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Karina Souza
Publicado em 18 de setembro de 2021 às 09h00.
Linhas e linhas de códigos, uma tela preta com informações pouco ou nada compreensíveis, períodos longos para aplicações "para ontem". Um dos principais desafios da rotina de desenvolvedores e equipes de T.I tem tudo para ficar mais simples daqui para frente. Como? Com uma espécie de kit de códigos de dados simples o suficiente para mesmo uma pessoa com pouco conhecimento no assunto conseguir montar sites ou aplicativos: o low-code. E tem um unicórnio (como são chamadas as empresas de tecnologia com avaliação de mercado acima de 1 bilhão de dólares) interessado em explorar esse mercado no Brasil.
Uma analogia interessante para entender o fenômeno do low code é o da construção de uma casa. Do projeto à construção, tijolo por tijolo, muito tempo e energia são gastos até o projeto ficar pronto. O low code seria como uma casa pré-fabricada: blocos de concreto feitos na fábrica aceleram o tempo de construção ao minimizar a obra e, no final, restará apenas resolver alguns parafusos e outros pormenores, como pintura e instalações hidráulicas.
No caso do low code, boa parte dos códigos de programação já vêm "prontas" de fábrica. Aos programadores das demais empresas resta fazer um ajuste aqui, outro ali, para colocar um software personalizado no ar. É algo que facilita -- e muito -- a vida de equipes de T.I. cada vez menores e que precisam criar várias aplicações ao mesmo tempo.
Globalmente, estimativas feitas pela consultoria Gartner mostram que o desenvolvimento global de tecnologia low-code deve crescer 22,6% só em 2021, movimentando US$ 13,8 bilhões. Outros dados da companhia mostram que, em 2024, 80% dos produtos e serviços de TI serão construídos por pessoas que não são profissionais de tecnologia. É um crescimento bastante apoiado na carência de profissionais especializados: só no Brasil, 260 mil vagas devem deixar de ser preenchidas por falta de mão de obra qualificada, um número que só tende a aumentar.
De acordo com a Forrester Research, as plataformas de Low Code representarão 75% do total de software desenvolvido em 2021, ante 44% em 2020. “Durante a pandemia, as empresas que usaram plataformas como essa se ajustaram com mais rapidez e eficácia do que as que dependiam exclusivamente do desenvolvimento tradicional'', afirma a empresa de pesquisa, em relatório.
Com tamanha oportunidade a ser explorada futuramente, a Outsystems, pioneira no setor e atual líder em Low Code, quer expandir cada vez mais a presença da empresa, especialmente em países com alta carência de profissionais de tecnologia, como é o caso do Brasil.
Nesse universo, uma empresa fundada em Lisboa há exatos vinte anos foi a pioneira e é a atual líder em Low Code globalmente: a Outsystems. De 2001 para cá, a empresa cresceu e fincou presença em territórios que vão muito além da Europa: hoje, a sede está em Boston e a companhia tem clientes em 87 países, mais de 1.300 funcionários e parcerias com 350 empresas. O valor de mercado está em aproximadamente 9,5 bilhões de dólares (cerca de 50 bilhões de reais).
A companhia se tornou o segundo unicórnio de Portugal em 2018, depois de uma rodada de captação de 360 milhões de dólares, liderada pelo fundo KKR e pelo banco Goldman Sachs. Em 2021, mais 150 milhões de dólares foram arrecadados junto aos fundos Abdiel Capital e Tiger Global -- este último está na lista dos que mais investem em startups bilionárias, compilada pela CB Insights em 2019.
Toda a história da Outsystems começou quando Paulo Rosado, atual CEO da companhia, foi fazer um mestrado em Ciências da Computação na Universidade de Stanford. Depois de trabalhar em grandes empresas, como a Oracle, ele reforçou as perspectivas de que o setor de desenvolvimento de software teria uma longa carreira ao longo dos próximos anos. Então, decidiu empreender novamente no setor. Isso porque, em 1997, Paulo já havia criado uma startup de tecnologia que posteriormente foi comprada pela Altitude Software, empresa portuguesa de soluções para contact center.
Apesar de o crescimento do uso de tecnologia já ser uma tendência desde 1995, como mostram dados do banco de dados mundial de indicadores de telecomunicações, Paulo demorou para convencer empresários a financiarem o nascimento da empresa. Ele fez mais de 40 apresentações a executivos antes de conseguir o investimento inicial para começar a Outsystems. No final, valeu a pena: com um milhão de euros no bolso, começou a estruturar a empresa e procurar por clientes.
