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Cotação do petróleo Brent pode atingir um dígito, menor patamar desde 1980

Em meio à pandemia do coronavírus, os cortes de produção não têm sido suficientes para amortecer a queda da demanda

Cortes de produção não têm sido suficientes (Feifei Cui-Paoluzzo/Getty Images)

Cortes de produção não têm sido suficientes (Feifei Cui-Paoluzzo/Getty Images)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 22 de abril de 2020 às 12h25.

Após os contratos futuros de petróleo nos Estados Unidos operarem no terreno negativo na segunda-feira, 20, agora é a vez do Brent despencar no mercado internacional. Especialistas ouvidos pela EXAME não descartam que a cotação do barril negociado na Europa e no Oriente atinja o patamar de um dígito, pela primeira vez desde 1980.

Os ajustes de oferta acordados entre os maiores países produtores não têm sido suficientes para amortecer a queda brutal da demanda, ocasionada pela pandemia do novo coronavírus.

A retração é tão grave que não há mais espaço para estocagem nos Estados Unidos, onde os produtores estão usando cavernas, trens e navios para armazenar o produto. Até os famosos oleodutos (pipelines) americanos estão enfrentando problemas de excesso de óleo.

No mundo, os terminais da commodity também estão operando sob forte pressão, como em Cingapura. Na região do Mar do Norte, os estoques estão praticamente lotados e, o que resta, já está agendado para as próximas semanas.

"Em abril e maio, o mercado vai continuar pressionado. Não descartamos o Brent a um dígito", afirma Marcelo Assis, chefe de pesquisa da consultoria especializada Wood Mackenzie América Latina na área de upstream.

Ele lembra que o barril operou nesse nível na década de 1980, quando houve uma guerra de preços encabeçada pela Arábia Saudita, que não estava contente com o início da exploração de petróleo no Mar do Norte e em outros países, como o Brasil, que iniciou atividades em águas rasas.

A Wood Mackenzie trabalha com uma projeção de queda média da demanda global de 3,6 milhões de barris por dia (bpd), na média anual, para 2020. A consultoria estimava, no início do ano, um crescimento do consumo de aproximadamente um milhão de bpd.

Com isso, atualmente, o excesso de oferta (na média anual) é de aproximadamente um milhão de bpd. "Todos os cenários que estamos trabalhando contemplam uma abertura gradual da circulação de pessoas ao redor do mundo, mas se tiver um repique de infecções pela covid-19, a situação pode piorar ainda mais", diz Assis. 

A consultoria estimava uma média para o Brent, neste ano, de aproximadamente 60 dólares. No entanto, agora a projeção gira em torno de 36 a 40 dólares, com o pior período de preços para abril e maio. "Esperamos uma retomada para o segundo semestre", afirma o analista.

Walter de Vitto, da Tendências Consultoria, destaca que nesse patamar de preços, muitos produtores ao redor do mundo - especialmente no shale gas dos Estados Unidos - não conseguem operar, o que deve levar à falência de inúmeras empresas locais.

Diante deste cenário, os preços devem voltar a trilhar um caminho de recuperação. "Devemos ter um novo equilíbrio de preços, mas quando isso vai acontecer depende da velocidade e da magnitude da retomada da demanda", afirma de Vitto.

Uma nova guerra?

A Guarda Revolucionária do Irã disse nesta quarta-feira, 22, que lançou o primeiro satélite militar do país, em meio às polêmicas em relação ao seu programa nuclear e de mísseis.

Em resposta, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump afirmou pelo Twitter ter instruído a Marinha americana "a abater e destruir toda e qualquer embarcação iraniana" caso se aproximem dos navios americanos.

Após o tuíte, os preços dos contratos futuros dispararam 27% nos Estados Unidos.

No entanto, para analistas, estes movimentos pontuais podem ser estratégicos, porque tanto o Irã quando os Estados Unidos são grandes produtores de petróleo e têm todo o interesse que os preços ganhem fôlego.

Apesar disso, o mercado segue incerto. "Quando olhamos para junho, não temos muita clareza sobre como vai estar o cenário", diz de Vitto.

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