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COP16: cooperação foi a saída sugerida para desmatamento na Amazônia

Debate reuniu representantes de organizações, empresas e governo para falar sobre a relevância da iniciativa privada na questão

Neutralidade climática no Brasil: painel discutiu fim do desmatamento na Amazônia e ação do setor empresarial (Cristina Amorim/IPAM/Divulgação)

Neutralidade climática no Brasil: painel discutiu fim do desmatamento na Amazônia e ação do setor empresarial (Cristina Amorim/IPAM/Divulgação)

O penúltimo dia da COP26 contou com um importante fórum sobre o Brasil na programação de eventos paralelos, trazendo para a discussão um dos temas de maior interesse global hoje: o desmatamento ilegal na Amazônia

O painel “Neutralidade climática no Brasil: fim do desmatamento na Amazônia e a ação do setor empresarial” debateu o assunto pela ótica da cooperação dos diferentes segmentos envolvidos, em especial as empresas brasileiras, na mobilização para alcançar a agenda de neutralidade climática e as metas líquidas de zero emissões de carbono até 2050. 

Organizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), o evento teve a participação de Marcello Britto, da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG); Marcelo Stabile, pesquisador do IPAM; Alessandra Fajardo, da Bayer; Sarita Severien, da Suzano; Mauro O' de Almeida, Secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará; Marina Grossi, presidente do CEBDS; além do mediador André Guimarães, diretor-executivo do IPAM. 

Veja a seguir quais foram as questões apresentadas:

A importância da Amazônia para o Acordo de Paris

“A Amazônia é uma peça chave nesse quebra-cabeça da mitigação das mudanças climáticas. A ciência já falou que, sem as florestas tropicais intactas, são pequenas as chances de alcançarmos o objetivo do Acordo de Paris até o fim do século. Então, é crucial a conservação da Amazônia. Mas também é essencial a integração da Amazônia com o agronegócio brasileiro, um setor tão importante para a economia brasileira, para entregar o resultado que buscamos, que é o fim do desmatamento, o fim dos incêndios florestais e maior harmonia entre as atividades humanas e a conservação e o desenvolvimento da região amazônica."

André Guimarães, diretor-executivo do IPAM

 

Um novo olhar para a biodiversidade

“Acho que estamos tendo aqui na COP26 resultados nunca vistos antes, como o acordo para o fim do desmatamento. A biodiversidade também vai ganhar com isso, junto com as mudanças climáticas. Isso é ótimo para o Brasil, país com a maior biodiversidade do mundo. Acho que quando a gente pensa no Brasil, especialmente na Amazônia, é uma grande oportunidade trabalhar clima e biodiversidade juntos. Tentamos em outras COPs trazer essa como uma grande questão. Acho que o que aconteceu aqui é que o mundo todo acordou para a ideia de que não há sucesso do Acordo de Paris sem a conexão com a biodiversidade."

Marina Grossi, presidente do CEBDS

Fim do desmatamento ilegal é consenso

“Sob a perspectiva do setor privado, acho que estamos em um momento único. Em julho do ano passado, reunimos um conselho de líderes, de CEOs, para falar sobre formas de tornar o país mais competitivo. E todos disseram que acabar com o desmatamento ilegal era crucial. Não é um ponto ideológico apenas, é algo que precisa ser superado definitivamente.” 

Marina Grossi, presidente do CEBDS

Cooperação é prioridade

“Costumo dizer que não passe de mágica para solucionar o desmatamento da Amazônia. Precisamos de todos juntos – a sociedade, o governo, o exército, a polícia federal, as empresas, o setor financeiro, a comunidade científica… Todo mundo junto numa mesma mesa, falando: temos um problema, vamos encontrar a solução para esse problema. O que precisamos é unir forças.”

André Guimarães, diretor-executivo do IPAM

“Existe um documento de um professor do MIT, de muito tempo atrás, que diz: para saber o desenvolvimento de um país, olhe para a qualidade do relacionamento entre sociedade civil, grupos privados e governo. Quanto melhor for essa relação, mais desenvolvido é o país. Nós estamos no começo desse processo. Não alcançamos ainda no Brasil esse nível. É isso que tentamos atrair com essas nossas associações. Estamos buscando a colaboração para construir o ambiente correto para trabalhar a agricultura brasileira sem o desmatamento. Estamos caminhando. Com todo o comprometimento que assumimos aqui durante essas duas semanas de conferência, por países e empresas, eu espero de verdade ver um desenvolvimento sem desmatamento".

