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CPMI da JBS quer acareação entre advogado e delator

O objetivo do presidente da comissão no Congresso, senador Ataídes Oliveira, é colocar delator e delatado frente a frente para confrontar suas versões

JBS (Ueslei Marcelino/Reuters)

JBS (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de outubro de 2017 às 13h50.

Brasília - O presidente da CPMI da JBS no Congresso, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), pretende realizar uma acareação entre o advogado Willer Tomaz de Souza e o diretor jurídico do grupo J&F, Francisco Assis e Silva. O objetivo é colocar delator e delatado frente a frente para confrontar suas versões.

Souza, que advogou para a Eldorado, empresa da holding J&F, é suspeito de intermediar o pagamento de propina ao procurador Ângelo Goulart Villela, investigado pelo vazamento de dados de investigações em curso contra a empresa.

De acordo com as delações da JBS, o grupo contratou o advogado pelo fato de ele ter bom trânsito com integrantes do Judiciário em Brasília e, especialmente, por sua relação com o procurador Villela, que atuava na Operação Greenfield. O objetivo seria conseguir o arquivamento das investigações contar executivos do grupo na operação.

O advogado prestou depoimento nesta quarta-feira, 4, a parlamentares por cerca de três horas e meia. A reunião foi secreta e não pôde ser acompanhada por jornalistas.

Segundo os relatos de quatro parlamentares que acompanharam a sessão, Souza apontou irregularidades em sua prisão e acusou o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de ser seletivo ao apresentar gravações e mensagens contra ele no processo. Ainda segundo os relatos, o advogado mostrou áudios e transcrições de conversas com executivos da JBS que teriam sido omitidos por Janot.

"(O depoimento) É muito grave no meu modo de ver. Isso sinaliza algo que eu sempre entendi como correto que é a existência de um complô que envolveu uma série de pessoas", afirmou o relator da CPI, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), a jornalistas ao deixar a reunião. "São empresas e até membros de instituições que visavam derrubar o presidente Michel Temer."

De acordo com os parlamentares, Souza chegou a chorar em vários momentos e disse que sua prisão foi "ilegal". "Fiquei surpreso com o que ouvi hoje. A prisão é grave porque, pelo que ele disse, havia um complô para prendê-lo, inclusive com a citação a senadores com foro privilegiado", disse Ataídes. "Ficou claro que delação tinha como alvo o presidente Michel Temer."

Souza foi preso no dia 18 de maio, na Operação Patmos, após o empresário Joesley Batista apontar Souza como intermediário da propina a Villela. O procurador é suspeito de receber pagamentos mensais de R$ 50 mil para beneficiar a empresa. Os dois foram soltos em agosto, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Acordão

Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), porém, o que se viu na sessão secreta foi um "jogo de cartas marcadas" para atacar as investigações do Ministério Público Federal.

"O que eu vi foram os parlamentares do PT, do PSDB e do PMDB, os principais partidos implicados na Lava Jato, conspirando contra o MP, junto com um réu que estava lá depondo", disse Randolfe.

"O que assisti do depoimento e das intervenções foi um jogo de cartas marcadas que tem um fim combinado: acabar com o instituto das delações premiadas como existe hoje e acabar com qualquer investigação contra poderosos."

Ao final do encontro, Ataídes minimizou os protestos de Randolfe. Segundo ele, o senador da Rede apareceu apenas no fim da reunião e não acompanhou o depoimento na íntegra.

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