Ricardo Almeida, da Netafim: queremos ser a terceira maior operação da Netafim no mundo em cinco anos (Netafim/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 8 de setembro de 2023 às 08h01.
Última atualização em 11 de setembro de 2023 às 09h50.
O nome Netafim é desconhecido para a maioria dos brasileiros, assim como é o mercado em que atua. Mas os benefícios do serviço que presta estão cada vez mais presentes nas mesas por aqui. A empresa é líder no setor de irrigação de precisão por gotejamento, feita a partir de mangueiras enterradas ou posicionadas ao ar livre para que a água chegue ao ambiente mais adequado para as plantas.
Nos últimos dois anos, o Brasil se tornou um dos principais mercados para o negócio, presente em mais de 100 países. A empresa foi criada no Kibbutz Hatzerim, em Israel, na década de 1960 por 200 famílias de colonos com o objetivo de driblar o árido clima do país.
Em 2018, 80% da operação foi adquirida pela Orbia, uma holding mexicana que reúne negócios diversos como construção e arquitetura, conectividade e soluções de polímeros. O grupo faturou 9,6 bilhões de dólares no ano passado, 11% com a Netafim.
Ela está por aqui há 30 anos, desde os anos 1990 opera mais na faixa leste do mapa, do nordeste ao sul, principalmente em projetos para a produção de hortaliças, legumes, frutas e ainda café e cana-de-açúcar.
Mas é a movimentação para o interior do país há 2 anos, com foco nos cultivos de soja e milho, que tem colocado a operação local entre as cinco maiores do mundo. A nova atuação levou a empresa a estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e ao oeste baiano e já representa cerca de 20% do faturamento.
A expectativa é de que em cinco anos a divisão responda por metade e posicione o Brasil entre os três maiores mercados globalmente. Atualmente, o país está atrás de:
A nova unidade levou cerca de 10 anos para ser colocada de pé, os estudos começaram por volta de 2010.“Como é um sistema que vai aterrado, nós tivemos que pesquisar muito para desenvolver o espaçamento, a profundidade e testar a durabilidade e eficiência para garantir a escala”, afirma Ricardo Almeida, presidente da Netafim para o Brasil desde o início de 2020.
“Quando você vai para grãos, você até três safras por ano, o que significa que a cada quatro ou cinco meses você colhe e planta de novo - muda de cultura. E é um mercado muito intensivo no uso de máquinas. Então, tem que ter uma tecnologia que permita fazer tudo isso”.
O executivo conta que a demanda pela tecnologia no setor de grãos surgiu dos próprios agricultores. À medida que a irrigação com pivô, uma tecnologia concorrente à de gotejamento com dispositivos que distribuem água em círculos ganhou espaço nessas culturas, os produtores começaram a reclamar e dizer que o modelo deixava umas “esquinas” secas nas plantações. Isto é, por ser uma estrutura giratório, deixava os cantos sem ser irrigados.
Nos últimos anos, com as incertezas climáticas e inconstância entre os períodos de seca e chuva, os pedidos por soluções só aumentaram. “Cada vez mais, eles estão enxergando na irrigação uma forma de neutralizar este fator de risco”, diz. O momento também coincide com a procura dos produtores por aumentar a produtividade de áreas agrícolas.
Segundo dados de mercado, uma plantação irrigada de café pode possibilitar que a colheita aumente de 25 sacas por hectare para algo entre 40 a 50. Em grãos, considerando uma região como o cerrado que costuma enfrentar períodos prolongados de estiagem, pode marcar a diferença entre ter um ou não uma terceira safra no ano, além de contribuir para elevar a produção nas duas primeiras colheitas.
Para entrar no novo setor, a israelense começou, literalmente, comendo pelas beiradas, sem propor uma disputa entre tecnologias. Como muitos agricultores já usam o pivô, a tecnologia do gotejamento entra para complementar para fechar “as esquinas”. Claro, essa é apenas uma vertente na estratégia. A principal é conduzir cada vez mais projetos integrais, com o gotejamento dominando a área.
Com o bom retorno, o movimento é combinado à ampliação dos recursos para suportar o crescimento da divisão. A Netafim está colocando R$ 30 milhões em investimentos nos próximos 36 meses para desenvolver tecnologias, a partir de imagens de satélites, que automatizem e facilitem a criação de projetos para os produtores rurais, para ganhar em agilidade e escala.
Neste ano, já desembolsou outros 10 milhões de reais para reforçar a fábrica em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, e aumentar a capacidade de produção das mangueiras. Neste caso, os investimentos alimentam as duas unidades de negócio. Apesar do ritmo mais expressivo da nova operação, a mais tradicional também avança.
Desde o fim de 2020, o faturamento total da Netafim no Brasil cresceu 2,5 vezes. A empresa não abre os números da operação local. Globalmente, a receita foi de 1,1 bilhão de dólares.
Além da abertura de uma via de oportunidade com o mercado de grãos, a expansão nos resultados da empresa reflete novos processos aplicados pela nova gestão, na cadeira de comando desde 2020. Entre eles:
Este processo de diversificação ganhou mais um capítulo, projetos de irrigação por assinatura destinados aos setores de citricultura e cana-de-açúcar. O modelo, à moda Netflix, permite que o produtor contrate a instalação de um projeto de irrigação e todo o serviço seja administrado pela Netafim.
“É mais para essas culturas de alto valor e que estão muito verticalizadas, em indústrias. Muitas vezes o foco da indústria é produzir o suco de laranja, o açúcar, mas não tem a agricultura como foco da empresa. Então, a gente entra como fornecedor”, diz. Lançado há mais de 18 meses, a iniciativa acabou de entregar o primeiro projeto para a Citrosuco, maior produtora de suco de laranja processada do mundo.