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Da Redação
Publicado em 26 de abril de 2011 às 19h26.
São Paulo – Em março do ano passado, uma loja de carros nos Estados Unidos foi vítima de uma “brincadeira” de mau gosto. Um ex-funcionário acionou o sistema usado pela companhia para desligar remotamente os carros dos clientes inadimplentes e deixou mais de 100 carros parados sem motivo aparente. Depois de investigar o incidente, a companhia descobriu que aquilo se tratava de uma vingança de um homem furioso por ter sido demitido.
Apesar de ser um caso extremo, essa história mostra que, se não for administrada corretamente, a raiva pode provocar consequências para lá de indesejáveis. Antes que a situação culmine em vingança, retaliação ou até problemas de saúde causados pelo estresse, é possível que gestores e funcionários adotem uma atitude diferente diante desse sentimento “negativo”, mas que pode mudar para melhor a forma como todos se relacionam.
Razão e emoção
É isso o que garante Vera Martins, diretora da Assertiva Consultores e autora do livro Tenha Calma!. Segundo ela, a razão, tão superestimada nas companhias, não é sempre a saída para transformar a raiva em algo bom. “Não adianta negar emoções como a raiva”, afirma Vera. Segundo ela, quanto mais se nega esses sentimentos, mais eles se acumulam, até que a pessoa exploda. E são exatamente essas reações repentinas e impensadas que podem causar os maiores estragos dentro da empresa.
O profissional que está no limite precisa fazer o dever de casa, e procurar as causas de seu incômodo. Mas o gestor também precisa entrar em campo para evitar, sobretudo, que explosões ocorram. “Um bom gestor de pessoas cuida não só do comportamento produtivo do colaborador, mas também de suas emoções, crenças e valores. É um filtro das toxinas organizacionais”, diz a consultora.
Para expurgar essas toxinas, os gestores devem saber ouvir as reclamações da equipe, levar o assunto a sério e criar um diálogo sobre essa raiva – dele e dos outros. A partir da conversa transparente, o gestor terá condições de ver se a raiva tem fundamento e o que é possível fazer para acabar de vez com os ressentimentos e impedir que se criem barreiras no ambiente de trabalho.
Engolir sapo ou explodir
Aparentemente fácil na teoria, lidar com a raiva esbarra na visão negativa que nossa cultura tem sobre esse sentimento e nas complicadas questões de hierarquia e ego. Dentro de uma empresa, mais do que em outros ambientes, os funcionários costumam ter medo de entrar em conflito com chefes, mesmo quando a raiva tem motivos concretos e justos.
Mesmo assim, Vera Martins afirma que “engolir sapo” e “explodir” podem ter consequências ruins para a carreira, para a saúde e para a produtividade dos funcionários. “Tanto é ruim calar por medo ou explodir em fúria”, diz Vera. O certo, segundo a consultora, é contar até dez, entender os motivos que o tiraram do sério, e escolher um momento melhor para expor a situação que está incomodando.
Se a hierarquia está no meio, o melhor é usar a empatia e se ver no lugar do outro, tentar compreender suas ações e entrar na sintonia do outro. Quando estiver no momento certo, o cuidado deve ser maior na linguagem usada. Nada de acusar ou acuar o interlocutor. O melhor é explicar quais as situações que causaram o incômodo, negociar e não demonstrar que aquilo é uma crítica direta à pessoa. Esses princípios valem também para as pessoas que, independentemente do cargo, têm o ego inflado e só saem da defensiva quando não estão sendo confrontadas.
Saber a hora certa de falar é fundamental para manter um clima positivo na empresa e evitar que a raiva provoque má vontade ou rancores, mas, se o profissional perceber que o diálogo está fora de cogitação dentro da empresa, Vera não dá falsas esperanças. “Tem chefe que simplesmente não vale a pena. Aí, o profissional tem que tomar a decisão se quer ou não continuar lá”. Sempre, claro, sem perder a cabeça.