Mohamed Parrini Mutlaq, do Hospital Moinhos de Vento: “O Brasil é grande demais para ter um único pólo econômico” (Karine Viana /Hospital Moinhos de Vento/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 19 de abril de 2024 às 15h13.
No coração de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, o carioca Mohamed Parrini Mutlaq trabalha com uma missão: transformar o Hospital Moinhos de Vento, em que é CEO desde 2016, na melhor instituição de saúde do Brasil.
Não é um desafio fácil, num cenário em que os concorrentes já estão bem estabelecidos e que a grande referência de tratamento de saúde segue sendo São Paulo. Mas o Moinhos, como é conhecido, está no caminho. No ranking de 2024 dos melhores hospitais do mundo feito pela revista Newsweek, a instituição já aparece na quarta posição entre as brasileiras:
Todos os três antes do Moinhos são de São Paulo.
“O Brasil é grande demais para ter um único pólo econômico”, diz Parrini. “E o Rio Grande do Sul tem plena capacidade de se estabelecer como uma referência em saúde com o Moinhos de Vento”.
Em uma toada de crescimento, a instituição de saúde faturou 1,4 bilhão de reais no ano passado, um aumento de 9,3% em relação a 2022. O superávit também cresceu cerca de 5%, indo para 120,5 milhões de reais.
Agora, está próxima a dar o próximo passo para seguir crescendo — e qualificando sua pesquisa e atendimento. O hospital vai investir 232 milhões de reais neste ano em melhorias.
Só na ampliação do complexo hospitalar, serão 150 milhões de reais. Trata-se de um novo prédio com 33 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e 20 leitos de internação. O restante do momento será destinado, principalmente, em tecnologia.
“Estamos mudando todo centro cirúrgico, deixando ele totalmente tecnológico, com imagens durante a cirurgia, braços robóticos”, diz Parrini. “Estamos também com um novo parque de tomografia, um centro de esterilização médica para diminuir as infecções. Vamos ter um novo laboratório de pesquisa. Estamos reformando as UTIs. Deixando a experiência dos usuários nos quartos mais agradável. E criando unidades avançadas dentro de shoppings para cirurgias rápidas e limpas, de baixa conversão”.
O hospital Moinhos de Vento nasceu da mobilização da comunidade alemã que morava na região. Inicialmente chamado Hospital Alemão, abriu as portas em 1927, após anos de construção — que chegaram a ser interrompidos por causa da Primeira Guerra Mundial.
Mas foi durante a Segunda Grande Guerra que o hospital passou a se chamar Moinhos de Vento, em alusão ao bairro em que estava localizado em Porto Alegre. Nos anos seguintes, começou a expansão por meio de cursos de enfermagem e de novos prédios. Já na década de 1950, contava com sala para partos, raio X e cirurgias.
“O hospital cresceu junto com a imigração alemã e é fruto de gigantes empresariais que nasceram com o Moinhos de Vento e que ajudaram o hospital a crescer”, diz Parrini.
Hoje, o conselho do hospital é liderado por Eduardo Bier De Araújo Correa, empresário criador da cervejaria Dado Bier, e conta com outros nomes fortes do empresariado gaúcho, como André Meyer Da Silva, da Máquinas Condor, e Thomas Bier Herrmann, das tintas Renner Herrmann. Como conselheiros associados, há outros nomes fortíssimos da economia brasileira, como:
“De 10 anos para cá, esses associados começaram a nos provocar para pensar maior e transformar o Moinhos no melhor hospital do Brasil”, diz o CEO.
“Fui demandado pelo conselho porque acreditamos que o Rio Grande do Sul tem todo talento para fazer isso, mas hoje é um exportador de talentos. Onde você for no mundo, vai encontrar cientistas gaúchos”, afirma. “Dá uma dor quando o local que eu vivo não consegue gerar riquezas suficientes para reter talentos. É papel do Moinhos de Vento crescer para aumentar a retenção de talentos por aqui”.
Hoje, o hospital conta com 485 leitos, 3.914 médicos ativos e cerca de 4.600 funcionários. São 18 salas de bloco cirúrgico e 41 leitos de pós-cirurgia.
Boa parte dos esforços do Moinhos para se tornar o hospital de referência no Brasil está no desenvolvimento de ciência e em educação.
“Temos a mente privada, com modelo de gestão e liderança privados, mas com espírito público para a aceleração da ciência, gerando conhecimento”, diz o CEO.
O primeiro ponto que Parrini destaca no processo para se tornar o melhor hospital do Brasil está na formação de pessoas. Hoje, o hospital forma 85% de sua mão de obra técnica. “Temos a primeira escola de enfermagem e a maior pós-graduação em saúde do Rio Grande do Sul”, diz o executivo. “Estamos investindo no mestrado, doutorado. Estamos para ser aprovados na faculdade de medicina com 50% a mais de carga horária”.
O segundo ponto é unir esses talentos com ciência de ponto. “Nosso dever é dar aos médicos e professores tempo para orientar os doutorandos, os residentes, da melhor maneira possível”. Hoje, o Moinhos tem 19 programas de residência médica.
“Esse é o elemento central, geração de conteúdo próprio, com meta de publicação internacional”, afirma. “Queremos ser respeitados pela ciência que estamos fazendo aqui, conectados com a pesquisa farmacêutica e desenvolvimentos de tecnologia e ciências próprias”.
Hoje, 75% da receita da instituição vem do hospital, e os 25% do centro de pesquisa clínica e no braço de educação. A meta é que a divisão fique em 60% com hospital e 40% com os outros braços e seguir crescendo. “O objetivo é dobrar de tamanho em quatro anos”.