O primeiro contrato fechado pela Outsystems foi com a empresa portuguesa de telecomunicações Optimus. No início, o serviço prestado por Paulo tinha o objetivo de desenvolver apenas soluções de desenvolvimento de software do zero -- um trabalho caótico, em que nada saía dentro do prazo, segundo o CEO da Outsystems.
Daí, veio a ideia de simplificar a oferta, criando uma plataforma-base para desenvolver serviços de tecnologia para outras empresas, a partir do que a empresa construía para a Optimus. Dessa forma, o tempo tomado para desenvolver novas soluções seria significativamente menor, concluindo mais projetos em menos tempo.
Segundo Paulo, fundador da Outsystems, o ganho de tempo é, em média, de 2 a 16 vezes para desenvolver um projeto com a companhia, em relação ao tempo gasto dentro do modelo tradicional de desenvolvimento de aplicativos.
Mas, é claro que mesmo com a proposta de facilitar a vida das pessoas, a principal oferta da empresa não está livre de críticas. O low-code é visto de uma forma ruim por alguns desenvolvedores, ao alegar que esse tipo de plataforma tem níveis menores de segurança e de customização.
Em resposta a esse tipo de questionamento, Paulo afirma que a Outsystems se diferencia ao fornecer uma plataforma que pode se adaptar rapidamente a novas demandas de seus clientes, cumprindo as normas de segurança previstas na Lei Geral de Proteção de Dados.
“É relativamente mais fácil desenvolver soluções para uma pequena gama de problemas ou trabalhar somente sobre o que a própria plataforma oferece, com a customização do código já existente. O nosso diferencial está na adaptação rápida das plataformas desenvolvidas de acordo com as necessidades de cada cliente. Começar com uma aplicação pequena e evolui-la ao longo do tempo é um desafio para muitas empresas, mas não para nós”, diz Paulo.
Um exemplo seria ter um sistema de pagamento ou de gerenciamento de caixa e precisar aumentar a capacidade ou o escopo da ferramenta. A Outsystems afirma que consegue fazer essas migrações em tempo recorde, facilitando a vida de quem trabalha com tecnologia, que não esbarra na ausência de capacidade para fazer tais modificações.
Voltando à analogia da casa pré-fabricada: a Outsystems afirma que, caso você precise de mais cômodos dentro do imóvel, ao demolir uma parede, esse novo cômodo seria acoplado à casa ainda no mesmo dia. Na visão da empresa, a concorrência não consegue fazer isso de forma tão rápida -- ou seja, ao comprar uma casa pré-fabricada e precisar de mais cômodos, você teria de construí-los da forma tradicional, com tijolos.
No Brasil há dez anos, a empresa quer deixar esse diferencial cada vez mais claro. Para isso, Paulo afirma que a companhia deve investir “uma boa parte” dos 150 milhões de dólares captados junto aos fundos de investimento, por aqui. Dentro desse escopo, destacam-se investimentos em marketing e em pessoas (a empresa não revela valores de investimento).
De olho na ausência de profissionais formados em tecnologia, a empresa quer se aproximar dos jovens ainda no ensino superior e captar possíveis talentos para dentro da Outsystems. Hoje, a empresa mantém, globalmente, parcerias para capacitação de jovens com 120 universidades, sendo pelo menos quatro delas no Brasil.
Além disso, recentemente a Outsystems abriu um programa de contratação específico para brasileiros, para trabalharem de forma remota. No início do mês, a empresa anunciou cerca de 200 vagas a serem preenchidas, mas uma busca rápida pelo site, filtrando para “Brazil”, mostra três: Arquiteto de Soluções, Gerente sênior de Customer Success e Gerente técnico sênior.
Para completar, parcerias com outras organizações para programas de reskilling também fazem parte da estratégia da empresa. “É muito fácil treinar uma pessoa que tenha vontade e queira aprender no mercado de trabalho. Há uma procura muito grande pela Outsystems, queremos usar essa procura para realocar pessoas que estejam em posições que possivelmente serão substituídas pela automação de tecnologia”, afirma Paulo.
Quem já atuou com a empresa, até agora, teve boas experiências. É o caso, por exemplo, da Sompo Seguros, que desenvolveu junto com a companhia portuguesa os aplicativos Sompo Segurado e Sompo Corretor. O projeto foi concluído em apenas três meses. Segundo informações da Sompo, ambas as ferramentas geram uma média de 158 mil acessos mensais e, só no app Sompo Segurado, são mais de 50 mil usuários ativos. Antes, a seguradora contava somente com o próprio site para passar essas informações.
