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Como uma fábrica de própolis fatura R$ 100 milhões ao ano

Apis Flora, de Ribeirão Preto, cresceu 160% na pandemia e quer convencer consumidor a tomar própolis todos os dias

Abelha em processo de polinização. (foto/Getty Images)

Abelha em processo de polinização. (foto/Getty Images)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 23 de abril de 2022 às 07h00.

Última atualização em 29 de abril de 2022 às 10h27.

Em meio às comemorações de seus 40 anos, a fabricante de própolis Apis Flora tem muito o que celebrar. Baseada em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a empresa cresceu 160% nos últimos dois anos e terminou 2021 com faturamento na casa dos 100 milhões de reais – tudo com base na venda de mel e, principalmente, própolis.

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O crescimento acentuado se explica em parte por uma mudança de comportamento do consumidor. Antes da pandemia, os produtos da Apis Flora tinham picos de consumo nos meses de inverno. Depois da covid, aparentemente todo dia é dia de tomar própolis. “Antes da pandemia era um produto sazonal. Hoje não temos mais isso e esperamos manter essa tendência nos próximos anos”, diz Raul Ferreira, presidente da Apis Flora.

O desafio é garantir que esse comportamento se mantenha mesmo com o fim da pandemia. Para isso, uma das principais frentes é o desenvolvimento de novos produtos para consumo diário, com foco em melhorar a imunidade. A empresa também busca continuamente novas formas de apresentação do produto, a fim de facilitar o consumo. No portfólio tem própolis em spray, gotas, líquido (como um xarope) e em cápsulas.

A Apis Flora também investe fortemente em pesquisas com o produto. Já foram 130 pesquisas publicadas e seis pedidos de patente. O estudo mais recente envolveu pacientes com covid-19 internados em estado grave. O estudo, ainda preliminar, visava entender se o uso da própolis poderia reduzir o tempo de internação do paciente. Os primeiros resultados foram animadores e a empresa segue agora com outro estudo, mais amplo, para confirmar os resultados. “A ideia é levar os benefícios da própolis com a maior segurança científica possível”, diz Ferreira.

A empresa foi fundada em 1982 pelo pai de Raul, Manoel Ferreira, que é agrônomo e sempre trabalhou com abelhas. No início, fabricava apenas mel. Após um ano no mercado, lançou seu primeiro extrato de própolis, em uma época em que esse produto era pouco conhecido, tanto para o público quanto para o produtor. “Era um produto desconhecido no Brasil, muitas vezes era descartado pelo produtor, pois atrapalhava a produção de mel”, diz.

Em 2017, o laboratório francês Lehning comprou uma parte da empresa. O fundador, Manoel, se aposentou e o filho Raul assumiu o comando em 2018.

Para que serve a própolis?

A própolis é uma resina produzida pelas abelhas para vedar a colmeia e evitar doenças. Para fazê-lo, as abelhas escolhem plantas com propriedades antibióticas da região onde estão. Para garantir a produção de própolis, o produtor abre uma fenda na colmeia e espera que as abelhas cubram o buraco com a própolis.

A palavra própolis é derivada do grego pro-, em defesa, e polis-, cidade ou comunidade. Isso é, em defesa da comunidade, no caso, em defesa da colmeia.

A substância é usada como medicamento desde o ano 300 a.C., e há indícios de seu uso em civilizações distintas como assírios, incas, egípcios, gregos e romanos. Segundo a Apis Flora, já foram comprovadas as atividades imunoreguladora, anti-inflamatória, antimicrobiana, cicatrizante, antifúngica, antioxidante e hepatoprotetora da própolis.

 R$ 500 o quilo

O produto que antes era descartado hoje é muito mais valioso que o próprio mel. Um quilo de mel custa cerca de 20 reais, já um quilo de própolis sai a cerca de 500 reais, segundo Ferreira. Hoje, 85% do faturamento da Apis Flora vem da própolis.

Para garantir certa previsibilidade em um produto que depende da vegetação próxima de cada colmeia, e possui mais de 300 compostos, a Apis Flora criou e patenteou o Extrato Padronizado de Própolis. Com ele, a empresa garante que o consumidor vai comprar sempre o mesmo produto, independentemente do lote, época do ano e condições climáticas. Para isso, a Apis Flora analisa a própolis coletada e faz uma composição para garantir as características especificadas no produto.

A Apis Flora tem três plantas fabris em Ribeirão Preto, que produzem mel, própolis, sprays para a garganta, xaropes e fitoterápicos. A empresa está finalizando as obras de uma nova planta que será exclusiva para a produção de própolis e vai expandir a capacidade produtiva da Apis Flora em dez vezes. O investimento deve chegar a 12 milhões de reais. Hoje ela processa 50 toneladas de própolis por ano, com a nova fábrica serão 500 toneladas.

Com isso, a Apis Flora pretende reforçar sua presença internacional, sem deixar de atender a demanda local, agora maior após a pandemia. A Apis Flor já exporta para mais de 30 países, em especial do mercado asiático, como China e Coreia do Sul. A meta agora é reforçar sua presença na Europa e na América do Norte. E crescer acima de 15% no ano.

 

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