O uso de LLMs e IA como ferramentas para interação com clientes, elaboração de relatórios financeiros, desenvolvimento de software e análises de riscos começa a se popularizar no Brasil
Redação Exame
Publicado em 26 de junho de 2024 às 11h07.
Última atualização em 26 de junho de 2024 às 11h16.
Estamos observando uma revolução tecnológica associada com a rápida evolução da inteligência artificial (IA).
O entusiasmo gerado por essa inovação tecnológica é acompanhado por indagações a respeito dos seus impactos sobre o mercado de trabalho, a produtividade econômica e a distribuição de renda, bem como as suas implicações éticas e legais.
A IA é uma tecnologia de propósito geral (TPG). TPGs tendem a se difundir por toda a economia, estimulam inovações complementares e novos modelos de negócios.
O uso da IA vem se expandindo de forma exponencial desde a introdução de Grandes Modelos Linguísticos (Large Language Models, LLMs) como o ChatGPT da OpenAI. Dois meses após o seu lançamento, em 30/11/2022, o ChatGPT já havia alcançado 100 milhões de usuários.
O desenvolvimento de um LLM pode custar de milhões a centenas de milhões de dólares.
Os recursos computacionais, os custos de aquisição de dados, bem como o treinamento e sintonia-fina desses modelos exigem recursos financeiros e mão de obra especializada que tipicamente não estão ao alcance de PMEs. Mas cabe assinalar que mais de 24% das empresas médias no país já utilizam algum tipo de IA.
O ecossistema associado com o desenvolvimento da IA oferece várias oportunidades para empresas de porte médio.
A empresa Codex no Rio Grande do Sul (RS), por exemplo, se especializa na estruturação e governança de dados, que permitem organizar e categorizar informações de forma a viabilizar o seu uso em plataformas de IA.
No contexto das enchentes no RS, por exemplo, informações geoespaciais, utilizando imagens de satélite, recursos 3D e software para replicar digitalmente ambientes físicos, estão sendo utilizadas pela Codex e a prefeitura de Porto Alegre para identificar edificações e populações afetadas.
Algoritmos de IA podem em seguida estimar os custos da reconstrução das áreas afetadas. De forma análoga, a Codex tem utilizado IA para, com base em informações geoespaciais, identificar áreas de risco (associadas com piscinas e lotes vagos) que devem ser priorizadas no combate à dengue.
A empresa TDS no Porto Digital em Recife desenvolveu uma plataforma para colaboração estratégica (strateegia) que permite a interação entre pessoas e assistentes inteligentes (habilitados por IA) com perfis e formações diversas com o objetivo de alavancar a qualidade dos debates na plataforma.
Um exemplo dessa colaboração é ilustrado pela utilização da plataforma strateegia pela iniciativa Imagine Brasil da Fundação Dom Cabral que produziu o eBook “Inteligência Artificial e a Produtividade no Trabalho”.
O SENAI de SP vem também utilizando IA para subsidiar a tomada de decisões de empresas industriais de vários portes. Um exemplo é a utilização de dados não estruturados derivados de anúncios de vagas de empregos publicadas online.
Usando IA, o SENAI consegue identificar vagas disponíveis por região geográfica facilitando a intermediação de mão de obra, bem como análises sobre pressão salarial e turnover excessivo em profissões relevantes para empresas da região, além de identificar novos perfis profissionais na indústria.
Exemplos de uso de IA surgem também nas interações do iFood com restaurantes e supermercados. Utilizando algoritmos baseados em IA, o iFood consegue identificar situações de demandas, que não eram atendidas por restaurantes em uma determinada área. Essas informações são então disponibilizadas para os restaurantes com o objetivo de expandir oportunidades comerciais.
No caso de supermercados, o iFood observou que em muitos casos esses estabelecimentos utilizam o WhatsApp como ferramenta principal para a interação com os seus clientes. Essas interações (por exemplo, a utilização do aplicativo para a operacionalização de listas de compras de clientes), no entanto, geravam poucos resultados.
O iFood desenvolveu um algoritmo que pode ser integrado ao WhatsApp, permitindo operacionalizar listas de compras com grande eficiência a partir de históricos de compras dos clientes.
O uso da IA também está ocorrendo em associações sem fins lucrativos. Uma operadora de saúde já vem utilizando IA para identificar fraudes e má utilização de recursos. Além disso, os sistemas de IA ajudam com o desenvolvimento de uma “jurisprudência” padrão no que tange às interações com os beneficiários e com a produção de relatórios de acompanhamento de processos.
A IA também permite, a partir de dados de saúde e demográficos com base em RFV (Recência, Frequência e Valor), emitir predições sobre condições de saúde dos beneficiários, probabilidades de internações de longa permanência e de reinternação precoce após alta médica. Essas predições têm um impacto positivo nos resultados da associação.
O uso de LLMs e IA como ferramentas para interação com clientes, elaboração de relatórios financeiros, desenvolvimento de software e análises de riscos começa a se popularizar no Brasil.
Os obstáculos enfrentados por usuários de IA incluem a falta de pessoal qualificado para desenvolver, refinar e lidar com esses sistemas, a necessidade de se investir no volume, variedade e qualidade dos dados utilizados como insumos para as plataformas e os riscos associados com uma regulamentação jurídica ainda incipiente. O potencial dessa tecnologia, no entanto, é transformador e poderá impactar significativamente a economia brasileira.