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Como o cuidado com a Amazônia é chave na ambição global da Natura

Compra da Avon é mostra de que sustentabilidade e desenvolvimento não são antagonistas, como o querem fazer parecer políticos mundo afora

Extração de castanha em reserva de desenvolvimento sustentável no Amapá: Natura é referência internacional em sustentabilidade (Pedro Martinelli/Natura/Divulgação)

Extração de castanha em reserva de desenvolvimento sustentável no Amapá: Natura é referência internacional em sustentabilidade (Pedro Martinelli/Natura/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2019 às 19h42.

Última atualização em 22 de maio de 2019 às 20h39.

A compra da Avon pela brasileira Natura, criando a quarta maior empresa de cosméticos dos mundo, é emblemática. Num momento em que a responsabilidade ambiental e a sustentabilidade são questionadas por líderes políticos de países como o Brasil e os Estados Unidos, o sucesso da Natura é uma mostra de como o meio ambiente não é inimigo do desenvolvimento.

Em quase cinco décadas de atuação, a companhia brasileira sempre usou a biodiversidade brasileira como aliada. A simbiose ficou mais clara desde 2004, quando a companhia abriu capital na Bolsa e precisou aliar metas sustentáveis de longo prazo com a pressão de resultados trimestrais.

Há 20 anos a empresa estabeleceu uma diretriz ousada para a época (e que bate de frente com as pressões revisionistas deste 2019): o que não pudesse ser reduzido deveria ser compensado. Foi a partir daí que a empresa, em 2007, neutralizou suas emissões de carbono. Tudo o que a companhia despeja na atmosfera é completamente neutralizado pela conservação ou pela recuperação de áreas de floresta das quais compra créditos de carbono.

A inserção na floresta amazônica em seus negócios é o grande marco sustentável e seu principal chamariz na crescente investida no mercado internacional. Ela começou nos anos 2000 com o lançamento da linha Ekos. Na época, a compra de óleos e manteigas de castanha e andiroba de quatro comunidades extrativistas era indireta. Por meio de compradores intermediários, a empresa acabava se blindando da desorganização das cooperativas.

A dificuldade dos ribeirinhos de produzir em ciclos bem delimitados e de cumprir contratos era agravada pela rotina de desmatamento ilegal, que na época atingiu seu ápice histórico no bioma. A definição do preço das matérias-primas também era um impasse, já que não havia padrões claros para o uso industrial daquelas substâncias — nem para estabelecer um preço para o acesso das empresas ao conhecimento tradicional dessas comunidades, comumente carentes de serviços básicos.

Desde então, a Natura passou de quatro comunidades fornecedores para três dezenas, impactando mais de 3.000 famílias em 30 municípios e gerando, nos últimos seis anos mais de 1 bilhão de reais em negócios para a região amazônica. A empresa já incorporou duas dezenas de ativos vegetais da Amazônia a seus produtos, como a priprioca, o patuá e a Ucuuba.

A companhia define regras claras de exploração para seus fornecedores. Elas levam em conta os diferentes ciclos da biodiversidade — e, com base neles, limites são estabelecidos para garantir a disponibilidade da matéria-prima no longo prazo. É o caso da colheita da ucuuba, árvore sob risco de extinção. Só 60% das sementes podem ser recolhidas. O restante é deixado para que os animais espalhem naturalmente.

A preocupação com a sustentabilidade fez com que a companhia acumulasse prêmios e reconhecimentos mundo afora, como a empresa sustentável do ano de 2017 do Guia Exame de Sustentabilidade.

A compra da britânica The Body Shop, em julho de 2017, por 1 bilhão de euros, reforçou a preocupação da empresa com sustentabilidade. A aquisição também tem um aspecto quase filosófico. Assim como a Natura, a The Body Shop sempre investiu na sustentabilidade como parte indissociável de seu negócio.

A compra de insumos para suas fábricas é uma das frentes de preocupação da Natura com sustentabilidade. É algo que está presente em decisões como a escolha dos móveis de madeira 100% certificada que decoram a nova sede da companhia em São Paulo, inaugurada em 2017.

Todos os perfumes da companhia levam álcool orgânico. O descarte das embalagens também se tornou outra preocupação constante. A empresa foi pioneira no setor de cosméticos ao colocar no mercado de refis de seus produtos ainda nos anos 80. Em 2010, começou a substituir o polietileno convencional, substância presente na maioria dos plásticos, por polietileno verde, feito com cana-de-açúcar, fonte renovável e menos danosa ao meio ambiente.

A compra da Avon traz o maior desafio para a causa sustentável da Natura em sua história. Mas também oferece uma oportunidade única de fazer da priprioca e da ucuuba matérias-primas desejadas por consumidores mundo afora – tudo isso ajudando a manter a Amazônia de pé.

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