Marcela Sayumi, 17 anos, soma 40 medalhas em Olimpíadas Científicas e se prepara para o vestibular da USP (Arquivo Pessoal)
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Publicado em 28 de outubro de 2025 às 12h00.
Última atualização em 28 de outubro de 2025 às 16h55.
Aos 17 anos, Marcela Sayumi conquistou um feito que impressiona até os professores mais experientes: 40 medalhas em Olimpíadas Científicas.
Aluna do Colégio Marista Arquidiocesano, na zona sul de São Paulo, ela começou a competir ainda no ensino fundamental movida pela curiosidade e pelo incentivo dos pais, que são professores.
“Apesar de ser um número muito grande, foi um processo bastante natural”, conta ela.
A naturalidade com que fala sobre a própria trajetória, no entanto, contrasta com a dimensão das conquistas. Marcela já participou de Olimpíadas de matemática, biologia, astronomia e geografia e costuma competir em cinco a dez eventos por ano.
No total, são sete anos de dedicação a desafios intelectuais que exigem técnica, disciplina e, sobretudo, autoconhecimento.
“Tem a parte técnica, claro, com aulas preparatórias ou provas anteriores”, explica. “Mas é o treino que ajuda a lidar com a ansiedade. Com o tempo, você percebe que quanto mais calma melhor, e que organizar o tempo é essencial”, defende.
Aluna do Colégio Marista Arquidiocesano, em São Paulo, Marcela é destaque nacional em competições acadêmicas e inspiração para uma nova geração de jovens apaixonados por aprender (Arquivo Pessoal)
O desempenho de Marcela não é fruto apenas de esforço individual. Por trás da jovem está uma estrutura educacional pensada para estimular alunos com curiosidade acima da média.
O Colégio Marista Arquidiocesano, uma referência nacional em Olimpíadas Científicas, aposta em aulas no contraturno, clubes de estudo e acompanhamento personalizado para apoiar estudantes. Em matemática e física, há cursos fixos semanais; outras áreas, como biologia e geografia, recebem preparações específicas conforme o calendário das competições.
“Nós precisamos olhar para os dois extremos: o aluno que precisa de apoio e o que busca ir além”, afirma Patrick Oliveira de Lima, coordenador pedagógico do Ensino Médio do Marista. “Temos o curso avançado de matemática desde o sexto ano até o terceiro do ensino médio. Às vezes há até processo seletivo de tanto interesse”, explica.
O colégio também aposta na combinação entre hard skills e soft skills, com disciplinas específicas, como Future Skills, voltadas ao desenvolvimento de empatia, oratória, trabalho em equipe e resiliência.
“Um ensino médio preocupado apenas com aprovação é um ensino médio pobre. Nosso foco é gerar grandes experiências que geram repertório”, resume Patrick.
Disciplinada e curiosa, Marcela equilibra uma rotina de estudos de mais de 12 horas por dia. As manhãs e parte das tardes são dedicadas às aulas regulares; o restante do tempo, aos estudos individuais e exercícios. “Quando treinava para as Olimpíadas, fazia provas antigas com o tempo cronometrado, como se fosse a prova real”, conta.
Hoje, com o vestibular se aproximando, reduziu o número de competições para focar nas provas da USP, seu grande objetivo. “Meus pais e minha irmã estudaram lá, sempre foi uma referência na família”, revela. Em 2024, participou da Unicamp como treineira – e ficou em primeiro lugar, com redação destacada entre as melhores.
Além do talento lógico, há uma veia humanista evidente. Durante a pandemia, aprendeu coreano sozinha, guiada pela paixão por música e cultura asiática. Também escreve histórias de ficção e planeja publicar seus primeiros livros em breve.
Seu curso escolhido no vestibular reflete essa síntese entre lógica e humanismo: Relações Internacionais. “Gosto de falar, escrever e ler. Quero estudar para atuar de alguma forma na política do Brasil. Mesmo gostando muito de matemática, acho que o raciocínio lógico vai comigo, independentemente da carreira.”
Entre provas, leituras e treinos cronometrados, Marcela Sayumi construiu uma trajetória marcada por disciplina, talento e amor pelo conhecimento (Arquivo Pessoal)
Marcela enxerga as vitórias, mas também as vezes em que não subiu ao pódio. “O número de Olimpíadas que fiz é muito maior do que o de medalhas que ganhei. Acho importante reconhecer o esforço e entender que nem sempre o resultado vem. Tudo bem não dar certo, tem o ano que vem”, diz. A postura reflete uma das principais lições do colégio.
“Trabalhar com o erro nunca foi tão importante. Os hard skills não são o nosso maior desafio. O grande desafio é formar jovens emocionalmente preparados para lidar com o fracasso. A resiliência talvez seja uma das maiores habilidades para o futuro”, afirma Patrick.
No Marista, essa formação emocional é acompanhada de perto. Cada turma tem um professor titular, responsável por monitorar o desempenho e o bem-estar dos alunos. “Esse professor observa quando há sinais de alerta, tanto acadêmicos quanto emocionais. É uma forma de garantir que o aluno seja visto por inteiro.”
O coordenador não esconde o orgulho ao falar da trajetória de Marcela e do impacto que ela representa para a escola. “Hoje o Marista é referência nacional. Participamos de praticamente todas as Olimpíadas possíveis, e isso começou lá atrás, em 2012, quando o objetivo era justamente formar um time olímpico. Ver o que construímos é motivo de muito orgulho”, afirma.
Em competições como a OBMEP, o colégio já foi reconhecido entre as três melhores escolas do país, e dezenas de alunos conquistaram vagas em universidades como USP e Unicamp por meio das Olimpíadas.
Marcela é o retrato mais recente desse movimento. Filha de professores, leitora voraz e estudante incansável, representa uma nova geração de jovens brasileiros que enxergam o conhecimento não como obrigação, mas como paixão.
“Eu fico muito feliz quando pessoas mais novas dizem que se inspiram em mim”, diz. “Reconhecer o esforço é importante. Foram muitos anos de dedicação e cada tentativa valeu a pena.”
Entre medalhas, livros e sonhos, Marcela Sayumi segue trilhando um caminho raro: o de quem aprendeu cedo que o verdadeiro prêmio está no prazer de aprender.