Avião da irlandesa Ryanair: com novos obstáculos para a retomada das viagens aéreas, o setor pode enfrentar uma crise de caixa na Europa e seguir os percalços financeiros das companhias aéreas da América Latina (Albert Gea/Reuters/Reuters)
Leo Branco
Publicado em 26 de março de 2021 às 16h21.
Última atualização em 26 de março de 2021 às 16h44.
Com novos obstáculos para a retomada das viagens aéreas, o setor pode enfrentar uma crise de caixa.
Um segundo verão perdido para a pandemia de coronavírus poderia levar a uma onda de recuperações judiciais de companhias aéreas e pedidos de falência, juntamente com uma repetição dos resgates de 2020, demissões, adiamento de encomendas de aviões e cancelamentos, segundo a consultoria IBA Group.
O otimismo que levou o índice Bloomberg World Airlines ao maior nível desde o início da pandemia evaporou na última semana.
A TUI AG, maior operadora de turismo do mundo, reduziu a programação de verão para refletir uma alta temporada que não começará até julho, pelo menos dois meses depois do normal.
A Ryanair realizou uma coletiva de imprensa para tranquilizar os possíveis turistas de que poderão mudar os voos gratuitamente e pediu que não entrem em “pânico” com manchetes negativas.
“O terreno muda de um dia para o outro”, disse Stuart Hatcher, da IBA. Os governos estão cientes de que adiar a reabertura das viagens significará mais perdas para a indústria de aviação, mas estão preocupados com o aumento dos casos de covid-19, mesmo com a continuidade da vacinação, disse em entrevista.
As aéreas europeias sentiram particularmente a incerteza por causa dos casos crescentes e dos novos lockdowns. Empresas voltadas para o turismo, como a TUI e a Ryanair, costumam usar os primeiros três meses do ano para receber reservas de verão, o que permite fazer caixa enquanto preparam as operações.
Qualquer margem de manobra está diminuindo rapidamente. A TUI, que atende turistas alemães e britânicos que inundam o Mediterrâneo durante os meses mais quentes, disse na quinta-feira que tem liquidez suficiente para durar “até o verão”, sem ser mais específica.
A IAG, proprietária da British Airways, garantiu um novo empréstimo usando seus cobiçados slots de decolagem e pouso no aeroporto Heathrow de Londres como garantia.
As viagens precisam ser retomadas para valer até 1º de julho ou as companhias aéreas correm o risco de perder os poucos meses que proporcionarão a maior parte dos ganhos anuais, disse na quinta-feira o CEO da Air France-KLM, Ben Smith.
“Julho é fundamental porque o terceiro trimestre, para a maioria das companhias aéreas europeias, é o trimestre-chave para sobreviver ao longo do ano”, disse Smith em coletiva realizada pelo grupo de lobby das Airlines for Europe.
O grupo tem pressionado pela rápida adoção dos chamados passaportes da vacina e pelo fim das quarentenas que, afirma, esmagam a demanda.
Embora 45 companhias aéreas tenham pedido falência em 2020, muitas outras continuam a ter esperança de um renascimento iminente dos mercados de lazer, disse Hatcher, da IBA. Isso parece menos provável diante do cenário atual.
Na quinta-feira, o Conselho Internacional de Aeroportos disse que o tráfego global de passageiros permanecerá quase 50% abaixo dos níveis normais neste ano.
As maiores aéreas da América Latina, como Latam Airlines, Avianca e Grupo Aeromexico, que pediram proteção contra credores sob a lei de falência dos Estados Unidos devido à falta de resgates de seus governos, provavelmente buscarão extensões se o fluxo de caixa não se recuperar, disse Hatcher.