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Como Abílio Diniz está transformando o futebol em um novo negócio

Equipes que começaram como projeto social do Pão de Açúcar caminham para a profissionalização - e para os lucros

Sonho: Abílio quer que Paec e Sendas sejam segundo time do coração dos brasileiros (.)

Sonho: Abílio quer que Paec e Sendas sejam segundo time do coração dos brasileiros (.)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h51.

São Paulo - O empresário Abílio Diniz não esconde que é um são-paulino fanático, capaz de censurar pelo Twitter o time e sua diretoria, quando joga mal. Mas, nos últimos anos, duas outras equipes disputam cada vez mais seu coração: o paulista Pão de Açúcar Esporte Clube (Paec) e o fluminense Sendas.

Os times do maior grupo de varejo do país disputarão, no próximo ano, uma vaga para a série A1 - a famosa primeira divisão - dos campeonatos estaduais. Mas a ambição não se limita a conquistar o direito de enfrentar, em campo, medalhões do futebol brasileiro, como o Corinthians e o Palmeiras. Os times de Abílio também lutam para se transformar em um bom negócio.

Entre infraestrutura, treinamento e ensino para os jogadores, cerca de 12 milhões de reais ao ano é aportado pelo grupo nos dois times. A estimativa é de que, ainda este ano, metade dos custos seja paga com a receita gerada pela próprias equipes. Como? Com aquilo que qualquer clube faz: venda e empréstimo de jogadores e patrocínio.

"Os clubes estão profissionalizados, prontos para atingir o equilíbrio financeiro a partir de 2014", diz Thiago Scuro, gerente geral do Pão de Açúcar Esporte Clube. Até lá, a expectativa é de os clubes estarem na primeira divisão também do Campeonato Brasileiro.

Primeiros lances

Um bom exemplo de como os times estão virando um negócio é meio-campista Paulinho, revelado pelo Paec. Aos 22 anos, o atleta tem seus direitos divididos entre o Pão de Açúcar e o banco mineiro BMG e, desde maio, está jogando no Corinthians, após uma temporada emprestado ao Bragantino. O jogador foi negociado por um milhão de reais com o clube paulista, mas a multa contratual chega a 20 milhões de euros.

"Esse valor é quanto outro clube teria de pagar, caso quisesse ter Paulinho em seu time, sem precisar negociar com o Corinthians", afirma Scuro. Caso o jogador seja vendido, 10% do valor negociado fica para o Corinthians, e o restante é dividido entre o Pão de Açúcar e o BMG. "Em um clube grande, o jogador ganha visibilidade e um maior valor de mercado, e o grupo pode ganhar com isso a longo prazo".

Veja também a galeria de fotos dos times do Pão de Açúcar.


Paulinho não é o único que está dando retorno financeiro ao Pão de Açúcar. Outros casos são o do zagueiro Bruno Uvni, que foi para o São Paulo, e o do atacante Denis, negociado com o Santos.

Jogadores emprestados para times de países estrangeiros, como Portugal, Holanda e até Finlândia, também estão na lista. "Cada contrato é firmado de uma maneira. Com clubes de fora, o comum é recebermos uma quantia pelo aluguel, e o time fica com uma opção de compra do jogador", diz Eduardo Fernandes Filho, responsável pelo marketing dos clubes de futebol do Grupo Pão de Açúcar.

Um time de negócio

Para controlar o investimento, os times do Grupo Pão de Açúcar receberam, desde sua criação, uma gestão profissionalizada - diferente da vista na maioria dos clubes do país. Metas, diretrizes e planejamento financeiro bem estabelecidos fazem parte do cotidiano da equipe, bem como cobranças semanais de Abílio.

"Os investidores sabem que o Brasil é hoje um grande celeiro de atletas, mas são características emocionais e comportamentais que fazem diferença nos jogadores - e é isso que desenvolvemos aqui, além das técnicas do esporte", afirma Scuro.

Nova cara

Se tudo der certo, é muito provável que você não veja o Paec ou o Sendas na relação de equipes da Série A do Brasileirão. Isto porque, por lei, os clubes do primeiro escalão não podem ter o nome de empresas patrocinadoras. Rebatizá-las é uma das tarefas que a diretoria terá de enfrentar.

É possível, por exemplo, que os torcedores entoem gritos de apoio ao Valente Futebol Clube. O nome, que está na lista de sugestões, é uma alusão ao pai de Diniz e fundador do Grupo Pão de Açúcar.

Outra boa razão é também evitar que os torcedores confundam o desempenho dos times com a atuação da rede. "Eventualmente, torcedores de times rivais podem cometer vandalismo em nossas lojas, e nossa intenção é fazer todos entenderem que os negócios da empresa nada têm a ver com a atuação dos nossos clubes", afirma diz Fernandes Filho.

Veja também a galeria de fotos dos times do Pão de Açúcar.


Berço social

A ideia de criar as equipes nasceu em 2003, quando Abílio decidiu lançar um projeto social vinculado ao futebol. A direção ficou por conta de José Carlos Brunoro, ex-técnico de vôlei, gestor da parceria entre Palmeiras e Parmalat de 1992 a 1997 e da carreira de Pedro Paulo Diniz, filho de Abílio, na Fórmula 1.

Naquele ano, em um espaço que seria destinado a uma loja da rede, 3,5 milhões de reais foram investidos na construção de um centro de treinamento de 51 000 metros quadrados localizado no Real Parque, com vista para a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira.

Hoje os centros de treinamentos paulista e carioca contam com cerca de 200 atletas cada um, com direito a alojamento, piscina aquecida, quadras, salas de musculação e espaço para aulas de inglês. O custeio da faculdade - todos precisam concluir, no mínimo, o ensino médio - também fica por conta do grupo. Se dispensados, os jogadores contam com uma indicação de trabalho nas lojas e departamentos do grupo.

"O sonho de Abílio é fazer com que o Paec e o Sendas sejam o segundo time do coração dos brasileiros", diz Scuro. E, de quebra, fazer da paixão pelo futebol um bom negócio para o Pão de Açúcar.

Veja também a galeria de fotos sobre os times do grupo Pão de Açúcar.

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