Odair Renosto, presidente da Caterpillar Brasil: liderança de mercado e busca por eficiência (Caterpillar/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 06h00.
Em um mercado que só no Brasil fatura acima de 15 bilhões de reais, a gigante global Caterpillar vem conseguindo manter a liderança mesmo diante de inúmeras crises econômicas e da chegada recente de novos competidores. Para 2021, a companhia projeta uma forte retomada da construção civil, puxada principalmente por obras da iniciativa privada, o que deve impulsionar as vendas de máquinas.
"Ninguém imaginava que enfrentaríamos uma pandemia, mas neste ano o mercado foi muito bom para nós e em 2021 a construção civil terá uma forte retomada. Não projetamos grandes obras do governo, mas no setor privado devemos ter vários projetos sendo executados ao redor do país", afirma Odair Renosto, presidente da Caterpillar do Brasil, em entrevista à EXAME.
Embora a pandemia tenha afetado quase todos os setores da economia no país, a indústria de máquinas de construção se manteve alheia à crise. As empresas que atuam no segmento de movimentação de terra -- conhecido como linha amarela, devido à cor característica dos produtos -- devem encerrar o ano com um crescimento das vendas de 25% sobre 2019.
Renosto afirma que um dos segmentos que está crescendo é o de locação de equipamentos. Além disso, na Caterpillar, serviços têm ganhado cada vez mais destaque dentro do plano estratégico. A companhia tem uma meta global de dobrar as vendas de serviços de máquinas, energia e transporte até 2026, para 28 bilhões de dólares (sobre a base de 2016).
"Definimos serviço como o valor que oferecemos aos clientes após a compra do equipamento, desde peças de reposição a contratos de manutenção e financiamento. Isso reduz custos de propriedade e operação e ao mesmo tempo gera receita para a Caterpillar e revendedores ao longo do ciclo de vida dos produtos", destaca.
Apesar do crescimento do setor neste ano, a indústria de linha amarela ainda amarga cerca de 40% de ociosidade, herança dos tempos de fartura da construção civil no início da década, em meio a um cenário de boom de commodities. À época, muitas marcas chegaram ao Brasil com importação ou produção local, num momento em que o país ficou conhecido globalmente como um "grande canteiro de obras".
No entanto, ao longo das crises dos últimos anos, as margens das empresas ficaram extremamente pressionadas. O problema teve seu auge em 2020. Renosto lembra que a desvalorização do real chegou a quase 40% neste ano e a recuperação de preços foi insuficiente no mercado. "Não conseguimos repassar custos nessa magnitude."
O problema da falta de insumos na cadeia produtiva, que vem atingindo toda a indústria, é um desafio adicional para a companhia. O executivo relata que os fornecedores não contavam com uma retomada tão rapidamente, o que acabou gerando restrições de matérias-primas.
"Dependendo do produto, compramos de distribuidores ou até importamos peças para não parar a produção."
Renosto afirma que a Caterpillar continua na liderança das vendas no Brasil e no mercado global. A marca vem trabalhando para oferecer um portfólio que atenda clientes que querem desde máquinas mais simples, com foco em produtividade, até aquelas com forte nível de tecnologia embarcada.
Além da construção civil, a empresa tem aproveitado o bom momento do agronegócio para ampliar a sua participação nas vendas do setor, com máquinas mais versáteis, que atendem os dois tipos de negócios.
Do portão para fora, no âmbito macroeconômico, o executivo garante que a Caterpillar está atenta aos riscos de aumento da taxa básica de juros (Selic) e inflação, e que o mercado brasileiro continua uma das grandes prioridades da matriz.
"O Brasil tem muito a fazer pela frente, como construir portos, aeroportos e rodovias. O grupo Caterpillar não investe pensando no curto prazo, continuaremos investindo no país."