Celular mostra Whatsapp e Facebook: o que muitos se perguntam é por que gastar tanto em um aplicativo que tem basicamente a função que o Facebook já possui (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 13h27.
Madri Os US$ 19 bilhões que o Facebook gastou para comprar o WhatsApp podem ser considerados um movimento defensivo não só de incorporar um grande concorrente, mas ganhar uma queda de braço ao retomar o contato com a audiência jovem e reforçar sua presença internacional.
O que muitas pessoas se perguntam é por que gastar tanto em um aplicativo que tem basicamente a função que o Facebook já possui, de mensagem instantânea.
A resposta está no WhatsApp, companhia de origem americana que tem hoje apenas 55 empregados, ter alcançado em cinco anos 450 milhões de usuários.
70% das pessoas se conectam diariamente ao aplicativo, que registra um milhão de downloads por dia e 50 bilhões de mensagens a cada 24 horas.
Seu ritmo de crescimento, sua relevância fora dos Estados Unidos, especialmente na Europa e na América Latina, e a evolução no uso das redes sociais, especialmente entre os jovens, de um modelo mais exibicionista para outro mais privado e pessoal em que se encaixa a mensagem instantânea são algumas das razões que justificam esta transação que surpreendeu ontem à noite à indústria tecnológica.
"É um movimento defensivo. Não estão dizendo o "Facebook é uma plataforma maravilhosa e com isto estamos a aprimorando". Estão dizendo "como companhia precisamos fazer uma coisa diferente e aqui está", disse hoje à Agência Efe o responsável europeu de análise da empresa de consultoria IDC, Alys Woodward.
O especialista explicou que todas as redes sociais têm um ciclo de vida e que, assim que começam a perder usuários ou a detectar que o uso diminui, começam a desinflar, daí a decisão do Facebook de adquirir o WhatsApp.
"O Facebook tem essa paranoia de "não quero ser o menino do século passado, o que fica para trás, e vou ter o próximo Facebook também" e aí a fronteira é muito claramente pelas plataformas móveis. (O Facebook) tenta responder a tudo", afirmou a Efe o co-fundador do grupo editorial Weblogs SL, Antonio Ortiz.
Ortiz descartou que o Facebook vá ter uma base de usuários mais velhos, já que eles têm maior valor aquisitivo que os jovens, mas matizou que é um "alarme vermelho" a juventude migrar para outro tipo de comunicação.
O responsável editorial do Weblogs SL explicou que, para conversar em privado, o Facebook começou a ser percebido como um lugar menos adequado, menos pessoal e complexo demais. Na mensagem instantânea, acrescentou, a interatividade e o envolvimento são mais elevados do que na rede social.
Se no computador a rede social fundada por Mark Zuckerberg conseguiu ser a rainha, no móvel é coadjuvante e o Facebook insiste em fortalecer sua presença neste setor.
A rede social está se transformando no núcleo de uma série de aplicativos separados que atuam como satélites, mas que mantêm certa integração com ela (Messenger, Paper, Instagram). Agora o WhatsApp é o maior satélite.
As companhias garantiram que o serviço continuará funcionando de forma independente e manterá sua política livre de anúncios.
Tanto Ortiz como Woodward se mostraram cautelosos em acreditar se Facebook mudará de opinião - e recorrerá à publicidade - no futuro se comprovar que o negócio não é sustentável.
Ortiz apontou que, se o WhatsApp conseguir se estabelecer como um serviço de mensagem universal e padrão em substituição aos sms, a operação teria sentido econômico.
O Facebook reforçou que o WhatsApp está na caminho para chegar a um bilhão de usuários e que a aquisição dá flexibilidade para crescer e continuar sua internacionalização.
"Precisamos de tempo para comprovar o que vai acontecer", disse o analista do IDC.
Os especialistas descartaram que o Facebook monitore as conversas do WhatsApp para conhecer melhor os usuários, devido às questões de privacidade que isto traia, apesar de Woodward reconhecer que a publicidade super-personalizada é uma ideia tentadora.