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Cris Junqueira: Mundo favorece o homem, então mulher tem que ser melhor

Cofundadora do Nubank fala sobre mulheres no mercado, Pix, concorrência e o futuro da empresa

Cristina Junqueira, vice-presidente do Nubank, foi entrevistada no Roda Viva (Divulgação/Divulgação)

Cristina Junqueira, vice-presidente do Nubank, foi entrevistada no Roda Viva (Divulgação/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 20 de outubro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 12h53.

A empresária Crsitina Junqueira, cofundadora do banco digital Nubank, tem uma visão pragmática sobre como lidar com diferenciação entre mulheres e homens no mercado de trabalho. Ela é uma das principais empresárias do mundo das fintechs, empresas de tecnologia que atuam no mercado financeiro, um setor majoritariamente masculino. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Junqueira disse que sua estratégia para crescer na carreira foi ser melhor do que os homens que estavam à sua volta.

“A realidade é que o mundo favorece o homem. Então, o que falo para as pessoas, e o que vou falar para minhas filhas, é: Não esteja em condições iguais, seja melhor. Eu não tenho tempo para esperar o mundo ficar igual para minha carreira avançar, então minha estratégia é que sempre tentei estar à frente”, disse.

A empresária falou também sobre a importância de se ter referências femininas no mercado. “Eu nunca tive uma chefe mulher, essa é uma questão geracional, minha geração não teve. E essa é uma responsabilidade que sinto, que é oferecer uma referência. Você não consegue sonhar com algo que você nunca viu”, afirmou. A entrevista foi ao ar nesta segunda-feira (19).

Mãe de duas filhas, a empresária afirmou que as mulheres são 43% do corpo de funcionários do Nubank e que 93% das mães do Nubank usam o benefício da maternidade estendida de seis meses. Segundo ela, no mercado a média de mulheres que usam o benefício, mesmo tendo a possibilidade, é de 40%. “Lá, por terem me visto grávida e exercer minha maternidade de maneira intensa, as mulheres se sentem confortáveis em exercer a maternidade delas”, disse.

Fim do rotativo do cartão?

Junqueira também falou na entrevista sobre os juros do cartão de crédito, e sobre a intenção do Nubank de acabar com o rotativo do cartão. “O rotativo do cartão de crédito é uma maneira ineficiente de dar crédito. Se o cliente entra no rotativo, ele está nas últimas, todo mundo sabe que é caro, e então a probabilidade de inadimplência é altíssima, e ele entra em um círculo vicioso. Precisamos reinventar isso, e estamos fazendo testes no mercado com modalidades diferentes, com taxas mais baixas, no patamar das taxas do crédito consignado”, disse.

Segundo Junqueira, apenas 3% dos clientes do Nubank entram no rotativo do cartão de crédito, enquanto no mercado essa proporção pode chegar a 30%. “Fazemos de tudo para ele não entrar no rotativo. Queremos fomentar o comportamento para um uso de crédito mais consciente e mais barato”, disse.

O Pix e 'nubancarização' do mercado

Para a empresária, a tecnologia está trazendo mudanças de forma acelerada ao mercado financeiro, movimento que se acelerou com a pandemia do novo coronavírus. E o Pix, sistema de pagamento instantâneo desenvolvido pelo Banco Central, é uma expressão dessa mudança. “Na pandemia vimos a redução do uso do cartão, aumento do cartão virtual, aumento de mais de 30% das transações sem contato. Isso não tem volta e o Pix coroa esse processo e o expande para além do cartão”, afirmou.

A empresária foi questionada se o Pix não aproximaria a concorrência do Nubank. Segundo ela, o foco da companhia para continuar se diferenciando é a experiência do cliente. “O Pix cria uma espécie de nubancarização do mercado. Nós nascemos grátis, com 24 horas de funcionamento. Agora tem regulamentação que fala disso. Nossa aposta é nos diferenciar pela experiencia do cliente. Nosso cartão não cobrava tarifa, e hoje tem um monte que não cobra, mas ainda assim oferecem experiência ruim”.

Subestimados pela concorrência

A empresária também falou sobre a forma como a concorrência lida com os avanços do Nubank, inclusive com o sucesso do banco no cadastramento de chaves do Pix. “Primeiro eles acharam bonitinho, depois disseram que desistiríamos. Depois diziam que a gente deveria estar descumprindo alguma regra do Banco Central. Isso chega em nós. Mas sempre dissemos que é ótimo sermos subestimados”, disse.

Junqueira lembrou do início do Nubank, que norteia o posicionamento da empresa frente aos grandes bancos. “O Nubank nasceu de um inconformismo, de uma revolta. Éramos revoltados com o que passávamos. A gente pagava um dos maiores juros e tinha uma das piores experiências. Sabíamos que com design e tecnologia era possível fazer diferente, mas existia a ideia de que o mercado financeiro era uma vaca sagrada que não se podia desafiar”, afirmou.

Nubank na aviação?

Sobre o futuro da companhia, a empresária disse que vender o Nubank para outra empresa está fora de cogitação, mas que a abertura de capital está nos planos. Já a atuação em outro setor para além do mercado financeiro é uma incógnita. Recentemente, o Nubank comprou a Easynvest e se prepara para entrar no mercado de investimentos (a transação ainda precisa ser aprovada pelo Cade).

Junqueira contou que os clientes pedem nas redes sociais para que o Nubank atue nas áreas mais diversas, da telefonia à aviação. “As pessoas veem uma experiencia ruim e querem que a gente resolva esse problema para elas. Somos uma empresa de tecnologia que está resolvendo problemas do setor de serviços financeiros. Mas vai saber? Avança uns anos para saber se não vamos para outro setor”.

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