Indivíduos e organizações em todo o mundo se modificam em uma velocidade inimaginável há poucas décadas, mas essa mudança acelerada não faz parte da nossa natureza e a maioria das empresas tem dificuldade em se adaptar a essa realidade (Constantine Johnny/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de julho de 2022 às 08h00.
Considero uma grande sorte estarmos presenciando a Revolução Digital. Estamos vivendo todas as mudanças causadas por essa revolução e tentando nos adaptar diariamente. Indivíduos e organizações em todo o mundo se modificam em uma velocidade inimaginável há poucas décadas.
Mas essa mudança acelerada não faz parte da nossa natureza e a maioria das empresas tem dificuldade em se adaptar a essa realidade. A alavanca para permitir uma transformação mais rápida está na habilidade da liderança em criar um espaço que permita o florescimento da criatividade e por consequência a geração de inovação voltada a novos produtos, serviços e modelos de negócio.
O tamanho da organização me parece irrelevante. O tamanho do apetite é de extrema importância. Gosto da palavra apetite para descrever a vontade essencial de um grupo de indivíduos e organizações de tirar algo do mundo das ideias. O apetite é mais importante do que a capacidade de investimento e o acesso à tecnologia. Sem ele as mudanças mais substanciais não ocorrem.
Essa vontade chamada de apetite não é inerente a qualquer tipo de pessoa. A incrível escritora Carol Dweck foi impecável ao descrever essa situação no livro Mindset. Ao diferenciar dois tipos de pensamento, Carol descreve que o mindset fixo dificulta o desenvolvimento e a mudança. Já o mindset de crescimento é um ponto de partida para a mudança.
Durante todo o livro Carol vai descrevendo seus aprendizados com sua pesquisa chamando a atenção para o processo educacional das crianças. Ao afirmar que os pais deveriam valorizar o esforço de uma criança e não o sucesso causado por uma habilidade natural, essas crianças terão como motivação em suas vidas a melhoria em tudo o que fazem. Elas buscarão sempre atingir um patamar mais alto a cada dia. Chamado de mindset de crescimento, essa característica foi descrita por Carol por meio de sua pesquisa com grandes líderes, grandes esportistas e crianças.
Outro autor de extrema relevância que me parece importante trazer aqui é Ken Robinson. O grande especialista em educação e inovação afirma, de maneira crítica e objetiva, que o processo de educação atual mata a criatividade natural das crianças. O estudo de Ken é muito importante para responder a velha pergunta sobre a capacidade de criatividade. Sim, a conclusão de Ken é de que todos nós somos naturalmente criativos e que nosso processo educacional mata nossa criatividade.
Ao escolher esses dois gigantes para seguir adiante com esse pensamento, chamo atenção para a necessidade de desenvolver o apetite e dar espaço para nossa criatividade natural dentro das organizações. É por essa razão que dependemos tanto da liderança para criar empresas inovadoras. Depende do grupo de liderança a busca de objetivos desafiadores e a criação de um ambiente que incentive a criatividade. Essa é seguramente a fórmula da inovação. A inovação é igual o tamanho do apetite multiplicado pelo ambiente de criatividade.
Vamos ver quais são os passos para tornar esse discurso uma realidade:
O desafio move pessoas e organizações. Deixe aquelas famosas falas “aqui isso não dá certo” ou “já tentamos no passado e não deu certo” de lado e promova um ambiente desafiador para todos na companhia. E que fique claro que não estamos falando de faturamento ou de rentabilidade. Estamos falando sobre o que está por baixo de tudo isso. Ao criar desafios organizacionais que melhorem o desempenho da organização, você dará um belo passo para ampliar o apetite. Desafiar os times para que desenvolvam soluções para atingir os objetivos estratégicos é essencial.
Para que tudo isso de fato seja relevante, líderes precisam criar desafios que sejam realmente importantes. Podemos encontrar infinitos exemplos dessa realidade no dia a dia do mundo corporativo.
Um outro elemento essencial para a criação de um ambiente de grande apetite é abrir espaço para comportamentos divergentes. Esse fator é fortemente descrito em um dos modelos mais utilizados no mercado para a geração da inovação. O Design Thinking, popularizado por um de seus atores, o consultor Tim Brown, e pelo modelo do Double Diamond do Conselho Britânico de Design, afirma que as organizações precisam criar espaços para o processo divergente.
Ao permitir somente o processo de pensamento convergente dentro das empresas, ou seja, de fortalecer o modelo de pensamento onde a maioria dos colaboradores deve convergir para o pensamento da liderança, ou até mesmo somente do CEO, não se aproveita a capacidade criativa da maioria das pessoas. Ao matar o pensamento divergente, você está matando a criatividade. Criar espaços de pensamento divergente significa utilizar da criatividade natural de cada indivíduo para potencializar a criatividade e gerar novas ideias para solucionar os problemas complexos da organização.
Uma estratégia que gosto de chamar a atenção é a quantidade de empresas que estão criando seus laboratórios internos. Esse modelo se popularizou ao criar espaços dentro das empresas para que projetos de inovação possam ser discutidos, testados e implementados. Os laboratórios permitem que os desafios sejam estimulados e que tenhamos dentro das empresas espaços genuínos para a criatividade ser o grande combustível.
Tive a oportunidade de escutar algumas vezes de líderes e colaboradores organizacionais que uma ideia nova normalmente é tratada como piada em algumas empresas. Isso é realmente triste de escutar. Ao transformar a criatividade em piada, a cultura mata qualquer possibilidade de inovação. Os laboratórios são espaços protegidos para que isso ocorra de maneira natural sem nenhum julgamento.
Outro elemento importante para fortalecer a cultura de criatividade é o de parabenizar publicamente aqueles colaboradores que participam de projetos e processos que tem como objetivo desenvolver a cultura de criatividade. Faça isso uma vez por mês. Comemore e premie as pessoas que utilizaram da criatividade para solucionar problemas estratégicos da organização. E acima de tudo comunique e mostre para toda a organização o motivo pelo qual essa pessoa está sendo valorizada. Isso gerará um movimento que motivará todos os colaboradores a inovar.
Não coloque mesas de sinuca ou piscina de bolinha para dizer que a empresa agora valoriza a criatividade. Acima de tudo, criatividade e inovação devem estar ligadas a estratégia e a criação de valor financeiro para o negócio. Não infantilize a criatividade.