Danielle Costa, fundadora da TacaCode Hub: “Não queria ficar só no corporativo; meu chamado era a educação e a transformação de vidas pela tecnologia”
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 5 de setembro de 2025 às 15h16.
Apesar de avanços recentes, a participação feminina em áreas como Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática – STEM, na sigla em inglês –, ainda enfrenta desigualdades no Brasil e no mundo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 35% das matrículas nesses cursos são de mulheres. Danielle Costa está entre as que desafiam essas estatísticas. Incentivada desde criança a aprender matemática e desbravar caminhos, é uma das fundadoras da TacaCode Hub, startup de educação em tecnologia com foco em diversidade e inclusão.
A empresa, que nasceu em 2021 com a proposta de promover a alfabetização digital na região amazônica, pensa grande: projeta crescer 30% em 2025, ultrapassar R$ 230 mil de faturamento e expandir a atuação para além da região Norte. O objetivo é consolidar-se como referência em treinamentos corporativos personalizados e iniciativas de impacto social. Mais do que números, no entanto, a trajetória da empreendedora, de 47 anos, traduz a essência do negócio: superar barreiras e abrir caminhos para que mais pessoas, especialmente mulheres, conquistem espaço no setor de TI.
Mãe solo e natural de Ananindeua, região metropolitana de Belém, Danielle cresceu com a determinação de transformar obstáculos em conquistas. Ainda adolescente, encontrou nos números um caminho para o futuro. “A matemática foi um grande desafio no início, mas meu tio Fred, que era professor, me ensinou de um jeito diferente. Depois disso, nunca mais tirei uma nota baixa”, lembra.
Aos 15 anos, iniciou um curso técnico de eletrônica, experiência que despertou sua paixão pela computação. Depois, decidiu ingressar simultaneamente em Engenharia Eletrônica na Universidade Federal do Pará (UFPA) e em Ciência da Computação no Centro Universitário do Pará (CESUPA), optando pela segunda graduação por ser mais fácil conciliá-la com o trabalho, graças ao financiamento estudantil. Com essa base teve a chance de atuar em iniciativas significativas. Na Amazon e na Itautec, participou de projetos de automação bancária; no setor público, assumiu cargos como analista de sistemas do Detran-PA. Por lá, liderou a digitalização do sistema de habilitação. Apesar da estabilidade, sentia falta de propósito. “Não queria ficar só no corporativo; meu chamado era a educação e a transformação de vidas pela tecnologia.”
Seguiu, então, a carreira acadêmica. Fez mestrado em Engenharia Elétrica, na área de computação aplicada, e doutorado em Genética e Biologia Molecular, com ênfase em bioin formática. A experiência como professora universitária e pesquisadora foi o ponto de partida para a criação da TacaCode Hub que, em 2024, foi reconhecida como uma das seis startups mais promissoras da região Norte no Programa Mulheres Inovadoras, promovido pela Finep e pelo MCTI.
O impulso para empreender nasceu do desejo de ampliar o acesso de meninas e mulheres à tecnologia. Ao lado de Isabelle Mayumi, amiga e atual sócia, e de outras professoras da região, Danielle criou o projeto Meninas Digitais de Ananindeua para incentivar estudantes do ensino médio e universitário a ingressarem em TI.
Com financiamento inicial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), organizou oficinas, workshops e materiais didáticos para escolas e comunidades. A experiência mostrou a força do projeto, mas também a limitação: os recursos eram temporários e não havia linhas de fomento consistentes quando o foco era gênero e tecnologia. Foi aí que, durante a pandemia, entendeu que precisava transformá-lo em um negócio de impacto social para sobreviver e escalar. As sócias passaram por programas de aceleração, como o Bem Ideia e o Mulheres Inovadoras do MCTI, e estruturaram a edtech.
Atualmente, a TacaCode oferece treinamentos corporativos personalizados, consultorias e programas de formação em TI com foco em diversidade e inclusão. Já desenvolveu, por exemplo, projetos híbridos e online para organizações como a Fundação Baobá e o British Council, incluindo turmas exclusivas para PCD, com recursos de tecnologia assistiva para surdos, cegos e cadeirantes.
A equipe é majoritariamente feminina e a empresa aposta na metodologia STEAM para ensinar programação e desenvolvimento. Isso quer dizer fornecer uma abordagem interdisciplinar que integra essas áreas em atividades educacionais, incentivando a resolução de problemas complexos, a criatividade e a inovação. A ideia também é motivar que os alunos não apenas consumam, mas produzam tecnologia com a sensibilidade e a identidade amazônica.
Conciliar múltiplos papéis é parte do cotidiano de Danielle: além de empreendedora, é professora universitária, mãe de uma menina de 11 anos e cuidadora dos pais idosos. “Sou arrimo de família e já pensei que teria um burnout”, afirma.
A fala ecoa um desafio que não é apenas dela. No Brasil, segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2023), 48% dos empreendimentos iniciais já são liderados por mulheres, mas a sobrecarga de tarefas domésticas, o acesso restrito a crédito e a dificuldade de inserção em redes de apoio ainda são obstáculos significativos. “O que me fez seguir foi entender que a TacaCode não é só um negócio: é um sonho coletivo que transforma vidas. Meu maior desejo é que a empresa continue existindo, mesmo sem a minha liderança: que seja um legado de educação de qualidade e inclusão digital para todo o Brasil”, finaliza.