Bianca Hulmann, da B.Hulmann: “O mundo inteiro está interessado em cabelos naturais" (B.Hulmann/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 6 de fevereiro de 2024 às 13h28.
Última atualização em 6 de fevereiro de 2024 às 14h39.
Há pouco mais de dez anos, uma pessoa com cabelos cacheados, ondulados ou crespos tinha dificuldade para encontrar um salão de beleza e cuidar das madeixas, a não ser que fosse para fazer alisamento. Esse tratamento, porém, além de caro, usava produtos químicos fortes e até prejudiciais à saúde.
De lá para cá, as coisas mudaram. Uma pesquisa feita pela Opinion Box durante a pandemia indica que nove em cada dez brasileiros que se declaram negros observam que existe hoje uma variedade maior no mercado de cabelos cacheados do que cinco há anos. Nos salões, começaram a surgir especialistas nesse tipo de cabelo. Na indústria, marcas tradicionais passaram a lançar produtos para ondulados — e outras empresas novas surgiram focando nesse tipo de público.
Quem vivenciou de perto essa revolução toda nos cabelos brasileiros foi a empresária e cabeleireira paulista Bianca Hulmann. Hoje com 28 anos, ela corta cabelos desde os 13, quando fez um curso de corte de cabelo em sua cidade natal, Salto, no interior de São Paulo.
Sentindo a mudança no perfil da clientela, ela mesma passou por uma transição capilar e assumiu os cachos. Para além disso, fez dos cabelos ondulados seu negócio.
Hoje, Bianca comanda uma empresa que conta com salão de corte de cabelo específico para cacheadas, cursos para cabeleireiros e uma linha de produtos para esse tipo de corte. Além disso, é um sucesso nas redes sociais, dando dicas para cuidar da cabeleira. Só no Instagram, são quase 900 mil seguidores.
Com esse universo inteiro de negócios, Bianca atingiu R$ 16 milhões em receitas em 2023 e planeja faturar no mínimo o dobro para 2024. Não à toa, é reconhecida como a “rainha dos cachos”.
Nascida em Salto, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, Bianca começou a trabalhar cedo. Aos 11 anos, fez um curso de webdesigner e passou a ajudar o pai, chaveiro, a desenhar carimbos — outro produto que ele vendia.
Uma de suas clientes era uma mulher cuja filha tinha a mesma idade que Bianca. Foi essa mulher que incentivou as duas — Bianca e sua filha — a entrarem num curso de cabeleireiras, até para terem outra ocupação no tempo livre.
“Comecei a fazer o curso, me interessei e passei a atender as clientes nas casas delas”, diz Bianca. “Aos 16, me emancipei e abri meu primeiro salão. Usei um dinheiro que tinha guardado de outra empreitada que fiz. Eu comprava coisas no eBay e revendia no Brasil, e com o que me sobrava, guardei para abrir o salão”.
Essa loja virtual, aliás, também era um grande sucesso. O foco era a venda de roupas para pessoas emo. Bianca chegou até a ser itgirl na Capricho, a revista para garotas que bombava na época.
“Aos 18 anos, engravidei e desisti da loja de revenda, focando só no salão”, afirma. “Também decidi fechar o salão e abri-lo na garagem de minha casa, que pagava com o dinheiro da loja e dos cortes de cabelo. Mas o meu relacionamento não deu certo, tive de vender o carro, não consegui pagar a casa, que quase foi leiloada. Fiquei com uma dívida de R$ 40 mil no banco”.
Bianca decidiu, então, voltar a morar com os pais e abrir um salão pequeno. Em 2016, passou a ministrar cursos para todos os tipos de cortes de cabelo, especialmente lisos e coloridos. Com isso, foi voltando a crescer. Recebeu um convite para dar aulas em São Paulo. Por ali, ficou um ano, até abrir seu salão focado em cabelos cacheados.
“Nos últimos anos, pela influência das blogueiras que passaram pela transição capilar, o setor cresceu muito”, afirma. “Eu alisei meu cabelo dos 11 aos 21 anos, e eu resolvi passar pela transição capilar, porque eu não aguentava mais fazer chapinha, não tinha profissionais para cabelos cacheados”.
Hoje, Bianca administra três empresas diferentes, todas ligadas a cabelos cacheados:
Para 2024, Bianca quer um faturamento estimado de R$ 30 milhões.
A maior aposta segue sendo na marca de produtos para cabelos cacheados. Isso porque, em abril, a empresária vai lançar a linha de xampu, condicionador e máscara, que tende a ser o carro-chefe do negócio. Até 2023, Bianca tinha um contrato de exclusividade de divulgação com uma marca estrangeira, que a impedia de lançar o kit.
“Só com esse lançamento em abril, queremos faturar R$ 7 milhões”, diz. “Mas teremos outros lançamentos ao longo do ano e também chegaremos a lojas físicas parceiras, o que impulsionará as vendas”.
Só com os produtos, Bianca quer faturar R$ 20 milhões neste ano. No salão de beleza, a expectativa também é dobrar o faturamento, atingindo R$ 8 milhões. Para isso, praticamente dobrou o número de cabeleireiras e começou a apostar em estratégias de marketing. Por fim, tem o curso, que tem um tíquete médio alto e deve manter o nível de faturamento de 2023.
Apesar de um crescimento já consistente, Bianca ainda tem alguns desafios a serem superados. O principal é o de estruturar a empresa.
“Estamos crescendo muito rápido, mas estamos ainda estruturando a empresa”, diz. “Uma rede de perfumaria entrou em contato conosco para vender nossos produtos, e não sabíamos como fazer negociação. Estamos contratando agora, mas temos dificuldade de saber quem contratar, qual tipo de profissional, isso tudo é muito novo ainda”.
Hoje, cuidam da empresa, além de Bianca na parte estratégica, sua mãe na parte administrativa e seu marido na parte de marketing. Há também quatro pessoas na expedição dos produtos, mas o time deve crescer à medida que os negócios ganham novos fôlegos. Algo eminente, já que os cabelos cacheados são tendência no mundo.
“Hoje, tenho aluna no Japão, na Austrália, na Irlanda”, diz. “O mundo inteiro está interessado em cabelos naturais, e vamos aproveitar isso para crescer”.