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Como obedecer a dois chefes sem se queimar com ninguém

Caso de Roger Agnelli, da Vale, traz lições para executivos sobre a importância do jogo de cintura quando é preciso se reportar a mais de um superior

Roger Agnelli, da Vale, não teve jogo de cintura suficiente para lidar com seus dois chefes, o governo e os acionistas privados, e acabou demitido (Divulgação/ Agência Vale)

Roger Agnelli, da Vale, não teve jogo de cintura suficiente para lidar com seus dois chefes, o governo e os acionistas privados, e acabou demitido (Divulgação/ Agência Vale)

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Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2011 às 09h57.

São Paulo – Reportar-se a dois chefes é cada vez mais comum no dia-a-dia de executivos. Isto porque as empresas estão buscando estruturas mais integradas, com equipes compostas por profissionais de várias áreas, com o objetivo de ter uma visão mais geral de cada negócio. Este é o lado bom da história. O lado ruim é que, no mundo real, chefes costumam ser temperamentais, lutar por poder e se melindrar facilmente. Afinal, antes de tudo, são pessoas de carne e osso. E quem precisa obedecer a dois ou mais chefes ao mesmo tempo sabe bem a dor de cabeça que isso causa.

Que o diga Roger Agnelli, que está de saída da Vale. Nos dez anos em que comandou a segunda maior mineradora do mundo, Agnelli se dedicou mais a atender aos interesses de um de seus “chefes” – os acionistas privados, liderados pelo Bradesco. Sua situação se complicou quando o outro “chefe”, tão poderoso quanto o primeiro, resolveu romper o silêncio. Trata-se do governo, que exige que a Vale invista mais no mercado interno e em setores como siderurgia e energia. Dois chefes, interesses distintos – e uma demissão. Eis o final da história.

Mas esse desfecho pode ser evitado por executivos que vivem a mesma situação. O fundamental, segundo os especialistas, é saber negociar e costurar consensos. Veja, a seguir, algumas atitudes que podem ajudá-lo a ter jogo de cintura nestas horas.

Conheça a si mesmo

Fazer uma autocrítica e se auto-avaliar com honestidade não é uma prática comum no mundo corporativo, segundo Irene Azevedo, diretora de negócios da DBM Brasil e América Latina. Mas esse é o primeiro passo para lidar com quem quer que seja.

“É preciso se conhecer bem para entender o outro melhor, mas pessoas têm muita dificuldade nisso”, diz. E, para chegar a essa iluminação interior, vale tudo: yoga, terapia, coaching. O fundamental é tirar um tempo para ouvir a pessoa mais importante nestas horas: você mesmo.

Analise o perfil dos chefes

Depois de aprender quem você é, ficará mais fácil de entender o que se passa na cabeça de seus chefes. Isso é fundamental, inclusive, para que você ajuste a conversa ao perfil dele – do tom de voz à abordagem. “Se tenho um chefe extremamente emocional, não posso ir direto ao ponto, porque o raciocínio dele não é prático. Se ele é pragmático, aí já posso ser bem direto. Se é racional, o melhor é basear meu argumento nos números. Se é reflexivo, posso tentar convencê-lo usando primeiro os conceitos envolvidos”, afirma Irene.


Sob pressão, você pode pensar que seus chefes são como água e óleo, e não se dar ao trabalho de descobrir pontos em comum entre eles. Esse descuido pode ser fatal, já que isso o impedirá de negociar soluções consensuais em caso de ordens desencontradas. “Quando se enfatiza o que há de comum entre os chefes, é possível equilibrar melhor a relação de todos”, afirma a professora do Ibmec/RJ, Janaina Alves. É preciso conhecer também o grau de poder de cada um deles e qual é o nível de dependência – e subordinação – entre si, para saber usar os argumentos certos.

Crie uma relação de confiança com eles

Segundo Janaina, do Ibmec/RJ, a conversa mais eficaz com chefes de interesses conflitantes é aquela onde há uma relação de confiança entre as partes. Para isso, o profissional precisa saber lidar com as particularidades e vaidades dos superiores. Essa confiança é construída não apenas pelo respeito, mas também pelo diálogo claro, transparente e aberto com ambos, deixando explícito o papel de cada um, as regras e os limites existentes no relacionamento.

Na hora de negociar, não imponha nada

Um “não” taxativo pode gerar muito mais indisposição dos chefes do que um “sim, com condições”, de acordo com Janaina, do Ibmec/RJ. Mesmo quando a demanda do chefe é impraticável naquele momento, o executivo deve mostrar que é possível realizar o pedido, desde que suas condições sejam atendidas. E essas condições podem ser mais investimentos, mais equipamentos, contratações ou qualquer outra coisa. O fundamental é mostrar que, com esses requisitos atendidos, todos sairão ganhando.

Não machuque o ego de ninguém

Outro perigo de tomar partido de um dos chefes e dar prioridade às suas demandas é ferir um bem precioso do outro chefe: o ego. Nessa relação, ninguém pode se sentir perdedor, pois, caso contrário, as reações podem ser radicais, assim como no caso de Roger Agnelli, que atingiu em cheio a vaidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao negar seus pedidos. Lula foi a campo pedir a cabeça de Agnelli, sua sucessora, Dilma Rousseff comprou a briga, e Agnelli está esvaziando as gavetas.

“Egos em briga geralmente são cegos e irracionais. Fica dificílimo encontrar um consenso”, diz Janaina, do Ibmec/RJ. Por isso, segundo ela, o executivo deve se manter a uma distância razoável da auto-estima de ambos os chefes. Afinal, nunca é demais lembrar que, no mundo dos negócios, adversários de ontem podem ser os aliados de amanhã. Em bom português: os chefes podem chegar a um acordo e, no fim, quem se prejudica é você. Está aí, mais uma vez, Agnelli para nos lembrar disso. O governo e o Bradesco apararam as arestas, e o comando da Vale será transferido para Murilo Ferreira no final de maio.

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