“A ferramenta traz uma capacidade de integração com vários sistemas internos e atende à necessidade de criar aplicativos para web e móveis de forma consistente, com um máximo de reutilização. E, por fim, podemos usar modelos e padrões predefinidos para fornecer experiências de usuário com boa resposta em qualquer dispositivo”, diz Guilherme Muniz, diretor de Tecnologia da Informação e Inovação da Sompo Seguros.
Outro cliente da empresa no Brasil é a Unimed Belo Horizonte, que contou com os serviços da Outsystems para implantar soluções de telemedicina durante a pandemia. Em menos de um mês, por meio da plataforma disponibilizada pela gigante de tecnologia, a empresa conseguiu lançar o serviço de consultas on-line. Do lançamento, em março de 2020, até o final do mês de julho de 2021, foram realizados mais de 460 mil atendimentos digitais.
“A plataforma também nos possibilitou o desenvolvimento de um novo serviço: o Pronto Atendimento On-line, voltado para pequenas urgências. Além disso, ainda no início da pandemia, por meio de uma parceria de inovação aberta, doamos a tecnologia para a Prefeitura de Belo Horizonte, permitindo que todos os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) da capital mineira também tivessem acesso ao atendimento de forma remota”, diz Ezequiel Ribeiro Silva, Superintendente de Tecnologia da Informação da Unimed-BH.
Tanta facilidade para desenvolver programas em um curto espaço de tempo pode, à primeira vista, colocar em xeque o papel dos desenvolvedores “tradicionais” nesse processo. Mas, não é possível deixar-se enganar por essa ideia.
Os desenvolvedores vão continuar sendo requisitados, tanto pela necessidade de colocar em prática aplicações mais complexas quanto porque integrar todos os sistemas utilizando uma plataforma pré-pronta, como a da Outsystems, muitas vezes não será possível. Ou seja, o Low Code traz eficiência e economiza tempo -- mas se torna verdadeiramente completa quando permite aos profissionais de tecnologia ter tempo para trabalhar em aplicações complexas.
Fato é que as próximas gerações já estão sendo educadas, de certa forma, para terem ao menos a base necessária para trabalhar com Low Code. Um artigo publicado pelo blog FunTech já mostra o potencial dos jogos para trazer a codificação para mais perto dos jovens. "Minecraft, por exemplo, oferece uma visão muito menos prolixa de aprender programação. Envolve blocos individuais de código que podem ser arrastados como uma peça de quebra-cabeça", afirma.
Considerando que esse é o passatempo preferido de muitos dos futuros profissionais, abre-se aí um vasto campo para que possam ter ao menos uma base de como transformar as próprias ideias em algo que pode ser codificado.
Do lado prático, uma matéria publicada pela revista Forbes mostra que o Walmart já está usando processos de gamificação para treinar colaboradores. O "game" dá a oportunidade de funcionários testarem várias situações na loja, sem consequências. E foi um sucesso. Pouco tempo depois, o Walmart concluiu que o jogo aumentou a confiança dos funcionários e que eles continuaram a jogar mesmo depois de concluírem o treinamento.
Outro app popular listado pela revista é o Duolingo, de aprendizagem de idiomas, que tem mais de 40 milhões de usuários mensais. O aplicativo também usa de formas simples e intuitivas para ensinar, seguindo na tendência dos jogos anteriores.
Para Paulo, tudo isso traz como resultado mais satisfação e a possibilidade de garantir um emprego. “Acreditamos que temos uma função social a ser cumprida, permitindo que cada vez mais pessoas deixem de lado trabalhos repetitivos para criarem um aplicativo de que precisam de uma forma simples e rápida. É nisso que vamos investir”, diz.
Em um ambiente tão competitivo, concorrentes devem surgir cada vez mais. Alguns nomes como Retool, Zapier e Airtable começam a conquistar certa relevância no mercado, mas ainda distantes do que a Outsystems já atingiu. Confiando no potencial da digitalização ao longo dos próximos anos -- em que seis em cada 10 líderes pretendem priorizar esses investimentos, a Outsystems não se abala, mas fica feliz com o mercado aquecido.
"Acho que atualmente, o mercado global de empresas que precisa desse tipo de soluções é bem maior do que o que já exploramos. Querermos aumentar a nossa capacidade de trazer a tecnologia para mais perto das pessoas e estar sempre à frente na corrida pela transformação digital. Nosso lema é o de que softwares foram feitos para mudar, não para durar", diz Paulo.
É a versão moderna da frase atribuída a Charles Darwin: "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças". O ditado nunca fez tanto sentido.