Jair Bolsonaro no hospital, fazendo gesto com as mãos que simula armas: Bolsonaro é um defensor da posse de armas de fogo como instrumento de defesa pessoal (@FlavioBolsonaro/Twitter/Reprodução)
Mariana Fonseca
Publicado em 19 de setembro de 2018 às 17h49.
Última atualização em 19 de setembro de 2018 às 18h02.
O crescimento do candidato Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas eleitorais trouxe boas notícias para os executivos da Forja Taurus, maior fabricante de armas do país, com sede na cidade gaúcha de São Leopoldo.
Bolsonaro é um defensor da posse de armas de fogo como instrumento de defesa pessoal, o que, na visão de um grupo crescente de investidores, pode impulsionar os negócios da companhia. Nesta quarta-feira, após uma nova pesquisa Ibope que mostra Bolsonaro com 28% das intenções de voto, as ações da companhia subiram 23%. Desde o início do mês, os papéis mais que dobraram de valor.
A companhia também vem sendo ajudada por uma confluência de fatores que vão da alta do dólar ao ótimo momento da economia americana. No primeiro semestre, as vendas cresceram 23%, para 430 milhões de reais — 83% desse total foi para o mercado externo. Com isso, o Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) saiu de 5 milhões de reais negativos no primeiro semestre do ano passado para 73 milhões positivos de janeiro a junho de 2018.
A melhora de resultados é ajudada pelo bom desempenho sobretudo no mercado americano, onde a política também já jogou a favor do setor de armas. A campanha do presidente americano Donald Trump deu um novo gás para o mercado.
Por lá, a Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla original) investiu 30 milhões de dólares na campanha à presidência de Trump em 2016, de acordo com a Bloomberg. Com medo de um controle mais rigoroso da posse de armas durante o governo democrata, a demanda dessas fabricantes subia a cada novo tiroteio em massa.
Em 2015, tanto a fabricante Smith & Wesson quanto a concorrente Sturm, Ruger and Company aproximadamente duplicaram seu valor de mercado. Mas em novembro de 2016, com a vitória de Trump e a percepção de que o controle de armas seria mais permissivo, as ações da Smith & Wesson caíram 10,21%, enquanto as da Sturm encolheram 12,29%.
O mercado arrefeceu, mas a Taurus manteve um bom ritmo: as vendas crescerem 9,4% por lá no primeiro semestre. O mercado americano é responsável por 90% das vendas internacionais da Taurus.
Fundada em 1939, a Taurus é uma das três maiores fabricantes de armas leves do mundo, e exporta para mais de 70 países. Tem capital aberto há mais de 30 anos e vive um período de bons negócios após, curiosamente, decidir cortar a dependência das armas numa ampla reestruturação em 2011. A empresa passou a investir na fabricação de capacetes, contêineres e ferramentas. Mas uma nova mudança estratégia e a mudança de comando, desta vez em 2015, fez a empresa voltar a ver valor no negócio de armas. Em maio, a divisão de capacetes foi colocada à venda.
Com valor de mercado considerado pequeno pelos investidores (260 milhões de reais) e pouca liquidez, a empresa está seguidamente sujeita a grandes variações. Há um ano, um relatório da Inversa fez as ações subirem 47% num dia. Mas os papéis logo voltaram a cair após outro relatório, desta vez da Suno Research, não enxergar sustentabilidade financeira para a companhia, encurralada com uma dívida que, na época, somava 700 milhões de reais.
A empresa também enfrenta problemas de imagem após acusações de falhas em suas armas, que levaram a uma sequência de processos em vários estados. O exército chegou a suspender a compra de alguns modelos, e algumas unidades de polícia, como a Militar de Goiás, tiraram lotes de circulação. Em novembro do ano passado, o Ministério Público Federal pediu uma investigação contra a empresa por supostos disparos acidentais e defeitos na fabricação de alguns produtos.
O Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul ainda denunciou, em 2016, dois ex-executivos por vender armas a um traficante do Iêmen, país em guerra civil, o que violaria sanções internacionais. A empresa sempre recorreu destas acusações que, em maior ou menor grau, fazem parte do risco inerente de atuar num mercado tão delicado.
Uma das vantagens, como se viu nesta quarta-feira, é que o noticiário político e temas de segurança também podem jogar a empresa para cima.