Marcus Teles, CEO da Livraria Leitura: “As pessoas ainda leem muito. Jovens alugam ônibus inteiros para ir a Bienais. Livros devocionais geram filas enormes. Há muita oportunidade” (Alexandre Resende/Nitro)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de março de 2025 às 08h50.
O mercado de livros no Brasil viveu dias difíceis nos últimos anos. A gigante Saraiva quebrou, e a Cultura, outra enorme do setor, reduziu drasticamente de tamanho depois de uma recuperação judicial. Não bastasse isso, o número de leitores caiu e o e-commerce ganhou espaço.
Mas, enquanto muitas livrarias encolheram ou fecharam as portas, uma rede mineira fez o caminho oposto: expandiu, faturou e virou a maior do país.
A Leitura, fundada em Belo Horizonte, já tem 121 lojas espalhadas pelo Brasil e fechou 2024 com 770 milhões de reais em receita. O segredo? Não depender só de livros, entender o público e crescer com pé no chão. “Existe uma disputa de tempo. As pessoas estão lendo muito mais WhatsApp e redes sociais”, afirma Marcus Teles, presidente da Leitura.
Agora, a rede se prepara para um novo salto, com mais lojas e a meta de chegar perto do primeiro bilhão de reais em faturamento.
Tudo começou em 1967, quando os primos Emídio e Lúcio Teles abriram um sebo na Galeria Ouvidor, no centro de Belo Horizonte.
O nome original era "Lê", uma referência às iniciais dos fundadores. O negócio cresceu e, nos anos 1980, Marcus Teles, irmão de Emídio, entrou na operação. Hoje, ele comanda a maior livraria do país.
O grande salto veio em 1998, com a primeira megastore no BH Shopping. Dois anos depois, a Leitura saiu de Minas e abriu a primeira loja em Brasília.
Uma das grandes sacadas da rede foi apostar em um modelo de sócio-gerente, parecido com o que Outback e Coco Bambu fazem na área de restaurantes. Quem assume uma unidade vira dono de uma parte do negócio e cuida da operação no dia a dia. Hoje, 70% das lojas funcionam assim.
“Se o dono da loja está ali, ele percebe o que o público quer. Se for uma loja perto de faculdade, pode trazer mais livros didáticos. O resultado? As vendas sobem”, afirma Teles.
O que diferencia a Leitura de outras redes que não sobreviveram? Alguns fatores:
Mesmo depois de dobrar de tamanho desde 2018, a Leitura ainda vê espaço para crescer. Para 2025, a meta é abrir pelo menos mais 10 lojas e vender 12 milhões de livros, 1 milhão a mais que no ano passado.
O grande desafio será encontrar novos pontos estratégicos, já que os espaços deixados pela Saraiva praticamente se esgotaram. Além disso, a disputa pela atenção do público segue forte. Mas Teles está otimista:
“As pessoas ainda leem muito. Jovens alugam ônibus inteiros para ir a Bienais. Livros devocionais geram filas enormes. Há muita oportunidade”, diz o CEO da Leitura.
Se continuar nessa toada, a rede pode chegar perto do primeiro bilhão de reais em faturamento em breve. E, em um mercado que já viu tantos tombos, a Leitura segue provando que, para quem sabe inovar, sempre há um novo capítulo pela frente.