em décadas.

Hoje, a Petrobras está cortando investimentos em meio à queda dos preços do petróleo e está praticamente sem acesso aos mercados de crédito por causa de um escândalo de corrupção arrebatador.

“O Brasil é um grande mercado”, disse Terje Soerensen, CEO da operadora norueguesa de navios de apoio a plataformas Siem Offshore Inc., em entrevista por telefone. “Quando ele para, afeta todo o setor”.

Atrasos na entrega

A Siem não sabe se os quatro a seis navios que a empresa separou para contratos brasileiros serão necessários agora, disse Soerensen.

Executivos da Saipem disseram em uma teleconferência de lucros no dia 16 de fevereiro, que alguns pagamentos da Petrobras estavam atrasados. O CEO da norueguesa Aker Solutions ASA, Luís Araújo, disse em entrevista no dia 17 de março, que a empresa recebeu um pedido para adiar entregas de equipamentos.

A Vallourec SA, uma fabricante de oleodutos francesa, e a Alfa Laval AB, uma firma sueca de engenharia para a indústria petrolífera, também citaram um ambiente difícil para os negócios em teleconferências em fevereiro.

As fornecedoras americanas de serviços para campos de petróleo Halliburton Co. e Schlumberger Ltd. revelaram preocupações similares. A Halliburton, que tem sede em Houston, prevê que as atividades continuarão caindo no Brasil, disse o presidente Jeff Miller em uma teleconferência no início do ano.

Os cortes de investimento anunciados pela Petrobras criarão “desafios” neste ano, disse o CEO da Schlumberger, Paal Kibsgaard.

Um assessor de imprensa da Petrobras não pôde comentar imediatamente. Assessores de imprensa da BG, com sede em Londres, e da Repsol, com sede em Madri, preferiram não comentar, e um assessor da Galp, com sede em Lisboa, não respondeu a um pedido enviado por e-mail.

Turbulências do escândalo

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, disse na terça-feira que a recuperação da Petrobras prosseguiria com a publicação de um comunicado financeiro auditado, bastante atrasado, até o fim de abril.

Em uma entrevista exclusiva no Palácio do Planalto, em Brasília, Dilma negou que soubesse do escândalo de propinas que sacudiu a empresa da qual ela foi presidente do Conselho de Administração entre 2003 e 2010. No mesmo dia, as ações e bonds subiram depois que a empresa assinou um acordo de empréstimo de US$ 3,5 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China.

Na semana passada, a Odfjell Drilling Ltd., da Noruega, disse que poderá encerrar uma parceria com a Galvão Óleo Gás SA, uma unidade da holding brasileira Grupo Galvão, e que está revendo suas operações no Brasil depois que a empresa foi ligada ao escândalo da Petrobras. Um assessor de imprensa da Galvão em São Paulo preferiu não comentar.

A incerteza para as fornecedoras estrangeiras continuará enquanto elas esperam que a nova equipe de gestão da Petrobras analise contratos e investimentos, disse Karl-Johan Bakken, CEO da Farstad Shipping ASA.

“Nós apreciaríamos que esse processo fosse concluído de forma eficiente e que tivéssemos um esclarecimento logo para que o mercado possa voltar ao normal”, disse Bakken em entrevista por telefone.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEnergiaEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisIndústriaIndústria do petróleoIndústrias em geralOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

Mais de Negócios

Jurada do Shark Tank, ela transformou US$ 60 mil em dívidas em um negócio que fatura US$ 100 milhões

Startup quer facilitar a compra da casa própria e mira faturar R$ 17 milhões

Startup do Recife cria “leilão reverso” para vender seguro de vida mais barato e personalizado

JD.com e Tmall superam expectativas no Double 11 com alta de vendas e recordes