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Contrate pessoas que você não gosta, diz guru de inovação

Para o futurista Jim Carroll, pessoas que pensam diferente podem ser mais criativas juntas. Veja o que mais ele compartilhou em entrevista a EXAME.com

Jim Carroll: "devemos nos posicionar do outro lado da crise e não pensar só no momento atual" (Divulgação/Jim Carroll)

Jim Carroll: "devemos nos posicionar do outro lado da crise e não pensar só no momento atual" (Divulgação/Jim Carroll)

Luísa Melo

Luísa Melo

Publicado em 11 de agosto de 2015 às 14h39.

São Paulo  Futurista reconhecido mundialmente, o canadense Jim Carroll já deu conselhos sobre inovação a empresas como NASA, Microsoft, Disney e Johnson & Johnson.

Nesta semana, ele vem pela primeira vez ao Brasil para falar aos participantes da WorldSkills, competição mundial de educação profissional.

Promovido pelo Senai, o evento acontecerá em São Paulo, de quarta-feira (12) a sábado (15).

De seu escritório, Carroll conversou por telefone com EXAME.com e revelou as principais tendências inovadoras que devem ser observadas de perto hoje e como colocar boas ideias em prática em tempos de crise  sem gastar muito dinheiro.

Abaixo, veja os melhores trechos da entrevista.

EXAME.com   Você critica muito os "assassinos de ideias". Como é possível entregar resultados de curto prazo sem "matar algumas ideias?

Jim Carroll  Inovação quer dizer isso. Algumas organizações tentam focar nas ideias de longo prazo, mas o mercado em que elas estão quer retornos rápidos. Isso é um grande problema. Você tem que estar no focado no que é a sua meta, no seu potencial de longo prazo.

EXAME.com  Mas, em tempos de crise como o que enfrentamos no Brasil, as empresas têm que entregar resultados de curto prazo ou simplesmente quebram. Como balancear as duas coisas?

Jim Carroll – Olhe para a Embraer, uma das mais bem-sucedidas companhias de aviação do mundo. No Brasil, ela pode estar enfrentando desafios por conta da economia, mas como uma marca global ela está indo muito bem.

A Embraer não vai parar de fazer seu negócio crescer por causa dos problemas no Brasil. E eu acho que o que ela faz é focar no longo prazo. Ela se concentra nas oportunidades, na evolução constante do seu produto. Inovadores não são interrompidos por desafios de curto prazo, eles continuam focados em suas metas.

Porque quando há uma crise econômica, você sempre sabe que ela terá um fim. Devemos nos posicionar do outro lado da crise e não pensar só no momento atual.

EXAME.com  Você citou a Embraer. Há outras empresas brasileiras no rumo certo para inovar?

Jim Carroll – Não acho que consigo responder a essa pergunta. Mas há uma boa frase de Bill Gates que diz: "a maioria das pessoas pode superestimar quantas mudanças vão ocorrer em dois anos e subestimar quantas mudanças vão ocorrer em dez anos".

Então, talvez em dois anos o Brasil ainda enfrente um monte de questões políticas e muita volatilidade de curto prazo, por causa dessa crise que está aí. Mas o país tem recursos, agricultura, indústria, gente jovem e inovação. Ele precisa pensar em onde pode estar no futuro, em como pode se posicionar para se tornar um dos mais importantes players econômicos do mundo em 2025.

A história nos ensina que países e indústrias que focam em onde querem estar em cinco ou dez anos, são aqueles que se saem bem.Olhar para o breve estado de crise em que estamos não funciona. É mais importante pensar em pra onde podemos ir e no que podemos realizar. 

EXAME.com  Que tipo de oportunidades a crise traz para as empresas?

Jim Carroll – Na crise, quem consegue ganhar vantagem é que sobrevive. Eu acho que o outro lado da moeda é: se há uma crise e eu estou focado em inovar, mudar e trazer novos produtos, e meus concorrentes não estão, porque estão assustados e consumidos pela crise; eu vou fazer melhor. É preciso focar em ideias inovadoras e não no que veio em decorrência da crise.

EXAME.com – Muitas boas ideias parecem reuins e até malucas em um primeiro momento. Há alguma forma de perceber quais têm chance de funcionar no futuro?

Jim Carroll – Nunca se sabe! Tudo é uma questão de risco. Se uma empresa acha que vai alcançar 100% de sucesso com novas ideias, ela vai falhar.

Já uma companhia que admite que vai tentar uma centena de coisas e que talvez metade delas vai dar errado, provavelmente vai se sair melhor, porque ela vai se arriscar mais, tentar coisas mais difíceis. 

EXAME.com – Mas há algum jeito de saber quando você está sendo aventureiro demais ou quando é necessário correr o risco?

Jim Carroll – Não. Você sabe que há um risco, mas não há como precisar o tamanho dele. É parte do que nós chamamos aqui na América do Norte de "call", que significa: nós vamos arriscar e lidar com as consequências. É um feeling. 

EXAME.com  É possível uma companhia inovar sem gastar dinheiro?

Jim Carrol – Uma das grandes coisas que estão acontecendo agora que permite às empresas inovar de um jeito diferente é o crowdfunding (financiamento coletivo). Há um monte de gente com várias ideias sobre como reinventar a indústria participando de sites colaborativos. Se eu fosse um executivo, eu estaria olhando bem de perto o que essas pessoas estão fazendo, porque eu posso aprender com elas.

É um novo jeito de alcançar desenvolvimento, em termos de pesquisa, sem ter que gastar muito do meu próprio dinheiro. Eu chamo a internet de grande máquina global de ideias. A coisa mais importante que as companhias podem fazer hoje é se certificar de que estão plugadas nessa grande máquina e usá-la como recurso para inovação.

EXAME.com – Você diz que líderes devem contratar pessoas de quem eles não gostam porque elas pensam diferente. Essas diferenças provavelmente também serão uma fonte de conflitos. Como lidar com isso?

Jim Carroll – É assim que você consegue os resultados mais criativos. Pense nos Beatles: John (Lennon) não gostava do Paul (McCartney). Eles brigavam terrivelmente, mas construíram a banda mais incrível do mundo.

O que eu penso é que quando você coloca juntas duas pessoas com ideias diferentes, que não se gostam, você cria uma tensão criativa. Se você tem as pessoas certas com ideias diferentes, elas vão discutir sobre abordagens alternativas para cada problema. E se descobrirem como lidar com isso, acontece uma coisa absolutamente mágica.

EXAME.com  Você também prega que as empresas realmente inovadoras sabem resolver os problemas dos consumidores antes mesmo que eles notem que o problema existe. Como fazer isso?

Jim Carroll – Com um monte de social media. Consumidores estão falando no Facebook, estão falando no Twitter, no Instagram. Eles estão reclamando sobre as coisas. Você pode monitorar e questionar se aquilo que os clientes estão discutindo pode se tornar um problema potencial pra você. E, se a resposta for sim, pensar em uma solução para essa questão, antes que os consumidores se deem conta dela.

EXAME.com  Como futurista, que tendências você enxerga para a inovação hoje?

Jim Carroll – Há muitas tendências que vão mudar o mundo. A internet das coisas, a conectividade, o impacto da próxima geração. Metade de população mundial tem menos de 25 anos agora. A maior parte desses jovens cresceu conectado ou próximo à internet. Eles enxergam o mundo de um jeito diferente e eu penso que eles também inovam de um jeito diferente, pensam de um jeito diferente.

E eu também acho que muitas tendências para o futuro estão sendo inventadas nessas redes abertas, nessas comunidades colaborativas globais onde as pessoas estão compartilhando ideias. 

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