Henrique Garrido, CEO da Nomo (Nomo/Divulgação)
A Nomo é um daqueles negócios que nascem para brigar por espaço em mercados tradicionais e nichados, ainda que isso seja uma dura tentativa de entrar no páreo de líderes do setor. Com concorrentes de peso, a startup paulista disputa um filão de mercado já dominado por empresas como Vivo, TIM e Claro — o de telecomunicações.
Fundada há dois anos por um grupo de colegas com histórico na fintech Stone, a Nomo se propõe a ser uma operadora 100% digital que contraria a lógica deste setor, priorizando a agilidade no atendimento e a flexibilidade de escolha para quem decide sobre seus próprios planos de ligações e internet.
A transição da área de finanças para o mundo das telecomunicações não foi por acaso. Juntos, os sócios perceberam que a revolução que já batia à porta dos bancos tradicionais e incentivava a criação de novos modelos de negócios e fazia proliferar o número de bancos digitais com a ambição de melhorar o atendimento engessado dessa indústria ainda não havia chegado a outros setores. "Víamos a revolução que Nubank, Neon e outros bancos traziam para o atendimento e digitalização dos serviços financeiros. Mas telecom ainda era um quadro em branco", diz Henrique Garrido, fundador e CEO da Nomo.
O racional por trás da decisão dos fundadores em abandonarem, ainda que em momentos diferentes, a Stone para entrar num mercado que não dominavam veio da ideia sólida de que o modelo de negócios prosperaria, diz Garrido. "O sistema telecom é igual ao financeiro: muito concentrado, só que com o adicional de ser muito mais mal servido. Criar um "Nubank da telecomunicação" era algo que ninguém no mercado tinha sequer cogitado".
A Nomo chegou ao mercado oficialmente em novembro de 2021, e vendeu seus primeiros chips em fevereiro deste ano, depois de um longo período de desenvolvimento de tecnologia e testes, além de entrevistas com uma base de mais de 6 mil potenciais clientes.
Sem infraestrutura própria, o sinal da Nomo vem da rede de antenas e torres da Telecall, representante da Vivo. Para a Nomo, fica a parte de vendas, marketing e atendimento ao cliente.
Ao consumidor final, a Nomo revende dados e minutos, de maneira digital e por meio de um aplicativo próprio, por onde consumidores também podem ativar seus chips — que, por sua vez, chegam diretamente na casa dos clientes, por um serviço de entrega.
Segundo Garrido, o diferencial do negócio está no leque extenso de planos e opções oferecido ao consumidor. Por um aplicativo digital, ele pode contratar serviços para ligação e mensagens, além de diferentes opções de planos de internet de acordo com a sua necessidade.
Em outra frente, a Nomo pretende se diferencial pelo modelo de cobrança. Para abolir os boletos mensais, a operadora faz as cobranças por cartão de crédito, num modelo de recorrência similiar ao de plataformas de streaming como Netflix e Spotify.
A escolha de planos, pagamentos, ativação de chips e atendimentos de suporte ao consumidor são feitas em um aplicativo. “Se percebíamos semelhança do nosso produto com o Netflix ou um Spotify, pensamos: por que não criar uma interface digital, um app para resolver as dores dos consumidores?”, diz. Também pelo app, o consumidor tem a opção de cancelar planos automaticamente, sem multas rescisórias contratuais — uma prática comum nessa indústria, por lá chamada de "prazo de fidelidade".
O consumidor também pode mudar seu plano, reduzindo ou aumentando minutos e dados, sempre que desejar.
No final do dia, a aposta da Nomo se resume em oferecer uma experiência primorosa aos clientes. Com todas essas facilidades, a Nomo pode esbanjar um NPS (métrica que avalia a percepção dos consumidores sobre a prestação de um serviço) acima de 80, quando a média deste mercado pode, por vezes, ficar abaixo de 10.
Segundo Garrido, a empresa cresce cerca de 40% ao mês, e conta com uma fila de espera de 15 mil pessoas — a Nomo não divulga sua base de clientes ativa atual.
Para dar conta do crescimento e encurtar o prazo de espera de clientes em busca dos chips da Nomo, a startup saiu em busca de capital externo. Nesta semana, captou R$ 1,5 milhão em uma extensão de um aporte seed de R$ 15 milhões. A captação foi liderada novamente pelo Fundo Iporanga.
O destaque, contudo, não está no cheque em si, mas no smart money da rodada. Com a extensão, a Nomo trouxe para si nomes de peso do mercado de teleom, como Roberto Rittes, ex-CEO da Nextel e que comendou a venda da empresa à Claro e Ronaldo Iabrudi, ex-CEO da Telemar e atual vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar. Guilherme Weege, da Malwee, e Yann Schuermans, ex-Circles.Life também entraram no round.
"Ainda temos 60% daquele valor do seed no caixa, então não necessariamente precisávamos desse capital agora. Mas os investidores reconheceram nosso potencial de crescimento e nós, por aqui, reconhecemos a necessidade de ter esses nomes para acelerar nosso processo", diz.
Agora, a Nomo pretende expandir sua vertical de negócios para outras empresas. A ideia é poder oferecer sua insfraestrutura tecnológica, como o aplicativo e sistema de cobrança automático, para outras operadoras do setor, num modelo de tecnologia de "telecom as a service", como descreve a empresa. Trata-se de uma vertical que já nasce ancorada em grandes clientes, segundo Garrido, que ainda não divulga nome de empresas parceiras.
Com as novas apostas, o objetivo é multiplicar a base de clientes oito ou nove vezes em 2023. "Vamos crescer e sabemos que temos o potencial de mudar esse setor. Queremos ser a terceira via da telecomunicação", diz.
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