O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite: encontros com embaixadores envolvem financiamento e carvão (Divulgação/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 31 de outubro de 2021 às 06h00.
Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 12h49.
Nas últimas três semanas, a agenda do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, esteve lotada. Ele se reuniu com mais de 60 embaixadores de países em desenvolvimento, que vão da pequena Burkina Faso, nação africana de 20 milhões de habitantes, à poderosa Índia, onde residem mais de 1 bilhão de pessoas. Os encontros têm um único motivo: recuperar o protagonismo do Brasil na área ambiental, às vésperas da COP26, a Conferência do Clima da ONU, que começa neste domingo em Glasgow, na Escócia.
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Pessoas próximas ao ministro disseram à EXAME, em condição de anonimato, que Leite busca posicionar o Brasil como o “líder dos pequenos”. A ideia é formar um bloco em torno de duas pautas principais, financiamento para a transição para a economia de baixo carbono e a regulamentação do artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação de um mercado de carbono global, pauta mais importante do evento climático.
Existe também a expectativa de o Brasil obter acordos bilaterais para a venda de carbono no mercado voluntário, o que estaria sendo negociado, especialmente, com países árabes exportadores de petróleo.
Negociações com outros países emergentes é exatamente o que o Brasil não fez na COP passada, realizada na cidade de Madri, em 2019. Ricardo Salles, antecessor de Leite, preferiu adotar uma postura cética e condicionar qualquer esforço ambiental à transferência de recursos por parte dos países ricos. No acordo de Paris, ficou acertado que, a partir de 2020, as nações desenvolvidas pagariam aos países em desenvolvimento 100 bilhões de dólares por ano, a título de financiar ações de redução das emissões.
Leite é contra esse posicionamento. O ministro acredita que o Brasil deve, inclusive, “ir para o final da fila” do recebimento desses recursos, favorecendo nações mais pobres. Dessa forma, o país ganharia credibilidade para negociar com os países ricos, notadamente Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
As pautas abordadas com esse bloco de emergentes, no entanto, não são apenas da economia verde. Leite tem tratado com países como Vietnã e Romênia sobre o carvão. A nação asiática é bastante dependendo do combustível fóssil, o mais poluente de todos. Já a Romênia fechou boa parte das suas minas de carvão, porém, com o aumento no preço do gás natural, tem tido dificuldades de abastecimento, o que estaria gerando uma crise política em função da alta nas tarifas de energia.
O entendimento de Leite é que esses países querem que o Brasil, por sua tradição nas negociações climáticas, assuma o papel de mediar as conversas entre ricos e pobres, de forma a minimizar os impactos da transição energética nas economias emergentes. Para ter sucesso, no entanto, será preciso combinar com os russos, e mais um monte de gente.
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