Negócios

Credores aprovam plano de recuperação judicial da Casa do Pão de Queijo. E agora?

O plano final foi apresentado na assembleia com pequenas mudanças em relação à versão anterior, apresentada em abril

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 10 de junho de 2025 às 16h34.

Última atualização em 25 de outubro de 2025 às 14h31.

O plano de recuperação judicial da Casa do Pão de Queijo foi aprovado pelos credores no último dia 6 de junho.

A proposta trata da reestruturação de uma dívida de 57,5 milhões de reais, envolvendo a holding e 28 lojas próprias em aeroportos. As 170 franquias da rede não fazem parte do processo.

O plano aprovado estabelece condições diferentes para cada classe de credores. Trabalhadores têm direito a receber até 7.000 reais à vista, enquanto fornecedores e pequenas empresas enfrentam deságios de até 80% sobre os valores devidos, além de carência de quase dois anos e parcelamento em dez anos.

O plano final foi apresentado na assembleia com pequenas mudanças em relação à versão anterior, apresentada em abril.

Para tentar cumprir o plano, a empresa aposta ainda na venda de dois ativos — as chamadas UPIs — que incluem a marca, a indústria e o braço de franquias. O dinheiro obtido será usado para acelerar os pagamentos aos credores.

O plano foi aprovado por 95,65% dos credores trabalhistas, 100% dos pequenos credores e 93% do valor total dos créditos da classe de fornecedores e bancos. Ao todo, participaram 114 credores nas três categorias com direito a voto.

O plano prevê condições especiais para quem aceitar colaborar com a reestruturação da empresa.

  • Fornecedores parceiros: não terão deságio e poderão receber ao longo de 10 anos, com bônus de 2% sobre as compras.
  • Locadores de espaços: carência até janeiro de 2026, deságio de 14% e parcelamento em 60 meses.
  • Financeiros: quem oferecer crédito à companhia poderá receber à vista, com deságio de 36%, e terá preferência no recebimento em caso de venda de ativos.

Como a Casa do Pão de Queijo foi criada

A Casa do Pão de Queijo, comercialmente conhecida como CPQ Brasil S/A, é uma empresa fundada por Mario Carneiro em 1967. A história da empresa começou com uma receita especial de pão de queijo criada pela sua mãe, Dona Arthêmia.

A primeira loja foi inaugurada na Rua Aurora, no centro de São Paulo, e rapidamente se tornou um sucesso, vendendo 2 mil pães de queijo no primeiro dia.

Com o crescente sucesso, a empresa construiu sua primeira fábrica na Barra Funda, São Paulo, permitindo a expansão da produção e a adoção do modelo de franquias. Em 1987, sob o comando de Alberto Carneiro Neto, a imagem de Dona Arthêmia passou a estampar a logomarca da empresa.

Nos anos 2000, com mais de 200 lojas franqueadas, a Casa do Pão de Queijo recebeu um aporte de capital do fundo de Private Equity do Banco Pátria, possibilitando a construção de uma nova fábrica em Itupeva, São Paulo. Em 2005, a empresa alcançou 700 pontos de venda e, em 2008, atingiu a marca de 1.000 pontos de venda.

Em 2009, o Banco Standard se tornou sócio da empresa, junto com Alberto Carneiro e Marco Aurelio Aliberti Mammana, adquirindo a participação do fundo do Banco Pátria. Em 2010, a CPQ Brasil S/A adquiriu os direitos da marca "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo".

Em 2012, após o Standard Bank encerrar suas atividades no Brasil, Alberto Carneiro e Marco Aurelio Aliberti Mammana adquiriram 100% da CPQ Brasil S/A.

A empresa apostou nos últimos anos na abertura de unidades próprias em aeroportos. Ao todo são 22 lojas próprias, 170 franquias.

O que levou a Casa do Pão de Queijo à recuperação judicial

A Casa do Pão de Queijo apostou nos últimos anos na abertura de unidades próprias em diversos aeroportos. A empresa investiu aproximadamente R$ 14 milhões para abrir dez novas lojas em aeroportos privatizados, motivada por grandes eventos internacionais como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

No entanto, a pandemia de covid-19 em março de 2020 causou uma queda drástica no faturamento, com perdas de 97% nos primeiros três meses e uma redução total de 50% no ano, informa a empresa no processo.

Os franqueados da Casa do Pão de Queijo também foram severamente impactados. A empresa informa que muitos franqueados tiveram de fechar suas lojas.

Na pandemia, a fábrica de Itupeva interrompeu a produção várias vezes, resultando em perda de produtividade.

A empresa também destaca a falta do delivery como um agravante para a queda da receita durante a pandemia.

"A empresa enfrentou dificuldades para obter linhas de crédito junto aos bancos, sendo forçada a recorrer ao não pagamento de impostos temporariamente", diz o processo.

Crise no Rio Grande do Sul

A Casa do Pão de Queijo operava quatro lojas no aeroporto de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que geravam um fluxo de caixa significativo para a empresa.

A tragédia climática que atingiu o estado teve um impacto financeiro negativo de quase R$ 1 milhão por mês em vendas e resultou em uma perda de Ebitda de aproximadamente R$ 250 mil por mês, informou a empresa no processo.

Quem são os principais credores da Casa do Pão de Queijo

  • Credores Quirografários (R$ 55,8 milhões)
  • Microempresas e empresas de pequeno porte (R$ 1,3 milhão)
  • Credores trabalhistas (R$ 244,3 mil)

Credores extraconcursais (passivos detalhados no processo que não entraram no pedido de recuperação judicial):

  • Total: R$ 53,2 milhões
  • Passivo tributário: R$ 28,7 milhões
  • Bancos:
    Itaú (R$ 24 milhões)
    Daycoval (Leasing): (R$ 64,8 mil)
    HP Financial Services Arrendamento Mercantil S.A.: (R$ 41,3 mil)
    Banco Safra: (R$ 85,5 mil)
Acompanhe tudo sobre:Recuperação Judicial

Mais de Negócios

Natura lança novo conceito de loja que une natureza e propósito

Por que bússola do mercado imobiliário aponta para litoral norte de SC

Sem salários de seis dígitos, mas com US$ 1 milhão: o segredo deste casal para construir riqueza

Hospital Sepaco recebe acreditação e é destaque na Newsweek