Negócios

'Compra no Zap': empresa que cria atendentes com IA capta R$ 110 milhões para avançar no Brasil

Negócio criado em São Francisco já atende clientes como Renner, Daki, Swift e Oficina Reserva

Vasilis Karkantzos, da Connectly: "Se dominarmos o mercado brasileiro, dominamos qualquer mercado" (Divulgação)

Vasilis Karkantzos, da Connectly: "Se dominarmos o mercado brasileiro, dominamos qualquer mercado" (Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 08h31.

Você está de aniversário e, de repente, chega uma mensagem no WhatsApp da varejista Renner de presenteando com um cupom de desconto. Ou então, num dia qualquer, esse mesmo chat relembra que você deixou uns produtos na sacola online, e te convida a concluir a compra.

Provavelmente essa cena já aconteceu com você. Se não com a Renner do outro lado da conversa, com outra qualquer grande varejista brasileira que aproveita o fato de praticamente todo brasileiro ter WhatsApp para vender mais. Durante a pandemia, teve até quem criou campanha para ‘comprar no Zap”. 

Agora, se foi com a Renner (ou com a Oficina Reserva, Puravida, Daki, Swift, Malwee, Camicado, Oscar Calçados e Farmácias São João), saiba que por trás dessa tecnologia está uma empresa de São Francisco, nos Estados Unidos.

Trata-se da Connectly, uma das líderes em inteligência artificial aplicadas em comércio conversacional, um nome complicado para chamar aquele tipo de venda que acontece em conversas online, como as do WhatsApp. Apesar de estrangeira, a startup tem aqui no Brasil seu maior faturamento e a maior equipe. Não à toa, já recebeu de gigantes nacionais, como a própria Renner, aportes para apoiar seu crescimento.

Agora, vem de uma varejista do outro lado do planeta um novo cheque para estruturar o crescimento da startup norte-americana.

A Connectly acaba de anunciar a captação de 110 milhões de reais, numa rodada Series B liderada pelo Alibaba, grupo de e-commerce chinês dono do AliExpress. Participaram da captação, ainda, a Unusual Ventures, a Volpe Capital, a RX Ventures (do Grupo Renner), a Falabella Ventures e a Philippos Kourkoulos Latsis. 

Desse valor, a maior parte virá para o Brasil.

“O Brasil é o nosso maior desafio, porque praticamente todo mundo usa WhatsApp. Se conseguirmos dominarmos a tecnologia aqui, conseguiremos em qualquer lugar”, disse o chefe comercial da startup, o grego Vasilis Karkantzos, numa entrevista exclusiva — e em português (um dos cinco idiomas que ele fala para conseguir vender para o mundo inteiro) — à EXAME.

Qual é a história e o que faz a Connectly 

Fundada em 2020, no Vale do Silício, por veteranos de big techs como Facebook, Google, Uber e até mesmo da NASA, a empresa utiliza modelos proprietários de IA Generativa e tem ajudado varejistas do mundo todo a expandirem seus negócios por meio de mensagens personalizadas, um serviço disponível 24 horas por dia.

A startup foi criada por Stefanos Loukakos, ex-diretor do Facebook, e por Yandong Liu, ex-CTO do aplicativo de corrida Strava. Em 2022, o negócio aterrissou no Brasil. Um ano depois, fez uma rodada com aportes da Renner e da Volpe, que permitiu, inclusive, a entrada no mercado dos Estados Unidos e o lançamento de uma assistente de recomendação de produtos para os clientes. 

Na prática, a empresa oferece uma plataforma em que as companhias podem criar campanhas interativas, no WhatsApp dos clientes, utilizando inteligência artificial. Se uma marca tem uma lista de contatos e quer fazer com que eles virem clientes, por exemplo, pode enviar uma mensagem no aplicativo de conversas pela Connectly. A startup de São Francisco, então, automatizará e personificará a conversa com inteligência artificial. Assim, para o cliente final, vai parecer que a mensagem foi pensada, diretamente, para ele. 

"Estamos trabalhando para levar a tecnologia às marcas ao redor do mundo, criando interações mais personalizadas em escala”, diz Loukakos. “Já conquistamos muito no último ano, incluindo o lançamento de uma nova Pesquisa com IA para empresas, e a Sofia AI (que consegue indicar produtos personalizados para cada consumidor)”.

Como será o novo aporte

Com o novo aporte, duas frentes serão aceleradas: a de tecnologia e a de pessoas.

  • Tecnologia: custear o desenvolvimento e o processamento da inteligência artificial, permitindo que ela tenha uma atuação global
  • Pessoas: contratar pessoas para desenvolver tecnologia e, principalmente, o time de vendas

Como a captação é liderada pelo Alibaba, a Connectly também terá seus serviços funcionando no e-commerce chinês. A startup entrou no comércio chinês há 10 meses. 

“Eles nunca usaram WhatsApp como canal até agora”, diz Vasilis. “Começamos a conversar para eles se tornarem nossos clientes e acabou que entraram, também, para o time de investidores”. 

A meta é dobrar a receita global - não divulgada - até o final do próximo ano. Nos últimos dois anos, a Connectly cresceu 15 vezes. Na filosofia do crescimento, um ponto importante: desenvolver uma tecnologia que seja eficaz, mas mais ainda, simples para o cliente.

“Se eu não posso demonstrar em cinco minutos porque a tecnologia vale a pena, a tecnologia não está pronta”, diz Vasilis. “Nosso IA pode ser programado em menos de um minuto, em todos os idiomas. Em 10 minutos, você pode criar uma estratégia completa de vendas por WhatsApp. É assim que estamos crescendo”.

Com a gana para conquistar novos clientes e com esse novo cheque, pode apostar: em algum momento, a mensagem que você receberá de uma grande empresa, provavelmente, terá a tecnologia da Connectly envolvida.

Acompanhe tudo sobre:StartupsInteligência artificialVenture capital

Mais de Negócios

Ele só queria um salário básico para pagar o aluguel e sobreviver – hoje seu negócio vale US$ 2,7 bi

Banco Carrefour comemora 35 anos de inovação financeira no Brasil

Imposto a pagar? Campanha da Osesp mostra como usar o dinheiro para apoiar a cultura

Uma pizzaria de SP cresce quase 300% ao ano mesmo atuando num dos mercados mais concorridos do mundo