Marcello Britto, da ABAG

O desafio da agricultura brasileira

“Estamos aqui falando de desafios. O motivador são as mudanças climáticas. Mas o que está incluso nas mudanças climáticas? Uma das principais questões é a produção de alimentos e a segurança alimentar. Nos próximos 30 anos, temos que aumentar a produção de alimentos em 80%, porém, de modo que a comida seja mais barata, muito mais sustentável e baseada na ciência. Como vamos cobrar isso dos produtores rurais se cada dólar gasto em comida, nos EUA por exemplo, só 8 centavos vão parar nas mãos do agricultor? Em países em desenvolvimento como o Brasil, é menos ainda: 5 centavos. Então, vamos cobrar tudo isso, mas sem colocar dinheiro na mesa. É o que vemos aqui nesta conferência: temos muitas boas intenções, mas ninguém para pagar pelas boas intenções. Então, veja o desafio do Brasil. O agronegócio representa 30% do pib brasileiro, 20% dos empregos diretos. Ao mesmo tempo, 25% de toda a cobertura verde do país pertence a propriedades rurais. Não há outro país no mundo em que os donos de terras detenham 25% da cobertura verde. Como vamos incentivar essas pessoas a manter essa situação?”

Marcello Britto, da ABAG

Exemplo concreto: projeto Conserv 

“No Brasil, parte das propriedades rurais precisa ser de preservação de mata nativa – é a regra do jogo. E essas áreas protegidas pelos fazendeiros são muito importantes. O que queríamos entender é se os proprietários tinham áreas além do que são obrigados. E descobrimos grandes áreas. O ponto não é ‘se’, mas ‘quando’ essas terras seriam desmatadas. Então trabalhamos para engajar o setor privado e os produtores rurais a evitar esse desmatamento.

Eles têm uma escolha, uma escolha de negócio: podem ser um agente de preservação ou ter a autorização para limpar a área para produzir carne, soja, o que quiserem. O que temos que fazer – assim como o setor privado e o governo – é criar incentivos para escolherem a conservação dessas áreas. Temos feito pagamentos diretos para esses proprietários, mas entendemos que o setor financeiro pode ajudar no estímulo à proteção dessas áreas e a melhora da produção por meio de ações de longo prazo ou envolvendo o mercado de carbono. Porque o estoque de carbono dessas terras é significante.” 

Marcelo Stabile, pesquisador do IPAM

 

 

Conserv: o que é

O Conserv é um sistema privado, de adesão voluntária, que compensa financeiramente médios e grandes produtores dos biomas amazônico e do Cerrado por conservarem, dentro de sua propriedade, uma área de vegetação nativa que poderia ser desmatada legalmente.

O projeto foi lançado pelo IPAM em parceria com o Environmental Defense Fund (EDF) e com o Woodwell Climate Research Center e contou ainda com o apoio dos governos da Noruega e dos Países Baixos.

Mudanças globais x impactos regionais

“Sempre falamos de mudanças climáticas globais. Mas, no fim do dia, a mudança acontece na fazenda, na cidade, nas casas, nas escolas, nas empresas. Então precisamos aproximar essas soluções, levando em conta o quebra-cabeça local, o impacto local das mudanças a fim de manter a nossa capacidade de produzir – seja energia, comida, transporte etc.”

André Guimarães, do IPAM

Ações da Suzano

“A Suzano tem mais de 2 milhões de hectares de área de floresta, dos quais 40% são de preservação. Esse é o nosso modelo, não ‘parte’ do nosso modelo. Trabalhamos com a sustentabilidade. Retiramos mais carbono da atmosfera do que emitimos. Nosso objetivo é capturar, até 2025, 40 milhões de toneladas de carbono líquido. Essa era a meta para 2030, mas um mês atrás antecipamos já para 2025.  Não trabalhamos de forma isolada nas mudanças climáticas; é um trabalho mais amplo, que engloba tudo. Temos também, por exemplo, um grande programa de reflorestamento e um novo projeto que vai conectar 5 milhões de hectares de área nativa no Brasil. Vale ressaltar o quanto esse movimento é importante para a empresa. Não é uma corrida, é um compromisso para todos trabalharem juntos, e hoje.”

Sarita Severien, da Suzano

 

Compromissos da Bayer

“A Bayer acredita verdadeiramente que a agricultura pode ser parte da solução. Estamos realmente comprometidos com isso. Temos conversado com nossos agricultores e, mais que isso, temos trabalhado em várias frentes. Fazemos parte de importantes associações, desenvolvemos projetos no campo… Temos o projeto Pro Carbono, por exemplo, que nesta temporada vai levar consultoria de boas práticas de agricultura para quase dois mil produtores rurais. E buscamos mostrar os benefícios disso, inclusive de lucratividade. Porque não precisam expandir a área, podem ter mais lucro e produtividade na mesma área. Elevamos os desafios também internamente, para sermos carbono neutro em 2030. Para isso revisamos todos os nossos processos, nossos fornecedores, inclusive contratos.”

Alessandra Fajardo, da Bayer

 

 

Os esforços do Pará

“No Pará queremos fazer a nossa parte. Começando pela política estadual de mudanças do clima, que estava com a discussão parada há 11 anos. Aprovamos a política e lançamos o plano Amazônia Agora. O estado se preparou para criar projetos com uma relação público-privada. A NDC brasileira de 2015 previa a restauração de 12 milhões de hectares de floresta. O plano Amazônia Agora prevê 5,6 milhões de hectares de restauração florestal até 2030 – ou seja, quase 50% da NDC – e, se tivermos colaboração, serão 7,4 milhões.”

Mauro O' de Almeida, Secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará

 

 

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