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Coronavírus fará setor de veículos recuar 15 anos, diz presidente da Fiat

Para Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automóveis para a América Latina, montadora vai manter investimentos no Brasil

Fiat: cadeia automotiva está em negociações com o governo e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para negociar liberação de crédito às empresas do setor (Arnd Wiegmann/Reuters)

Fiat: cadeia automotiva está em negociações com o governo e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para negociar liberação de crédito às empresas do setor (Arnd Wiegmann/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 22 de maio de 2020 às 12h41.

Última atualização em 22 de maio de 2020 às 14h14.

As montadoras foram atingidas em cheio pela crise causada pelo coronavírus. No Brasil, a demanda por veículos pode cair até 40% este ano, para 1,8 milhão de unidades. "Vamos retroceder 15 anos", afirmou na quinta-feira, 21, Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automóveis (FCA) para a América Latina, durante a série de entrevistas ao vivo Economia na Quarentena, do jornal O Estado de S. Paulo.

O executivo também afirmou que o grupo não tem "nenhuma intenção" de deixar o mercado brasileiro. Segundo ele, a montadora manterá os investimentos de R$ 14 bilhões em novas fábricas, produtos e serviços no País. Esses aportes, que estavam previstos para ser concluídos até 2024, deverão ser esticados até 2025.

A cadeia automotiva está em negociações com o governo e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para negociar liberação de crédito às empresas do setor. "A Anfavea (associação que reúne as montadoras) está trabalhando com o governo (para recursos para reforçar o caixa) e recebendo respostas positivas", afirmou.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê a demanda por carros no País? Não se corre o risco de alta de estoques?

É o "x" da questão. Tivemos, em abril, queda de 90%, enquanto o mês de maio caminha para retração de 70% a 75%. No terceiro trimestre, a demanda deve cair entre 40% e 50% e, no quarto, de 20% a 30%. Assim, devemos fechar o ano com venda de 1,8 milhão de veículos, queda de 40% sobre 2019. Vamos retroceder 15 anos no nosso mercado, na soma do ano. Outro dado interessante é o da produção. A de abril foi menos de 2 mil unidades na indústria automobilística toda. Um dado tão baixo que leva a 1957.

Ou seja, pré-industrial...

Talvez essa seja a definição perfeita. Com a Medida Provisória 936, temos flexibilizado a jornada e os salários. Nós não vamos produzir todos os dias da semana. Teremos produções e paradas alternadas de acordo com a demanda.

Algumas montadoras já começaram a vender carros para pagar a primeira parcela em 2021. Isso ajuda?

Também temos programas comerciais nesse sentido, até porque essa é uma crise global. Dependendo dos estímulos de retomada da demanda e de como o governo se posiciona, a crise pode se arrastar mais, por até um ano e meio. Por isso, esses programas comerciais foram colocados. A gente protege o caixa do consumidor que precisa comprar o carro.

Até agora, o BNDES só concretizou a ajuda às aéreas, que vai ser subsidiada. Como está a negociação com as montadoras?

No começo da crise, identificamos dois problemas. O do trabalho e da flexibilização da jornada e o de caixa. O problema do trabalho foi resolvido. Já o segundo problema está em aberto. A receita caiu de forma dramática. É problema das montadoras, fornecedores e concessionárias. É uma cadeia de 7 mil empresas, que emprega 1,2 milhão de pessoas.

E o BNDES vai exigir contrapartida das montadoras? A Fiat está preparada para assumir compromissos?

O diálogo foi iniciado há mais ou menos um mês e teremos reuniões finais em alguns dias. É uma situação sem precedentes, porque empresas globais não têm como compensar o risco de um país com outra região do mundo. A Anfavea está trabalhando com o governo e recebendo respostas positivas. Mas até agora não houve nenhuma resposta concreta.

O BNDES disse que vai exigir que as empresas assumam o compromisso de ficar no Brasil...

A FCA, independentemente dessa mesa de negociação, nunca teve objetivo de sair do Brasil. Estamos no meio de um plano de investimento de R$ 14 bilhões para o Brasil e a América Latina. Revimos o tempo. Dentro do plano até 2024, já perdemos entre três e seis meses. O plano, que começou em 2018, continua em pé, mas com o 'timing' postergado entre 6 e 12 meses. Agora, estamos pensando em terminar o plano em 2025.

Como é explicar para a matriz o fato de o Brasil viver a crise do coronavírus e uma crise política?

Eu tenho a vantagem de fazer parte do conselho global de administração da empresa, que se reúne todos os meses. O nosso acionista italiano também viveu no Brasil e conhece muito bem o País, incluindo a capacidade única da economia brasileira de se reinventar depois de crises. E isso é associado ao nosso histórico de bons resultados tanto no Brasil quanto na América Latina.

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